Demolição de uma morada de Fernando Pessoa - Av. Casal Ribeiro, 1-13 / Rua Almirante Barroso, 2-12 - a decorrer sem um pestanejar de Lisboa.
Este prédio de rendimento foi erguido pelo cidadão Francisco Pereira de Almeida nos primeiros dias da jovem República Portuguesa. O projecto foi aprovado a 27 de Outubro de 1910. No nº 12 funcionava a Leitaria Alentejana cujo dono, o Sr. Sengo, acolheu Fernando Pessoa numa altura crítica da sua vida. Pessoa aqui viveu durante dois anos, num sótão, entre 1915 e 1916.
Desde o início de Julho que o prédio está a ser demolido. Após "profunda análise" foi decidido pela CML aprovar a demolição e proceder ao licenciamento de uma nova construção com quase o dobro de área construída. Depois de muitos anos a tentar, a empresa proprietaria (Cáfe) conseguiu o que pretendia, ou seja, degradar até ao limite o imóvel para assim fazer a clássica especulação imobiliária. De facto, durante anos a empresa abandonou o imóvel, abrindo portas, janelas - tendo até o atrevimento de iniciar a demolição ilegal da cobertura (Outubro 2007)! Depois de anos e anos à chuva e à mercê de vandalismos vários, a CML vem agora dizer que o imóvel já não é recuperável. A CML apenas se esqueceu de apurar, e penalizar, os responsáveis por esta condição de "irrecuperável". Os munícipes só podem concluir que em Lisboa o crime contra o património compensa.
Assistimos este ano a uma série de celebrações bizarras do Centenário da República. No início do ano acordamos com a destruição do prédio desenhado pelo Arq. Ventura Terra (Vereador da primeira Vereação Republicana) na Av. da República 46. Agora a CML abençoa a demolição integral deste prédio contemporâneo da implantação da República e com a mais valia de ter sido morada do poeta Fernando Pessoa. Alguém se lembra de um presidente da CML, chamado Santana Lopes, ter prometido aos lisboetas que este prédio não seria demolido? Provavelmente já poucos se lembram. E dentro de alguns meses menos lisboetas se vão lembrar deste prédio no Bairro da Estefânia que durante dois anos foi a casa de Pessoa.
Em Portugal, tudo o que tem mais de 40 anos é velho e posto de lado. Só o autoritarismo cego continua. Lamentável!
ResponderEliminarMuito bem escrito Fernando Jorge!
ResponderEliminarPara essa do "irrecuperável" é realmente necessária muita lata, "esperteza" e, falta de vergonha.
Estes prédios de gaveto dão normalmente características especiais a várias ruas e deviam por isso ser mais protegidos...mas privilégios desses não são para Lisboa.
Prédio a prédio Lisboa se descaracteriza!
ResponderEliminarUma profunda análise escrupulosamente efectuada por uma comissão de especuladores imobiliários, entenda-se.
ResponderEliminarJorge Pinto disse...
ResponderEliminarPrédio a prédio Lisboa se descaracteriza!
10:21 AM
A Lisboa de hoje não tem nada a ver com a de 1400 por exemplo. Não se descaracteriza, evolui.
... e com certeza contou com a empenhada, ainda que escondida, ajuda do Departamento de Urbanismo da nossa CML...
ResponderEliminarManter um predio podre de pé só porque lá morou um escritor entre cerca de 30 casas é ridiculo. O que é que o prédio tem de interesse para continuar? Se só lá tivessem morado medicos, canalisadores, desenhadores e motoristas o predio já não tinha interesse?
ResponderEliminarNão vejo em que é que o predio tenha ficado valorizado pelo Fernando Pessoa lá ter morado. É um predio igual aos outros todos, e chegou a um ponto em que não é viavel mantê-lo. O escritor por ser escritor tornou-se imortal? Não pois não! Então o prédio tambem não tem que ser imortal. Tivessem-se preocupado com ele quando ainda era viavel arranjá-lo, não agora que chegou a um ponto de degradação sem retorno. Que nos proximos 5 anos esteja lá um predio mais util do que os ultimos 20 anos deste.
Cada vez que consulto este blogue fico atónito. Embora nascido em Lisboa vivi durante três décadas em Braga, cidade mutilada pelas tropelias do eng. Mesquita Machado. Pensei que Lisboa com António Costa e uma vereação de outro nível cultural seria diferente. Ao fim e ao cabo a deterioração da paisagem urbana, em favor de mais valias particulares, também é a regra na capital. Batemos no fundo e iremos recuperar ou já não há esperança alguma?
ResponderEliminarCaro Xico2050,
ResponderEliminarDe facto da Lx de 1400 ainda nos restam algumas construções, mas a bem da Lx de hoje talvez não seja mal pensado fazê-las evoluir!
Mas, meu caro Xico, acho que a Lx de 1400 ainda não tinha evoluido até à Estefânia.
Imitando o padre que, há cinquenta e tal anos, nos dava as aulas de Religião e Moral, dizia ele assim:
ResponderEliminar- "Meus filhos, evitai os modernismos sem alma".
