In Público (22/3/2010)
Por Margarida Saavedra
«O projecto para o Largo do Rato é ponto único para a reunião de câmara de 22 de Março. É uma espada que pende há vários anos sobre a cabeça dos lisboetas e o actual executivo do PS tudo fará para que ela caia esta segunda-feira.
Para memória futura convém lembrar o acidentado percurso do processo:
Na presidência do dr. Jorge Sampaio previu-se que o espaço fronteiro à sinagoga fosse transformado num jardim, sublinhando também o fontanário do Palácio Palmela e toda a memória que aí se prende, bem como as árvores existentes nos logradouros da Rua do Salitre;
A vereadora Eduarda Napoleão aprova um projecto de arquitectura sem que os competentes serviços tenham levantado questões sobre a desvirtuada representação de elementos classificados na proximidade, de incumprimentos do PDM e do RGEU e também de titularidade, já que só posteriormente o requerente registou, por usucapião, a parcela que lhe faltava;
Foi com tranquilidade que o presidente António Costa levou a reunião de câmara a proposta de licenciamento que, por um lado, contentava o promotor e o arquitecto (que tinham integrado a comissão de honra da sua candidatura) e, por outro, assacava ao PSD o ónus da aprovação dum edifício que, ele próprio, considerou inquietante;
Mas o PSD, invocando os incumprimentos que tinham ficado omissos, recusou dar luz verde a uma construção que compromete, definitivamente, a reabilitação desta área já de si tão maltratada. À excepção do PS todas as outras forças se uniram para inviabilizar a concretização desta obra.
O processo transformou-se em causa e os lisboetas mobilizaram-se de forma pouco usual. Os episódios públicos que se seguiram estão bem presentes na memória, mas importa contar o que não foi dito:
A câmara considerou "irrelevantes" as representações "não reais" com que os elementos classificados foram representados no projecto. Questionada sobre se, daí para a frente, passava a ser lícita a incorrecta representação de peças constantes em projectos, a câmara nada respondeu;
O PSD formalizou então uma proposta que retomava o plano de Jorge Sampaio - nunca foi agendada;
As pressões sobre os que ousaram votar contra a construção intensificaram-se, culminando, no final de mandato, com uma acção de responsabilidade civil (posta contra todos aqueles que se tinham oposto ao licenciamento) no valor de 1,8 milhões de euros, invocando perdas e danos de um processo que, legalmente, pode estar ferido de nulidade.
Num tempo em que a classe política é, muitas vezes, conotada com as maiores malfeitorias, confesso que foi com um enorme orgulho que saí de uma reunião informal em que, sob a pressão do presidente, do vereador Manuel Salgado e de juristas que dramatizavam a situação, todos os vereadores que tinham votado contra se recusaram a mudar o sentido do voto. À saída, o presidente deixou escapar o comentário: "Talvez com outro PSD a coisa mude!"
Esta segunda-feira veremos...
Arquitecta, ex-vereadora pelo PSD»
Boa, vão lá fazer um Jardim "no espaço fronteiro à sinagoga" se acham que isso agrada à Comunidade Judaica!
ResponderEliminarEles a esforçarem-se por tranformar aquilo num Bunker, com um portão blindado e muros de 6 metros de altura (por sinal com um desenho depuradissímo do arqº Bak Gordon), e a malta a fazer-lhe um jardim em frente para os outros tarados lhe porem bombas.
Antes de se porem a brincar ao jardins, consultem a Comunidade Judaica e percebam que a discrição e a reclusão são um dado identitário, não são eles os adeptos do escadório-defronte-ao-templo.
E já agora, aproveitandando que (para o mal dos nossos pecados) somos um País maioritariamente católico e se dessem uma olhada para o extremo oposto do Largo, onde a Igreja da Nossa Senhora da Conceição tem um parque de estacionamento à porta, partilhado entre a Segurança Social e a Esquadra da PSP, onde um Jardim ficava mesmo a matar, não?
cumps.
f.
Não sendo a pessoa mais informada sobre o assunto, penso que a opção "discreta" da sinagoga vem de algumas limitaçõs impostas pelo Estado português aquando do desejo de construção. Salvo engano, estávamos em pleno período "salazarento" e não parecia bem Portugal acolher um "templo judeu (ou judáico)".
ResponderEliminarHoje em dia, não vejo porque é que a comunidade não veria com bons olhos um jardim contíguo ao seu local de culto.
Luís Alexandre
Quando surgiu esta proposta milagrosa de construir este mono, a Vice -Presidente da comunidade Judaica Esther Mucznik relembrou a promessa de de Jorge Sampaio quando Presidente da Câmara de rasgar um jardim em direcção ao Rato, de modo a abrir a Sinagoga à cidade e afirmou: “Agora estamos encurralados. Mais ficaremos”...
ResponderEliminarFale-se mas com conhecimento de causa se possível.
Jorge Santos Silva
No nº 59 da Av. Alexandre Herculano, próximo do Rato está uma entrada discretíssima. O terreno para edificar a Sinagoga de Lisboa "Shaaré Tikvá" (Portas da Esperança) teve de ser comprado em nome de pessoas particulares e a própria sinagoga, inaugurada em 1904, obrigatoriamente construída sem fachada para a rua, porque era proibido, ainda nessa época, a visibilidade de um templo que não fosse de religião católica.
ResponderEliminarin. http://sinagogalisboa.blogspot.com/
Epá o Salazar só tinha 15 anos em 1904, ponhma a culpa noutro... os católicos é que são intolerantes e pronto!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarConheço bem a historia da sinagoga e da obrigatoriedade da sua construção em "portas fechadas". O tempo passou, as relações ecuménicas melhoraram e não faz sentido manter encurralada a sinagoga de Lisboa. Mas mais do que isso, o que aqui está em causa é o mérito da obra, não em termos arquitectónicos que não discuto, mas de local. É um edifício interessante mas não para ali ser construído e disso espero que qualquer arquitecto descomprometido com a obra concorde.
ResponderEliminarJorge Santos Silva
Anónimo das 6:00 PM, dou a mão à palmatória.
ResponderEliminarComo começei por dizer, não era a pessoa mais informada sobre o assunto, o que se comprovou pelos quase 40 anos de erro.
Obrigado pela sua explicação e correcção :)
Já começaram a falar com o proprietário da casa que fica entre a sinagoga e o edificio em causa? tem um bonito jardim, que vai da rua do salitre á alexandre herculano, com piscina e poderá o proprietário estar interessado em oferecê-lo á comunidade judaica.
ResponderEliminaresclareça quem sabe sff:
ResponderEliminarafinal a sinagoga dá para o jardim que se quer fazer ou não?
parece uma história mal contada
LINDO!!!
ResponderEliminarEstive a ver no Google earth e o Anónimo das 11:08 AM tem toda a razão.
Vamos lá gastar o tal 1,8 Milhão de Euros para fazer um jardim para a ... casa do Tí Manel! Assim o tipo até pode impermeabilizar o logradouro e construir uma Barraca de Comes-e-Bebes!