In Público (2/2010)
Por Ana Henriques
«"Isto é uma tristeza, uma desilusão", comenta uma cliente. "Está frio e nem um café têm aberto". Câmara de Lisboa diz que está a "acompanhar a experiência"
A pressa com que Bruno Loução descarrega as flores que trouxe das estufas do Montijo faz imaginar um rol de clientes à espera no mercado da Ribeira, em Lisboa, disputando entre si margaridas e gerberas. Mas passados os portões do edifício centenário o cenário não podia ser mais desolador.
As bancas da fruta, do peixe e dos legumes estão já todas tapadas, que o negócio fez-se da parte da manhã, e floristas, por junto, não são mais de cinco, com a mercadoria no chão ou nuns inestéticos recipientes de plástico. Os clientes, esses, são quase tantos quantos os vendedores nesta tarde de sexta-feira. Não fossem os slows do costumeiro bailarico da terceira idade no primeiro andar e o ambiente seria ainda mais soturno.
Lurdes Madureira aconchega-se no casaco, enquanto lamenta o tempo perdido. "Moro junto à Avenida da Igreja e vim cá de propósito. Estava à espera de encontrar um verdadeiro mercado e isto é uma tristeza, uma desilusão", comenta a professora reformada. "Está frio e nem um café têm aberto para tomar qualquer coisa"."É muito fraquinho", concorda a irmã.
Há dois meses e meio, a Câmara de Lisboa decidiu reactivar a tradição da venda de flores na Ribeira, perdida há uma década, quando os produtores foram remetidos para o Mercado Abastecedor da Região de Lisboa, em Loures. Funciona às segundas e quartas de manhã e às sextas de tarde. Destinada a revitalizar todo o mercado, a iniciativa não está, porém, a correr como previsto. Três dos 16 vendedores iniciais já desistiram. Os restantes umas vezes vêm, outras não, consoante o negócio que fazem noutras paragens. "Diga-me lá, quem é que no seu perfeito juízo vem de propósito de manhã, à hora de ponta, aqui comprar flores? E depois vai levá-las para o trabalho?!". Bruno Loução defende que a venda só devia ter lugar à tarde. "Às segundas e quartas estamos aqui parados, a olhar uns para os outros", corrobora uma colega de ofício. "Assim, não dá. E não acredito muito que isto venha a melhorar". Dos magros lucros, os produtores ainda têm de retirar 100 euros para pagar a renda à câmara. Em troca não recebem sequer uma simples banca em que a mercadoria possa luzir aos olhos de quem passa. Talvez o cenário mude quando a Primavera trouxer a sua explosão de flores. Na câmara ninguém parece muito preocupado. "É uma experiência com dois meses que estamos a acompanhar", diz um porta-voz do vereador Sá Fernandes, responsável pela iniciativa.»
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É óbvio que o Mercado da Ribeira assim como está não vai longe e seguirá de depressão em depressão. Urge transformá-lo num Covent Garden. Para quando o arregaçar de mangas?
Como já de outra vez comentei, é inteiramente verdade.
ResponderEliminarNão há bancas ou expositores, é uma coisa improvisada, a maior parte da "mercadoria" no chão.
Não há a alegria própria de um local de venda de flores, que nem sobressaem, tão poucas são, perdidas num espaço imenso e nada acolhedor.
Só tardiamenete lá foi colocado um pobre e triste cartaz anunciando a que horas aquilo funciona, durante semanas NEM ISSO EXISTIA.
Enfim, o Zé no seu melhor.
Para arregaçar de mangas é preciso saber fazer alguma coisa, ter espítiro construtivo e lidar com a adversidade. Quando só se critica e se manda os outros avançar, o resultado só pode ser a reactividade.
ResponderEliminarQue tal criar-se já um "Observatório do Mercado da Ribeira"? É que o vereador agora é José Sá Fernandes e o investimento ainda pode vir a valer a pena!
Pois claro, pá, eu vou arregaçar as mangas e transformar-me em vendendor de flores!
ResponderEliminarAparece cada um!!!