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05/06/2010
Atrelado de eléctrico estacionado há 25 anos em Belém serve de apoioa motoristas da Carris e aos sem-abrigo
In Público (5/6/2010)
Por Marisa Soares
«A empresa de transportes garante que este ano o veículo vai ser transformado num bar, cuja exploração será concessionada. Até lá, a chave do cadeado continua na mão dos motoristas
Menos investimento
A porta fechada a cadeado e as janelas tapadas com cartões dão um ar de abandono ao atrelado de eléctrico estacionado no Largo dos Jerónimos, em Lisboa. Ainda assim, o veículo está há 25 anos numa das zonas da capital mais visitadas pelos turistas, entre o Mosteiro dos Jerónimos e a fábrica dos pastéis de Belém.
Até aqui, tem funcionado como abrigo para os motoristas da Carris, mas em breve poderá tornar-se mais uma fonte de rendimento para a empresa, que teve em 2009 um prejuízo de 41,5 milhões de euros.
Luís Vale, secretário-geral da Carris, disse ao PÚBLICO que o atrelado ficou no Largo dos Jerónimos a pedido dos funcionários. "É uma zona de rendição dos motoristas [dos autocarros] e dos guarda-freios [dos eléctricos], e eles pediram para usar o atrelado como abrigo, enquanto têm de esperar pelos veículos", afirmou.
Actualmente, a empresa está a analisar várias propostas para dar uma nova vocação ao velho "amarelinho". Ainda este ano, espera concessionar o espaço, que irá transformar-se num bar, mantendo também a função de abrigo para os motoristas.
Janelas tapadas com cartões
Colocado em cima de uma base metálica, debaixo de várias oliveiras, o atrelado ainda tem a tradicional cor amarela dos eléctricos de Lisboa, apenas ligeiramente descorada, talvez por estar há tantos anos fora dos carris. Não escapou, no entanto, à tinta de spray dos graffiters, que deixaram a sua marca na frente do veículo. No interior, os bancos continuam lá, mas alguns foram arrancados para dar lugar a mesas, como que a antecipar a instalação de um bar. Não faltam lâmpadas nem luz eléctrica, que chega através de um cabo ligado aos postes de iluminação pública.
"Dá para nos abrigarmos da chuva e do frio", confirmou um motorista que costuma esperar ali pelo autocarro em que vai prestar serviço. No entanto, admite que as janelas sem vidros não protegem grande coisa nos dias de Inverno mais rigorosos.
Como ele, todos os motoristas da Carris que ali iniciam as suas jornadas de trabalho têm a chave do cadeado e entram à vontade. No Inverno, quando estão cheios os restaurantes da zona, "vamos buscar comida e trazemos para aqui", explica. E não serão os únicos. "Há dias em que encontramos latas de atum ou restos de comida nas mesas e percebemos que os sem-abrigo passaram cá a noite", conta. Depois, "alguém" vem limpar. Os utilizadores nocturnos conseguem entrar sem grande esforço pelas janelas sem vidro, algumas tapadas com cartões que facilmente retiram.
Embora não esteja no roteiro turístico da cidade, o atrelado estacionado no meio do largo atrai também os turistas. "Costumam vir aqui tirar fotografias. Nós é que explicamos o que isto é", diz o motorista.»
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