Apesar dos pedidos de cidadãos para iniciar, com carácter de urgência, a classificação deste conjunto, e apesar do óbvio carácter excepcional deste conjunto patrimonial, tudo foi arquivado e assim o IGESPAR lavou as suas mãos, como Pilatos. Sem protecção legal, os imóveis estão actualmente a sofrer obras que muito provavelmente irão fazer mais mal do que bem ao património da cidade.
O primeiro imóvel do séc. XX a ser classificado em França foi o Tèatre des Champs-Elysées (1913, Auguste Perret) que recebeu oficialmente a sua classificação em Agosto de 1957. Nesse mesmo ano a primeira lista de imóveis "modernos" foi submetida à Commission Supèrieure des Monuments Historiques. Esta pioneira lista incluia apenas a área de Paris / Seine que estava mais sujeita a pressões imobiliárias. Mas em 1963 foi elaborada uma segunda lista de "monumentos" construídos de 1830 até ao presente. Nesta fase inicial de reconhecimento estatal do património mais recente foram tomadas algumas decisões absurdas. No caso dos imóveis do Movimento Moderno, por exemplo, apenas as suas fachadas foram classificadas. Naturalmente a França já não faz estes disparates - ainda tão em voga em Portugal - e a legislação de salvaguarda do património evoluiu. A lei do património em França é sem dúvida uma das mais desenvolvidas do mundo. Actualmente existem em França mais de 1000 (mil) edifícios do séc. XX efectivamente classificados. A lista continua a aumentar porque, e ao contrário da opinião de algumas chefias do IGESPAR, os franceses não pensam que têm demasiado património classificado...
Em Portugal, apenas no início da década de 80 do séc. XX se inaugurou a classificação, tímida, de imóveis do Movimento Moderno - o Capitólio (1925-1931, Luís Cristino da Silva) em Lisboa foi um dos primeiros a receber decreto de protecção, no dia 24 de Janeiro de 1983. Desde esta data que a classificação do património do séc. XX se tem desenvolvido, mas a passo de caracol pois neste final da primeira década do séc. XXI muitas obras primas da arquitectura nacional continuam à espera do devido reconhecimento e protecção do Estado português. Nesta espera demorada, alguns imóveis já foram demolidos (Cine-Teatro Monumental) e muitos outros foram alterados para além do aceitável. Haverá futuro para o património arquitectonico do séc. XX em Portugal? Se a demolição frenética da Arquitectura do séc. XIX pode ser considerada uma antevisão do destino para o séc. XX, estaremos então numa rota catastrófica.
Pois, pois....bem oportuno este lembrete Fernando Jorge.
ResponderEliminarTambém acredito que o modernismo de Lisboa está na lista de espera para o camartelo, não se tratando somente de edifícios isolados, senão de conjuntos/bairros inteiros que deveriam já estar protegidos.
Aliás, o exemplo do Capitólio diz tudo sobre o estado das coisas. Um edifício protegido há 27 anos....naquela estado?
Há que divulgar urgentemente os valores da época modernista e, aqui, o Cidadania LX pode/deve desempenhar um papel importante.
Pois... Paris... Lisboa... "ligeiras" diferenças. Mas em Portugal nem a classificação impede as adulterações criminosas de património. O que fizeram ao Eden do Cassiano é um triste exemplo. Não só o que fizeram à fachada. Daquele magnífico interior só se salvou a escadaria. Um crime. E o Eden está classificado...
ResponderEliminarEstá enganada. A classificação abrange apenas a escadaria. Por isso ela resistiu e la está fechada, totalmente abandonada e o mais suja e cheia de lixo que pode haver. Espreite pela porta e verá
ResponderEliminarO que está classificado é o "Teatro Éden". E na descrição do objeto classificado não vejo qualquer restrição à escadaria.
ResponderEliminarDe qualquer modo, o estado atual da escadaria é um exemplo daquilo que escrevi: nem a classificação chega...