Um blogue do Movimento Fórum Cidadania Lisboa, que se destina a aplaudir, apupar, acusar, propor e dissertar sobre tudo quanto se passe de bom e de mau na nossa capital, tendo como única preocupação uma Lisboa pelos lisboetas e para os lisboetas. Prometemos não gastar um cêntimo do erário público em campanhas, nem dizer mal por dizer. Lisboa tem mais uma voz. Junte-se a nós!
02/11/2010
Ou o fruto a ficar podre...?
imagens roubadas no Lisboa S.O.S. .
Com tanta gente desempregada....não estará mesmo na hora de restaurar este belíssimo palacete de uma maneira exemplar ?
Quem não gostaria de ver ali uma "reabilitação exemplar", mas infelizmente o custo de uma reabilitação exemplar de imóveis como aquele será certamente superior ao da construção de um prédio em novo. Além disso, o solo em Lisboa é alvo de grande especulação, tornando a simples aquisição de um imóvel daqueles num investimento avultado e de dificil retorno. Esse é o grande dilema da reabilitação urbana em Portugal.
Com um programa especial de apoio a conservadores-restauradores - outros especialistas desempregados e, poupando o que é de qualidade, uma boa conservação seria muito mais barata que qualquer construção nova (pois essa nunca iria ficar pelo primeiro andar). Estratégia muito usada, noutras paragens...em tempos de crise (uma alternativa a subsídios de desemprego que não produzem absolutamente nada). Mas claro..se a especulação é que manda, vamos ficar com os monumentos nacionais e, o resto, toca a andar. Que rico futuro....
Caro Júlio, deixe-me perguntar-lhe de onde viria o dinheiro para esse programa especial? O Estado de uma forma geral e todas as entidades que o integram têm um grande passivo moral e sentimento de culpa em relação a estas questões, porque foram eles os grandes impulsionadores da miséria urbanistica que existe nas nossas cidades. Primeiro com o congelamento das rendas e com uma lei de arrendamento que transforma os senhorios em santas casas e depois com o abrir de pernas aos construtores civis, em finais da década de 80, através dos contratos de construção a custos controlados, regimes bonificados e violações cegas e sistemáticas aos PDM's. Como não assumem as suas culpas, porque as devidas compensações custariam milhares de milhões de euros (e porque os políticos nunca assumem as burradas que fazem), demitiram-se completamente da sua função fiscalizadora e de promotora do ordenamento e harmonia urbanos. Há dias, numa conferência, ouvi o MS referir que a CML não tem dinheiro para intervir no seu próprio edificado, quanto mais no edificado privado, pelo que não tem condições morais e financeiras para actuar coercivamente. Na minha modesta e humilde opinião, actualmente, só com a canalização de fundos comunitários (do QREN, por exemplo) para a reabilitação urbana é que se poderia construir um programa de apoio em que fossem introduzidos critérios de qualidade e de harmonia estética e urbanística. Nem precisaria ser sob a forma de subsídio a fundo perdido (um péssimo habito), bastaria jogar com prazos de reembolso alargados, bonificações de juros e eventuais prémios pecuniários para iniciativas de excelência. Não esquecendo que actualmente existem bonificações e benefícios fiscais à substituição de elementos de isolamento (janelas), que acabam por incentivar a utilização de materiais novos em detrimento dos antigos, mas penso que dai não vem grande mal ao mundo.
Em Portugal não tenho ideia de onde possa vir o dinheiro. Em casos que conheço de outros países, o dinheiro vem de fundos estatais cujo objectivo é "lubrificar" o mercado de trabalho em tempos de recessão.
Durante a crise entre 1991-1994, muitos edifícios na Suécia foram recuperados desta maneira, ou seja, por mão-de-obra que poderia ter ficado no sofá a receber subsídio de desemprego.
Quanto à "utilização de materiais novos em detrimento dos antigos, mas penso que dai não vem grande mal ao mundo" não poderíamos estar em maior desacordo.... Se conseguir encontrar um texto em cartas internacionais de conservação e restauro que apoie esse "modus operandi" em zonas históricas, eu ficaria bastante surpreendido.
