Guimarães, Património Mundial e futura Capital Europeia da Cultura
Comecemos por comparar estes dois comentários no Cidadania Lx:
“Anónimo disse...
Os edifícios que necessitam de reabilitação são na sua grande maioria os edifícios nos centros históricos, e portanto são aqueles que muitas das vezes têm rendas mais antigas, e nas quais os senhorios não têm forma ou dinheiro para a sua recuperação.
Porquê da necessidade de reabilitação? Todos temos consciência do valor patrimonial do centro histórico, e esse valor é o do seu conjunto.
A titulo de exemplo (exemplo real na zona do castelo): Quando um senhorio, aceita arrendar com o acordo de fazer obras é compreensível, simplesmente deixou ao critério do seu inquilino. Este, destruiu os tectos antigos com perto de 250 anos substituídos por pladur, e os belíssimos frescos das paredes, as portas antigas, já para não invocar a substituição de janelas de guilhotina, portadas de carvalho, etc.
Todo o material foi recolhido por gente que sabe, e portanto não era lixo.
Esta descaracterização dos edifícios antigos destroi o nosso património, descaracteriza aos poucos a nossa cidade.
É fundamental, que as Unidades de Projecto ou Gabinetes Tecnicos, dêem apoio a estes senhorios, inquilinos e comerciantes destas zonas. Tal como na justiça existe um advogado oficioso quando não existe recursos. Não se trata de trabalho Pro Bono, pois os técnicos são pagos pela autarquia, que tem a obrigação de defender o património da cidade.
Todas as obras em centros históricos deveriam ter um técnico deslocado para essa obra, nuns casos responsável e a conduzir todo o processo e noutros como conselheiro e consultor, não permitindo grandes gestos ou contrastes que os descaracterizam.
Esta forma obriga exige de quem chefia estes gabinetes de uma fiscalização correcta e um elevado reconhecimento do valor patrimonial de Lisboa em todo o seu conjunto habitacional.
A desresponsabilidade e discricionalidade não pode continuar.”
“Luís Alexandre disse...
Por norma, a lei não obriga ao licenciamento de obras dentro das fracções.
De certo modo, ainda bem que é assim, caso contrário, muitos mais prédios cairiam em Lisboa, porque os atrasos no licenciamento de obras, por parte da CML são absurdamente exagerado.
Quanto à fiscalização, era a mesmissíma coisa. Já sabemos que a CML não fiscaliza nada.”
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Estes dois comentários ilustram o dilema entre a necessidade imperativa da defesa dos Valores Culturais e do Património, únicos capazes de salvaguardar a Autenticidade e a Identidade da Arquitectura Histórica e o tecido Urbano, e , a urgência do desafio da Reabilitação Urbana perante um aparelho camarário saturado de funcionários, em número excessivo, com pareceres técnicos muitas vezes contraditórios e inibidores da execução do processo. Desenvolvendo assim portanto uma “cacofonia” contraditória, que inibe e auto-anula a dinâmica de decisão e a capacidade de execução … ( Apesar da qualidade técnica indiscutível e empenhamento de muitos funcionários das Unidades da C.M.L. nos Bairros Históricos, bem patente nas intervenções de verdadeiro Restauro, nestes Bairros - é preciso separar 'o trigo do joio' )
O mundo do Imobiliário está em “pânico” … Depois de uma actividade de ritmo de produção desenfreado, e muitas vezes sem qualquer tipo de planeamento ou atenção para o Ordenamento do Território … o Mercado saturou e ruiu, tal “castelo de cartas”… Agora, os apelos em direcção a uma fatia de mercado que é vista como última esperança,a Reabilitação Urbana, multiplicam-se.
Ora, nós sabemos que embora tenha sido feito um esforço para uma certa especialização técnica, e alguma consciência Patrimonial, naturalmente este mercado pensa em termos de rentabilidade e de transformação dos interiores através de um emparcelamento rentável e adaptado às exigências da clientela.
Nesta área é possível um equilíbrio entre a manutenção das características fundamentais, a nível dos materiais e tipologias, dos interiores e a sua adaptação.
