In Jornal de Notícias (18/4/2010)
TELMA ROQUE
«Casas que já foram habitadas por Spínola correm risco de demolição
Os dois casarões de Benfica são centenários e fazem parte do Inventário Municipal de Lisboa. Já acolheram inquilinos ilustres como general Spínola ou o escritor Luiz Pacheco. Ainda assim, correm o risco de serem demolidos, por se encontrarem muito degradados.
Temendo que o peso histórico não seja argumento suficientemente forte para não apagar da freguesia o pouco que resta da construção dos finais do século XIX, a Universidade Intergeracional de Benfica e o Movimento de Cidadãos pela Preservação da Vila Ana e da Vila Ventura (assim se chamam os dois casarões) promoveram ontem uma "arruada" por Benfica para chamar a atenção para o futuro incerto daquele património arquitectónico e, ao mesmo tempo, recolher assinaturas para uma petição que pretendem entregar à Câmara de Lisboa.
Alexandra Carvalho, que faz parte do movimento de cidadãos, lembrou que a Vila Ana e a Vila Ventura, situadas na Estrada de Benfica, "são dois edifícios centenários e um dos últimos testemunhos arquitectónicos das casas apalaçadas e quintas de Benfica".
Explica que apesar de a Câmara de Lisboa já ter intimado os proprietários a fazer obras (ler texto da caixa ao lado), o movimento continua a temer pelo futuro dos dois edifícios. "Sabemos como as coisas funcionam. Vamos ver se a empresa proprietária vai mesmo fazer as obras, sendo ela uma empresa de construção e promoção imobiliária", frisou, acrescentando que, nos terrenos das traseiras das vilas, já foram construídos prédios novos.
"Seria um crime se (as vilas) desaparecessem. Falta legislação ajustada para permitir maiores intervenções. Por vezes, as autarquias estão de pés e mãos atadas, sobretudo quando se trata de propriedade privada", considerou, por sua vez, Inês Drummond, presidente da Junta de Benfica. Numa freguesia que "não tem muito património histórico, todos os resquícios devem ser preservados", acrescentou a autarca.
De chalé rico a casas modestas
As duas vilas, Ana e Ventura, foram mandadas construir por uma família portuguesa regressada do Brasil. Décadas depois, os chalés foram fragmentados por dentro, de forma a permitir o arrendamento de pequenos espaços a famílias menos abastadas.
Restam hoje três inquilinos, um dos quais com 50 anos, nascido na Vila Ventura e que, após a morte dos pais, conseguiu ali permanecer renegociando o contrato. Paga uma renda de 855 euros mensais, apesar da degradação crescente que vai minando as paredes e o telhado. »
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