Por esta vez dou-lhe razão. Evitemos os modernismos sem alma (senão vamos parar ao Inferno, que é onde já andamos metidos, nesta Lisboa desgraçada por criminosos (uns) e patetas (outros).
"Manter um predio podre de pé só porque lá morou um escritor entre cerca de 30 casas é ridiculo. O que é que o prédio tem de interesse para continuar? Se só lá tivessem morado medicos, canalisadores, desenhadores e motoristas o predio já não tinha interesse?"
ResponderEliminarCaro Chico205,
sao estes comentarios que me deixam de cabelos em pe e me obrigam a uma intervençao por mais que me convença que nao vale a pena gastar uma caloria que seja com quem tem uma mentalidade tao retrograda, mas que pensa que a tem muito evoluida - como se enganam os tolos presumidos!
Ainda que Fernando Pessoa nao fosse Fernado Pessoa, que nao tivesse pisado o chao daquele predio, que la nao houvesse funcionado a Leitaria Alentejana ficava ainda o fortissimo argumento que o edificio que esta a ser destruido era bastante bonito e digno. Se nao houvesse mais argumentos...
Jorge Pinto disse...
ResponderEliminarCaro Xico2050,
De facto da Lx de 1400 ainda nos restam algumas construções, mas a bem da Lx de hoje talvez não seja mal pensado fazê-las evoluir!
Mas, meu caro Xico, acho que a Lx de 1400 ainda não tinha evoluido até à Estefânia.
Agradeço que me diga quais edificios de Alfama de 1400 hoje ainda estão de pé?!!!
Já que gosta de desconversar, eu digo concretamente no bairro de A L F A M A.
Há cerca de 13 anos ainda havia nesse predio em funcionamento uma taberna, cheia de bebados ao balcão e cá fora a mandar bocas ás senhoras que apanham os autocrros à porta, se é a leitaria alentejana ou não, não me lembro, mas acho que se chamava "Malmequer".
ResponderEliminarSe era essa taberna minuscula apenas com um balcão ao comprido e porca como tudo que queriam manter, acho que não se perdeu nada em ir abaixo.
Caso a leitaria alentejana fosse outra, nos anos 90 já não existia, se não existia, voces querem manter o quê?!!!! Uma ruina onde em tempos houve vidas de pessoas que hoje já não existem?
A bem das cidades, deve-se manter a urbanização compacta e o antig tem que dar lugar a novo, a isto se chama reciclagem.
Ou querem manter a cidade mais antiga toda em ruina (até que caia por si, vá lá não culpam a natureza quando isto acontece) e continuar a alastrar a cidade em estrutura "mancha de óleo" para periferias cada vez mais distantes do centro?
Se as criticas do abandono do edificio tivessem surgidos nos anos 60, 70 ou 80 tud bem, agora depois de estar devoluto á 20 anos pelo menos??!!!!!
Precisa-se de coerencia por parte de quem ande neste blog.
O meu caro Xico falou da Lx de 1400, não de Alfama. Mas se quiser fazer evoluir edifícios anteriores mesmo a 1400 em Alfama ou nas suas imdediações pode começar pela Sé e pelo Castelo!
ResponderEliminarComo se depreende destes comentários, a sensibilidade estética não é apanágio de todos e não é directamente proporcional ao grau de instrução de cada um. Acontece o mesmo com a inteligência.
ResponderEliminarQuando, como escreve Jorge Pinto, dizemos que “prédio a prédio Lisboa se descaracteriza”, queremos dizer que Lisboa vai perdendo qualidades (descaracteriza). Pode haver evolução com perda de carácter e pode haver evolução com ganho de qualidades. E nestes casos não se devem confundir “qualidades funcionais” com “qualidades inerentes ao património artístico ou histórico”.
Quando, a propósito do prédio onde viveu Fernando Pessoa, o Sr. Xico205 pergunta “Se só lá tivessem morado medicos, canalisadores, desenhadores e motoristas o predio já não tinha interesse?”, eu respondo-lhe o seguinte: Se no tal prédio tivesse morado o Sr.Xico205 ou a minha pessoa, é por demais evidente que, como referência histórico-literária, o prédio não tinha qualquer interesse. Ao dizer isto, parto do princípio que o Sr.Xico205 não é um poeta ou um escritor de reconhecido mérito, baseando-me no carácter boçal de alguns dos comentários que escreve (e nos erros de ortografia). Quanto à imortalidade de Fernando Pessoa, o Sr.Xico205 não sabia que ele é mesmo imortal?! Olhe que o espírito dele costuma andar por aí de noite. Veja bem debaixo da cama...
Bravo Raul Nobre
ResponderEliminarXico205,
ResponderEliminarfaça-nos a todos um favor e pegue nas suas ideias, dobre-as, enfie-as debaixo do braço e suma!!!