As exigências nesta área cabem aos técnicos competentes … mas por outro lado, como conquistar o respeito dos Promotores e tranquilizá-los em relação aos prazos determinados pelos seus investimentos, se o aparelho camarário não funciona, se auto-entope e demonstra quase uma indiferença em relação às ansiedades dos promotores e investidores ?
Só é possível desenvolver Pedagogia, a nivel dos Valores Patrimoniais, exigir a defesa e salvaguarda desses mesmos Valores, quando a nossa Autoridade Cultural é aceite por um respeito baseado na eficácia e eficiência.
É portanto necessária uma Reforma do Aparelho Camarário … e do seu funcionamento nesta área …
Por outro lado, apesar do estado deplorável do nosso Centro Histórico, muitas vezes ilustrado neste blog, o interesse das populações em habitar o mesmo Centro cresce, e a intensidade de visitas do Turismo Internacional tem vindo a crescer …
Isto deixa-nos com uma responsabilidade acrescida, pois ao vermos isto numa perspectiva de prestigio Internacional, a nossa imagem neste momento de crise económica profunda já de si muito abalada, passa a ser confirmada por todos estes visitantes internacionais … pelo estado deplorável do nosso Centro Histórico em Lisboa, ilustrativo do nível da nossa auto-estima e capacidade de realização.
Mas é precisamente no detalhe de qualidade da Reabilitação que vamos ser comparados, para além da quantidade … uma coisa não exclui a outra … embora nos queiram fazer ( com falso pragmatismo) acreditar o contrário …
Despeço-me, pedindo-lhes que “visitem” estas imagens da nossa Guimarães, classificada como Património Mundial e futura Capital Europeia da Cultura, e reabilitada a um nível Internacional de qualidade e as imagens de Ouro Preto, no Brasil
Saudações.
OURO PRETO
O CH de Guimarães, foi das poucas iniciativas de sucesso em termos de reabilitação já feitas no nosso país. Foi em outro tempo e em outro contexto e foi com aplicação de alguns milhares de contos a maioria deles provenientes de fontes públicas.
ResponderEliminarA existência de um GTL provavelmente composto por gente sabedoura e com conhecimento e experiência, também ajudou. E muito!
No entanto passaram-se os tais 20/30 anos de euforia especulativa, que incentivou a destruição do património edificado mais antigo e a desertificação dos centros históricos ou centros urbanos.
Entretanto, estamos em 2010, em pleno turbilhão de uma crise que uns insistem em dizer que é internacional e que nos apanhou porque o mundo mudou de um dia para o outro.
A verdade é que a reabilitação do edificado e a regeneração dos centros históricos ou centros urbanos - porque deixámos chegar ao estado em que estamos - só se fará à conta de investimentos avultados e de âmbito local, para potenciar a criação de uma conjuntura micro económica mais animada e menos deprimida. No entanto, a verdade actual é que não há dinheiro para a reabilitação e para a regeneração e o OE 2011 ainda vai agravar mais essa situação.
Os pequenos proprietários não a podem fazer, pelos motivos históricos que já são conhecidos de todos, agravados pelo "congelamento" da concessão de crédito por parte da banca, o que paralisou todos os parcos apoios existentes para o efeito.
Os governos (centrais, regionais e locais), os grandes responsáveis pela morte dos centros históricos ou urbanos (em cumplicidade com os construtores e o sector financeiro), vão produzindo cartas de intenções, com muita teoria, mas pouca utilidade prática.
Somos talvez o país com uma das maiores produções legislativas em termos de ordenamento do território e reabilitação urbana, mas não só não pomos em prática nem 1% do que se pretende em teoria, como fazemos exactamente o contrário daquilo que legislamos e, na maioria das vezes os prevaricadores são entes públicos.
(continua, por motivos de dimensão)
(continuação)
ResponderEliminarO Estado anda há 3 anos para reformular os caducos diplomas do RECRIA, REHABITA, SOLARH e RECRIPH, mas parece que já arquivou o assunto. Se já antes, o IHRU e as Câmaras tinham de se endividar para pagar as comparticipações, e mesmo assim, era um processo demorado, o que não acontecerá agora que já não se conseguem endividar porque a fonte secou e a austeridade veio para ficar.
Eu não tenho grande dúvida que o destino de muitos prédios velhos será esperar pela morte dos seus inquilinos (os tais das rendas antigas), o que com sorte acontece antes de ruirem. Depois, depois logo se vê.