Este palacete tem uma história recente cheia de peripécias: propriedade de um privado que assim o vai deixando degradar-se, tem apenas um inquilino, na figura do Instituto de Beleza Helena Rubinstein, cujos responsáveis por várias vezes têm pedido à CML ajuda no sentido da toma administrativa do imóvel, obras coercivas e apresentação da factura ao proprietário. No mandado de Carmona Rodrigues, verdade seja dita, a posse administrativa esteve por um fio. Acho, realmente, que é pelas Avenidas Novas que deve começar a reabilitação coerciva pela CML, porque é aqui que está a especulação imobiliária, é aqui que há apartamentos devolutos com fartura para serem habitados, é aqui que ainda é possível ter qualidade de vida em Lisboa.
Caros, Da boca do próprio MS ouvi que a CML não tem dinheiro para reabilitar o que é seu, muito menos o que é de terceiros. A posse administrativa atiraria sobre a CML o ónus de reabilitar, o que para quem não tem dinheiro, não é opção viável. Além disso, conheço processos de posse administrativa que se arrastam há muitos anos (por exemplo, o Nº 10 da Rua dos Anjos, que ruiu em Dezembro de 1995). Ao abrigo do regime jurídico da reabilitação urbana, a CML até pode declarar a "venda forçada do imóvel", no entanto, é preciso que exista um plano integrado de reabilitação/regeneração urbana (com intervenção no edificado e espaço público), que haja comprador e que este pague o justo valor que o proprietário tem direito a receber. Não adianta de nada andarmos enganados e nostalgicos, a reabilitação urbana (porque deixámos as coisas chegarem ao estado em que chegaram) faz-se com dinheiro e no Portugal do pré-FMI não há dinheiro para a reabilitação. A solução é baixar os braços? Nunca, mas é preciso pôr os neurónios a funcionar e encontrar novas idéias e alternativas, mesmo que estas desvirtuem um pouco os manuais de boas práticas, pois caso contrário o cenário num futuro próximo será verdadeiramente negro. E olhem que eu até sou optimista !!!
As poucas frases que escrevi no post, eram exactamente "novas" ideias, ou seja: quem não trabalha e recebe, poderia trabalhar e receber um bocadinho mais por um tempo limitado (novas situações, novas soluções?). E o campo da conservação e restauro é propício para este esquema porque, os custos de mão-de-obra são sempre elevados mas, os custos de material são na maioria dos casos quase ridículos. E, coloco a cabeça na guilhotina que, poucos seriam os profissionais da área desempregados que não aderissem a tal sistema em tempos de crise (pelo menos poder-se-ia usar este tipo de solução para monumentos, edifícios classificados, etc.) Porque, parece-me, que os recursos mais que escassos que até aqui existiram, dificilmente aumentarão substancialmente nas próximas décadas? E, aí, já pode ser bem tarde para por os neurónios a funcionar.... Portanto, a ideia de "reencaminhar" dinheiros que de todas as maneiras têm que existir, poderia até trazer mais valias para toda a sociedade.
A minha formação é na área financeira, e só por isso, não tenho conhecimentos para contestar alguns aspectos mais técnicos que muitas vezes são aqui abordados. No entanto, dada a minha modesta experiência do ponto de vista financeiro(experiência pessoal e profissional), permita-me que questione sempre de onde virá o dinheiro necessário. Não há dúvida que a reabilitação/regeneração urbana seria um grande impulsionador da economia a uma escala local, o que potenciaria muito maior valor acrescentado para o país do que TGV's e SCUT's, devido à utilização de mão-de-obra e de empresas locais. Só que, devido à nossa natural inércia, agravada com a crise económica e financeira que vivemos, o financiamento bancário ficou mais difícil, o mercado imobiliário menos apetecível e o espírito empreendedor mais adormecido. Desde o início do ano passado que tenho andado a estudar formas alternativas de financiamento para a reabilitação urbana com base no potencial energético das cidades e do seu edificado. É preciso encontrar motivos económicos que despertem o interesse na reabilitação feita pelos pequenos proprietários, porque estes não têm capacidade financeira para a sustentar. Enquanto não se apoiar os pequenos proprietários, a única alternativa de reabilitação possível é aquela feita por grandes promotores e é essa, a que mais desvirtua a cidade. No caso da foto, se tivesse havido um bom programa de (verdadeiro) apoio ao(s) proprietário(s), provavelmente o edificio já teria sido reabilitado mantendo a sua traça e estrutura original. Como vai ser vendido a um grande promotor, certamente só será rentável com um aumento de cércea, para compensar o preço proibitivo associado ao solo onde está implantado.