Se pensa que a cidade deve limpar a mancha de edifícios antigos, aquilo que dá carácter a uma cidade com a antiguidade de Lisboa, e substitui-los por edificações novas, daquelas de betão e vidro, iguais em falta de qualidade estética e de construção então atrevo-me a aconselhar que vá para a América do Sul. Aqui em Lisboa, enquanto houver pessoas que realmente gostam da cidade poderá gente como você encontrar feroz e constante oposição.
OBS: porque razão é que manter edificado antigo é sinónimo de degradação urbana. Será que ao fim de anos a impor-nos as suas barbaridades neste forum não perdeu uns minutos para perceber que o que queremos é a renovação do edificado! Que queremos uma cidade com personalidade, o que não deixa espaço para as caixas "passepartout" recheados de pladur, imitação de madeira, focos de luz que parece ser a sua inclinação de gosto. Vá para Caracas!
Mais um pirolito que vai nascer á custa de património e de memória da cidade; em qualquer lugar civilizado, nada disto acontecia. A falta de cultura e de sensibilidade de quem nos governa os destinos, é mais que muita.
ResponderEliminarEste país não prcisa de descobrir petróleo; já tem o fenómeno, de conseguir transformar as pedras dos seus edifícios, em pepitas de ouro...
Jorge Pinto disse...
ResponderEliminarO meu caro Xico falou da Lx de 1400, não de Alfama. Mas se quiser fazer evoluir edifícios anteriores mesmo a 1400 em Alfama ou nas suas imdediações pode começar pela Sé e pelo Castelo!
3:08 PM
Maneira que você compara um predio de habitação a uma igreja e um castelo!!! Ah se compara alhos a bugalhos então realmente não dá para argumentar consigo!!!
Sensibilidade estetica? Mas esse mamarracho é bonito aonde? O sr Raul Nobre tem que rever os seus conceitos de estetica!!! Imagino como deve ser a sua aparência!!!
ResponderEliminarGostava que me dissesse onde eu escrevi erros? Falta de letras não são erros, não tenho culpa que o teclado esteja a falhar, á vezes quando reparo já os comentarios estão aprovados.
Por acaso não sou poeta nem escritor, nem pretendo ser.
Vejam como esse predio já estava em 2001. Secalhar a alma do Fernando Pessoa está num destes individuos que aqui aparecem nas imagens à porta desse predio:
http://www.youtube.com/watch?v=dU7qS1Tpah4
Construções de 1400 (ou anteriores) que ainda existem em Alfama? Muito poucas.
ResponderEliminar- Na Rua da Judiaria, temos a parede do prédio a que pertencem as duas famosas janelas geminadas.
- No mesmo local, ainda existe uma varanda apoiada em cachorros de cantaria, assente num botaréu da muralha.
- Do lado de São João da Praça, a sul de onde ficava a Porta de Alfama, ainda existe, (dentro do prédio que hoje pertence à família Trincão), a torre que protegia a referida Porta.
- No Pátio dos Senhores de Murça, vê-se a torre sul dessa Porta e um bem conservado lanço da muralha.
- No Largo do Salvador, ainda se conserva o edifício que foi o Palácio dos Condes dos Arcos.
- No que foi o Palácio dos Condes de Linhares, conserva-se o túnel que liga à Sé e que está aproveitado como garrafeira.
- A torre de São Pedro, que foi prisão e onde esteve detido até à morte um dos conspiradores do atentado a D. João ll
- E é claro que são de referir todos os lanços da Cerca Moura e da Cerca Fernandina que escaparam ao camartelo dos vigaristas, criminosos, patetas e ignorantes.
Provavelmente existirão ainda outras construções que desconheço.
No Pátio dos Senhores de Murça fica a torre norte e não a torre sul, como escrevi por engano
ResponderEliminartodas as realidades patrimonais devem ter direito a existir na cidade historica consolidada. o bairro da estefania deve ser considerado um bairro historico do sec. XIX e como tal predios como este merecem tanto respeito como qualquer outro mais antigo.
ResponderEliminarContam-se pelos dedos os predios do sec. XIX ainda existentes na Estefania.
ResponderEliminarEste predio é do sec. XX.
Jorge Pinto disse...
ResponderEliminarO meu caro Xico falou da Lx de 1400, não de Alfama. Mas se quiser fazer evoluir edifícios anteriores mesmo a 1400 em Alfama ou nas suas imdediações pode começar pela Sé e pelo Castelo!
3:08 PM
Em resposta ao "inteligente" que disse que em 1400 não havia Esefania!
Acho muito curioso que apenas em Portugal seja impossivel reabilitar estas estruturas! Quem afirma isso? Ao servico de quem afirmam isso? Alarmante estarmos a perder estes predios de gaveto, como alguem aqui ja disse.
ResponderEliminarEstá totalmente equivocado, Fernando Pessoa não morou, apenas fez uma referência onde se encontrava num verso.
ResponderEliminarA fundação Fernando Pessoa considerou não haver problema nem nada que justifique a conservação deste prédio.
O prédio já se encontrava degradado há muitos anos antes de se pensar sequer em avançar com o projecto.