19/02/2010

Há cogumelos na Rua do Carmo

In Diário de Notícias (19/2/2010)
por ISALTINA PADRÃO

«Obras em futura esplanada 'metem água' em lojas. Material está a danificar-se e nascem cogumelos

"Apareçam para a semana. Talvez já tenhamos bifinhos com champignons." É assim que, ironicamente, o DN é convidado a visitar a Sapataria Aerosoles, uma das seis lojas da Rua do Carmo, em Lisboa que está a ser afectada pelas infiltrações resultantes das obras de construção do jardim suspenso junto ao Convento do Carmo.

Com a brincadeira, a funcionária remete-nos para um assunto bem sério. É que a água que desde Setembro de 2009 (início das obras) se vem infiltrando nos estabelecimentos já levou ao aparecimento de pequenos cogumelos no tecto da sapataria onde os buracos nas paredes e na cobertura até deixam entrar ratos e baratas. "Há pouco tempo dei um cocktail aqui e apareceu um rato debaixo de um prato", contou a filha dos proprietários, Maria João Miranda, lamentando os vários pares de sapatos que ficaram danificados.

Do mesmo se queixam Paulo Mateus e Mário Santos, os responsáveis pela sapataria Anabella C., onde "o material em camurça está a ficar com humidade e há muitas biqueiras a descolar". Aqui todos os dias são retirados cerca de 20 litros de água do armazém onde se encontram à volta de mil pares de sapatos. A primeira coisa que um dos responsáveis de loja faz quando chega é apanhar pedaços de tecto que caem durante a noite e inspeccionar os sapatos, um a um.

"Esta situação está a fazer-nos perder clientes. Antes demorávamos dois minutos a procurar um par de sapatos em armazém agora levamos muito mais porque há que coordenar a gambiarra com a procura do sapato", queixa-se.

De perda de clientes a loja de Ana Salazar não sofre, mas que o estabelecimento está com "um ar decadente", descreve a encarregada de loja. Teresa Duarte aponta para os enormes buracos no tecto e as vitrinas que não se podem abrir "porque a madeira inchou". Mostra a água a escorrer pelas paredes e as montras com pedaços de revestimento levantados.

Na vitrina da loja, tudo que é pele vai ficando manchado, os metais oxidam e os tecidos absorvem a humidade que todas as manhãs embacia os vidros.

O mesmo se passa na Joalharia do Carmo onde todos os dias são limpas as pratas e onde o que mais dói à colaboradora Maria Leonor Alvim é a degradação dos móveis de madeira do estilo Arte Nova. Na Luvaria Ulisses, a clientela não pára de entrar apesar da fachada e de uma montra estarem a degradar-se. A boutique Carmus foi a menos afectada mas o sócio gerente Mário Gouveia diz que o caso foi entregue ao advogado.

Os lojistas queixaram-se à autarquia logo no início, mas lamentam que até agora nada tenha sido feito, a não ser "visitas de técnicos para observar a situação". Vão reunir-se na próxima quinta-feira com assessores da CML. O DN tentou contactar a câmara, mas não foi possível.»

3 comentários:

  1. Ao ponto que estas obras já chegaram parece que o problema está bem fundamentado e, com tantas lojas afectadas, a coisa é bastante grave. Lástima que interiores da época estejam a ser destruídos e comerciantes a sofrer prejuízos.

    Por favor C.M.L....fechem as portas, fiquem do lado de dentro e....atirem as chaves ao Rio Tejo!

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  2. Anónimo12:40 p.m.

    Apoiado!!!

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  3. Anónimo3:22 p.m.

    fico triste, triste mesmo, porque amo Lisboa do fundo do meu coração.

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