Tem razão..sem apoio financeiro para os proprietários, fica tudo na mesma (a piorar) especialmente, este tipo de edificado que requer intervenções muito mais qualificadas. Pois é aí que o Estado poderia intervir, financiando parte do custo desta mão-de-obra, desviando em tempos de crise...os tais subsídios de desemprego.
A quem pertence? Quem paga o restauro?
ResponderEliminarQuem não gostaria de ver ali uma "reabilitação exemplar", mas infelizmente o custo de uma reabilitação exemplar de imóveis como aquele será certamente superior ao da construção de um prédio em novo. Além disso, o solo em Lisboa é alvo de grande especulação, tornando a simples aquisição de um imóvel daqueles num investimento avultado e de dificil retorno.
ResponderEliminarEsse é o grande dilema da reabilitação urbana em Portugal.
Com um programa especial de apoio a conservadores-restauradores - outros especialistas desempregados e, poupando o que é de qualidade, uma boa conservação seria muito mais barata que qualquer construção nova (pois essa nunca iria ficar pelo primeiro andar). Estratégia muito usada, noutras paragens...em tempos de crise
ResponderEliminar(uma alternativa a subsídios de desemprego que não produzem absolutamente nada).
Mas claro..se a especulação é que manda, vamos ficar com os monumentos nacionais e, o resto, toca a andar.
Que rico futuro....
Caro Júlio, deixe-me perguntar-lhe de onde viria o dinheiro para esse programa especial?
ResponderEliminarO Estado de uma forma geral e todas as entidades que o integram têm um grande passivo moral e sentimento de culpa em relação a estas questões, porque foram eles os grandes impulsionadores da miséria urbanistica que existe nas nossas cidades. Primeiro com o congelamento das rendas e com uma lei de arrendamento que transforma os senhorios em santas casas e depois com o abrir de pernas aos construtores civis, em finais da década de 80, através dos contratos de construção a custos controlados, regimes bonificados e violações cegas e sistemáticas aos PDM's.
Como não assumem as suas culpas, porque as devidas compensações custariam milhares de milhões de euros (e porque os políticos nunca assumem as burradas que fazem), demitiram-se completamente da sua função fiscalizadora e de promotora do ordenamento e harmonia urbanos.
Há dias, numa conferência, ouvi o MS referir que a CML não tem dinheiro para intervir no seu próprio edificado, quanto mais no edificado privado, pelo que não tem condições morais e financeiras para actuar coercivamente.
Na minha modesta e humilde opinião, actualmente, só com a canalização de fundos comunitários (do QREN, por exemplo) para a reabilitação urbana é que se poderia construir um programa de apoio em que fossem introduzidos critérios de qualidade e de harmonia estética e urbanística. Nem precisaria ser sob a forma de subsídio a fundo perdido (um péssimo habito), bastaria jogar com prazos de reembolso alargados, bonificações de juros e eventuais prémios pecuniários para iniciativas de excelência.
Não esquecendo que actualmente existem bonificações e benefícios fiscais à substituição de elementos de isolamento (janelas), que acabam por incentivar a utilização de materiais novos em detrimento dos antigos, mas penso que dai não vem grande mal ao mundo.
Em Portugal não tenho ideia de onde possa vir o dinheiro. Em casos que conheço de outros países, o dinheiro vem de fundos estatais cujo objectivo é "lubrificar" o mercado de trabalho em tempos de recessão.
ResponderEliminarDurante a crise entre 1991-1994, muitos edifícios na Suécia foram recuperados desta maneira, ou seja, por mão-de-obra que poderia ter ficado no sofá a receber subsídio de desemprego.
Quanto à "utilização de materiais novos em detrimento dos antigos, mas penso que dai não vem grande mal ao mundo" não poderíamos estar em maior desacordo....
Se conseguir encontrar um texto em cartas internacionais de conservação e restauro que apoie esse "modus operandi" em zonas históricas, eu ficaria bastante surpreendido.
Este palacete tem uma história recente cheia de peripécias: propriedade de um privado que assim o vai deixando degradar-se, tem apenas um inquilino, na figura do Instituto de Beleza Helena Rubinstein, cujos responsáveis por várias vezes têm pedido à CML ajuda no sentido da toma administrativa do imóvel, obras coercivas e apresentação da factura ao proprietário. No mandado de Carmona Rodrigues, verdade seja dita, a posse administrativa esteve por um fio. Acho, realmente, que é pelas Avenidas Novas que deve começar a reabilitação coerciva pela CML, porque é aqui que está a especulação imobiliária, é aqui que há apartamentos devolutos com fartura para serem habitados, é aqui que ainda é possível ter qualidade de vida em Lisboa.
