Um Ano de Bicicleta na Cidade
Fez este mês de Março um ano que comecei a usar diariamente a bicicleta como meio de transporte. Tudo começou, devo confessar, por um inconfessável gosto de andar de bicicleta. Pouco ou nada tem a ver com ativismos ou sentimentos ecológicos extremados. Sei que existem esses benefícios todos, mas a principal motivação é relativa ao meu estilo de vida e não ao do planeta. Li blogs, artigos, simulei percursos, testei percursos, segui com muita atenção a experiência dos 100 dias na Cidade do Paulo Guerra (que defende, e com razão, que Lisboa é um Planalto e as Sete colinas são um “mito”). Ouvi falar da Bicicletada / Massa Crítica e andei às voltas com os relatos internacionais “contra” a Licra (o ciclista todo-desportista), a velocidade dos 19km/h, os movimentos “The Beauty & the Bike”. Tudo serviu de inspiração para acreditar que o meu gosto poderia converter-se em prática diária. E assim foi.
Passado um ano, foram 6.500 km de enorme prazer a disfrutar a belíssima cidade de Lisboa. Isto com apenas 6 furos, 1 queda (buraco, seguido de carril com geada), 2 grandes molhas – uma das quais com rajadas de 70km/h, temperaturas de 4 graus a 40 graus (não no mesmo dia...) – tudo feito num percurso entre o Restelo e o Parque das Nações, na maioria dos casos feito pela ciclovia de Belém-Cais do Sodré (junto ao rio) e na via de cintura Interna do Porto de Lisboa. Em alternativa – dependendo de onde tenho de me deslocar, atravesso o parque de Monsanto e vou para sítios como Sete Rios, Entre Campos, Praça de Espanha ou Av. do Brasil. Uma parte do ano, no regresso, fui subindo à zona das Torres do Restelo (um declive de 10%), mas mais recentemente cabe-me a tarefa matinal de deixar as filhas na Escola e por isso o carro fica a aguardar o meu regresso junto ao CCB, em Belém.
Tudo isto, como calculam, é feito a céu aberto, com impermeável GoreTEX (calças, casaco e gorro), mochila pequena ou mala para a dianteira do guiador). Comigo atualmente transporto o magnífico Apple MacBook Air 11,6” (com uma capa estanque para mapas da SILVA); e mais recentemente uma máquina de filmar (Sony HDR CX160) para começar a recolher imagens da cidade.
Um dos principais desafios deste meio de transporte é, como já desconfiam, o calor e o suor... Para isso desenvolvi algumas táticas que passo a explicar: uso uma T-shirt de algodão e o GoreTEX. Mesmo com 4 graus. Qualquer casaco, malha ou polar, vai dar mau resultado (calor, calor, calor). Levo comigo uma camisa (daquelas para trabalhos em escritório com Ar Condicionado o ano inteiro) dentro da mala, meticulosamente dobrada para não perder o seu equilíbrio estético padrão. No escritório visto a camisa, depois de esperar uns 2 minutos, não mais, entre estacionar e chegar ao local da muda. O suor, assim, não ataca tão forte. Mesmo nos dias mais quentes. Ah, claro. Quando estou a 2km do destino abrando a marcha e desfruto mais a paisagem. A minha velocidade média “histórica” ronda os tais 19km/h, como em todas as cidades da Europa.
Para este tipo de transporte escolhi as bicicletas de dobrar. A decisão certa para as minhas necessidades diárias. Estas bicicletas não têm menos performance que as outras. Custa a acreditar, mas é verdade. A que uso mais é uma Brompton, uma bicleta clássica Inglesa (fabricada em Londres) com uma roda de 16” mas também uso duas Dahon (uma MU SL com pneu liso de 20” – que pesa apneas 8,5kg! - e uma JETSTREAM EX adaptada com pneus fora de estrada de 20”). A Brompton é a mais compacta e por isso totalmente aceite em qualquer local público, incluindo os autocarros; mas também em lojas, centro comerciais ou outros espaços públicos. As bicicletas de dobrar têm, em meu entender, uma enorme vantagem para esta utilização diária: sempre que precisamos de uma boleia... a bicicleta cabe na mala de qualquer carro! Isso faz uma ENORME diferença para o dia a dia, dando-me toda a flexibilidade para me deslocar com os meus colegas e família, depois de uma jornada. A bicicleta nunca foi um embaraço.