Felizmente que agora a causa ganhou novos aliados de peso, os construtores. Já saturaram o mercado da construção, já não conseguem vender os milhões de fogos com que entupiram os suburbios do país, pelo que agora acordaram para a temática da reabilitação. O problema é que se esvaziaram cidades já equipadas, infraestruturadas e com soluções de mobilidade, para se criar novas cidades (que muitos políticos e arquitectos gostam de chamar "novas centralidades"), que tiveram de ser infraestruturadas e equipadas, gastando muitos milhões de euros ao país.
O problema é que se comprometeu a mobilidade das pessoas, porque agora 70/80% da população está agrilhoada a uma dívida muitas vezes superior ao valor de mercado da casa que lhe está associada.
O problema é que por terem saido dos centros urbanos a nova mobilidade ficou inevitavelmente associado ao uso do automóvel, pelo que o estado gastou milhares de milhoes de euros a fazer auto-estradas para devolver a mobilidade às pessoas.
O problema é que as 300.000 pessoas que nos últimos 30 anos sairam de Lisboa para os concelhos limítrofes nunca mais voltarão à capital. O máximo que a CML poderá fazer é estancar a sangria e impedir que continuem a sair os cerca de 10.000 habitantes/ano, mas não o conseguirá com a cidade no estado em que está, suja, insegura, com os passeios ocupados pelos carros e com o espaço público desordenado e sem ser planeado para as pessoas.
É preciso investir na reabilitação urbana, juntando os proprietários, os inquilinos, estado, as empresas da fileira do imobiliário, os bancos e o comércio local.
É preciso estudar novas formas de financiamento e novas formas de parcerias (incluindo sempre o pequeno proprietário), utilizar soluções financeiras criativas e inovadoras, explorando por exemplo, o potencial das energias renováveis.
É preciso que o estado reprograme os seus parcos recursos. Quanto dinheiro dos quadros comunitários não poderia ter sido canalizado para co-financiar operações de reabilitação do edificado público e privado e regeneração dos centros históricos, ao invés de se estar a financiar centenas de equipamentos colectivos iguais em cada freguesia do país, como se a população que por cá anda utilizasse esses equipamentos todos.
Andou-se este tempo todo a desbaratar o maior património do país; o solo, a troco de poder, influência, votos e muito dinheiro desviado aos cofres públicos.
Serão precisos 50/60 anos para compensar tanta porcaria, mas seria preciso começar hoje. Amanhã já será tarde.
Olhando para algumas das caixilharias novas, alguns dos exemplos aqui deixados de Guimarães são simplesmente maus.
ResponderEliminarSerão os construtores que agora se querem virar para a reabilitação que irão resolver o problema de competências e, esse "saber como" bastante delicado que anda normalmente no fio-da-navalha?
Uma viragem em massa das construtoras para o mercado de reabilitação, sem regras de jogo bem definidas e arbitradas irá terminar em sucesso?
Quanto à CML que nos governa, continua a anos de luz de (boas) competências para reabilitação de zonas históricas.
Já leram o "Relatório de Ponderação da Participação na Discussão Pública do Plano de Pormenor de Salvaguarda da Baixa Pombalina", no que diz respeito à demolição de obras ilegais (que devem ser às centenas, senão milhares) e, entre muitas lavagens de mãos este exemplo é bastante elucidativo:
"No que refere à retirada de coberturas ilegais e outros elementos dissonantes compete aos particulares a situação de legalidade dos seus edifícios".
Portanto...as borradas já feitas estão para ficar e, alguém acredita que nesta realidade existente haverá conhecimento e vontade para nova reabilitação consciente e cuidadosa?
Lisboa precisa é de habitação em boas condições. Se há algo que Lisboa não precisa com certeza são prédios antigos para serem renovados com técnicas antiquadas e caras. E não precisa com certeza de gastar destacar mais dinheiro em técnicos da câmara para este tipo de programas.
ResponderEliminarNão há dinheiro para isto. Há prioridades, acordem!
Se este homem se queixa do centro histórico de Guimarães, como é que não se há de queixar de tudo o resto?!!!