ResponderEliminarCaros,
ResponderEliminarDa boca do próprio MS ouvi que a CML não tem dinheiro para reabilitar o que é seu, muito menos o que é de terceiros.
A posse administrativa atiraria sobre a CML o ónus de reabilitar, o que para quem não tem dinheiro, não é opção viável.
Além disso, conheço processos de posse administrativa que se arrastam há muitos anos (por exemplo, o Nº 10 da Rua dos Anjos, que ruiu em Dezembro de 1995).
Ao abrigo do regime jurídico da reabilitação urbana, a CML até pode declarar a "venda forçada do imóvel", no entanto, é preciso que exista um plano integrado de reabilitação/regeneração urbana (com intervenção no edificado e espaço público), que haja comprador e que este pague o justo valor que o proprietário tem direito a receber.
Não adianta de nada andarmos enganados e nostalgicos, a reabilitação urbana (porque deixámos as coisas chegarem ao estado em que chegaram) faz-se com dinheiro e no Portugal do pré-FMI não há dinheiro para a reabilitação.
A solução é baixar os braços? Nunca, mas é preciso pôr os neurónios a funcionar e encontrar novas idéias e alternativas, mesmo que estas desvirtuem um pouco os manuais de boas práticas, pois caso contrário o cenário num futuro próximo será verdadeiramente negro. E olhem que eu até sou optimista !!!
Caro Luís..
ResponderEliminarAs poucas frases que escrevi no post, eram exactamente "novas" ideias, ou seja: quem não trabalha e recebe, poderia trabalhar e receber um bocadinho mais por um tempo limitado (novas situações, novas soluções?).
E o campo da conservação e restauro é propício para este esquema porque, os custos de mão-de-obra são sempre elevados mas, os custos de material são na maioria dos casos quase ridículos.
E, coloco a cabeça na guilhotina que, poucos seriam os profissionais da área desempregados que não aderissem a tal sistema em tempos de crise (pelo menos poder-se-ia usar este tipo de solução para monumentos, edifícios classificados, etc.) Porque, parece-me, que os recursos mais que escassos que até aqui existiram, dificilmente aumentarão substancialmente nas próximas décadas? E, aí, já pode ser bem tarde para por os neurónios a funcionar....
Portanto, a ideia de "reencaminhar" dinheiros que de todas as maneiras têm que existir, poderia até trazer mais valias para toda a sociedade.
Caro Julio,
ResponderEliminarA minha formação é na área financeira, e só por isso, não tenho conhecimentos para contestar alguns aspectos mais técnicos que muitas vezes são aqui abordados.
No entanto, dada a minha modesta experiência do ponto de vista financeiro(experiência pessoal e profissional), permita-me que questione sempre de onde virá o dinheiro necessário.
Não há dúvida que a reabilitação/regeneração urbana seria um grande impulsionador da economia a uma escala local, o que potenciaria muito maior valor acrescentado para o país do que TGV's e SCUT's, devido à utilização de mão-de-obra e de empresas locais.
Só que, devido à nossa natural inércia, agravada com a crise económica e financeira que vivemos, o financiamento bancário ficou mais difícil, o mercado imobiliário menos apetecível e o espírito empreendedor mais adormecido.
Desde o início do ano passado que tenho andado a estudar formas alternativas de financiamento para a reabilitação urbana com base no potencial energético das cidades e do seu edificado.
É preciso encontrar motivos económicos que despertem o interesse na reabilitação feita pelos pequenos proprietários, porque estes não têm capacidade financeira para a sustentar. Enquanto não se apoiar os pequenos proprietários, a única alternativa de reabilitação possível é aquela feita por grandes promotores e é essa, a que mais desvirtua a cidade.
No caso da foto, se tivesse havido um bom programa de (verdadeiro) apoio ao(s) proprietário(s), provavelmente o edificio já teria sido reabilitado mantendo a sua traça e estrutura original. Como vai ser vendido a um grande promotor, certamente só será rentável com um aumento de cércea, para compensar o preço proibitivo associado ao solo onde está implantado.
Tem razão..sem apoio financeiro para os proprietários, fica tudo na mesma (a piorar) especialmente, este tipo de edificado que requer intervenções muito mais qualificadas. Pois é aí que o Estado poderia intervir, financiando parte do custo desta mão-de-obra, desviando em tempos de crise...os tais subsídios de desemprego.
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