ResponderEliminarQue vida infeliz que deve ter. Graças a Deus não sou esquisito nem um revoltado da sociedade.
É por querer fazer tudo na perfeição e à espera de que se conjugem todos os factores favoráveis, que acaba por não se fazer nada.
ResponderEliminarPensando bem, talvez tenha sido esse o sentido do desabafo do MS.
Caro Julio Amorim:
ResponderEliminarÀs 6:59 AM disse: "Olhando para algumas das caixilharias novas, alguns dos exemplos aqui deixados de Guimarães são simplesmente maus."
Podia ser mais específico, tipo na foto tal a tal janela a contar da esquerda... é que olhei atentamente para estas imagens e os caixilhos perecem-me irrepreensíveis.
cumps.
f.
Eu referia-me ao Julio Amorim. Até porque quando escrevi o meu comentario não estava publicado o do Filipe.
ResponderEliminarCaro Luis A.
ResponderEliminarClaro que é isso que Manuel Salgado quer dizer....vamo-nos contentar com menos. As boas práticas de conservação e restauro são para outros povos...porquê ?
Caro F.
Fotografia de André Almeida, edifício da direita, primeiro e segundo andar....parece-me que os caixilhos gritam uPVC ?
Exactamente por isso, o meu amigo está tão chocado com a utilização de pvc nas janelas dos prédios do CH de Guimarães, que se esqueceu de apreciar o resto, que é belíssimo.
ResponderEliminarEstive recentemente em Munique, que fica numa região da Alemanha onde o peso da reabilitação representa cerca de 55% das obras realizadas.
Nas minhas andanças pela cidade (e fui expressamente com a intenção de verificar o nível de degradação e abandono das casas), contei apenas 3 prédios com aspecto abandonado (um dos quais entaipado). Por toda a cidade está tudo reabilitado e habitado.
Não vi nem um cartaz a anunciar venda ou arrendamento.
Vi muitos prédios antigos com janelas de alumínio/pvc, outros com janelas de madeira e não achei que a harmonia da cidade ficasse beliscada por esse facto.
Faça então o mesmo exercício na Gamla Stan de Stockholm, ou no centro de Amsterdam e diga-me quantas janelas de uPVC é que encontrou. E porque razão será?
ResponderEliminarPorque os responsáveis por essas zonas históricas não sabem o que estão a fazer?
Uma das maneiras mais eficazes de adulterar/falsificar edificado histórico é a substituição dos materiais de origem por outros.
Janelas de plástico, um reboco de poliuretano bem disfarçado, cobertura de chapa a imitar telha...um edifício, uma rua, um bairro, um adeus à cidade histórica ?
Não se preocupe com o PVC, pois tal como todos os materiais um dia passará a "histórico". Se ouvíssemos os velhos do restelo, nem sequer a madeira e a pedra teriam sido introduzidas.\
ResponderEliminarFilipe Melo Sousa disse...
ResponderEliminarNão se preocupe com o PVC, pois tal como todos os materiais um dia passará a "histórico". Se ouvíssemos os velhos do restelo, nem sequer a madeira e a pedra teriam sido introduzidas.\
6:13 PM
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Aqui está uma grande verdade. Sumada à grande verdade do Luis Alexandre.
Só o Filipe é que não passa à história...
ResponderEliminarCaro Julio Amorim:
ResponderEliminarOlhei com atenção para a tal: "Fotografia de André Almeida, edifício da direita, primeiro e segundo andar..."
Não é comum ver caixilhos de PVC com secções tão largas e muito menos com as "travessas" entre os vidros (não sei se é este o nome técnico) sem serem uma barrita patética. Posto isto, parece-me se é de um PVC que se trata... deve ser um bom PVC.
De resto devo dizer, vejo um prato de parabólica e alguns fios de telefone descaídos das fachada tipo "Hong-Kong"... fora isso adorava ver a minha Lisboa (ou pelo menos parte dela) neste estado...
Com ou sem PVC!
cumps.
f.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro F.
ResponderEliminarBom plástico ou uPVC em fachadas deste tipo...não existe.
Mas concordo consigo...o que se vê nas imagens, fica a anos de luz de Lisboa.
Quando aponto o dedo a "maus exemplos", é simplesmente porque não deveriam existir em zonas desta dignidade.