Também nunca foi embaraço o trânsito automóvel. Quanto aos condutores, como sabem estes dividem-se entre os que são profissionais (condutores de Autocarros, Taxis e camiões) e os não profissionais (todos nós). Dos profissionais (todos) uma enorme e agradável surpresa: nem um incidente ou sequer uma história para contar, para além da enorme simpatia e extremoso cuidado (de todos, sem exceção. Sim, incluídos os Taxistas). Os mais amáveis são mesmos os condutores da Carris (notem que diariamente os ciclistas de Lisboa usam as faixas do BUS – não é permitido mas é civicamente tolerado; como aliás se passa com as bicicletas nos passeios). Depois há os condutores não profissionais. Desses, 95% são uns amabilíssimos pacatos cidadãos: pacientes e extremosos, como os profissionais. Restam os 5%... metade destes têm BMW X6 e aceleram, fazem razias e apitam, a outra metade, aceleram, fazem razias e apitam, mas não têm BMW X6.
Como conclusão: Lisboa é de facto uma cidade fantástica para ver e passear todos os dias. O tempo que passo a pedalar diariamente (quase 2 horas) é – para mim – muito mais bem passado do que no ginásio e na 2ª Circular. Quando o tempo melhora até dá tempo para passear pela Baixa (que não visitava regularmente há anos); encontrar amigos na rua ou simplesmente observar - com tempo - o que me rodeia. E notem que, pelo menos de 3 em 3 km é possível abastecer com minis frescas.
Não a qualquer hora.
Concordo quase na totalidade. Ando regularmente de bicicleta por Lisboa desde 2007 e partilho praticamente da mesma opinião, apenas com uma diferença. Até agora os automobilistas que menos me respeitaram e puseram em causa a minha segurança tinham TODOS veiculos de luxo. Desde uma velha com ar de tia da Lapa que me fez uma tangente em plena rotunda do Marquês de Pombal, ao Porshe que ontem me fez o mesmo na Rua João Vilaret, ao Mercedes SLK AMG que na Sexta Feira me buzinou na Ribeira das Naus como quem diz, sai da frente que estás a empatar o transito... mas como ainda não inventaram bicicletas voadoras mais não posso fazer e com as tampas das sargetas todas desniveladas tambem não posso andar o mais à direita possivel. Aproveitou uma nesga e ultrapassou-me e quase que me tocava com o espelho. Quando cheguei ao semaforo ainda ele lá estava, e eu passei...
ResponderEliminarOs taxis são os mais respeitadores de facto seguindo os autocarros e camiões mas mais pelo medo de atropelar, principalmente com os eixos traseiros, mas no entanto os motoristas destes veiculos são muito respeitadores.
Quanto a furos, com a bicicleta que tenho desde o Natal e que já rodou à volta de dois mil e quinhentos quilometros ainda não tive nenhum apesar de ás vezes mandar pancadas fortes a subir passeios e nos buracos das estradas e piso irregular, mas com as duas anteriores era todas as semanas.
Obrigada por compartilhar este ano de experiência. E desmitificar a cidade das 7 colinas.
ResponderEliminarAbraços.
Debora Midori
http://naterradosbulesquebabam.blogspot.com/
Obrigado também por partilhar a experiência. Sistemáticamente, em várias cidades em que não era habitual verem-se bicicletas a circular, a "moda" só pegou à custa de alguns pioneiros, que aos poucos vão arrastando mais e mais pessoas.
ResponderEliminarPara quem está no autocarro ou veículo particular parado no transito, é muito fácil pensar "aquilo parece divertido" quando uma bicileta pára sem parar.
Eu assisti a este fenómeno na cidade de Londres e a mudança de uma cidade onde se viam poucas bicicletas, para além dos estafetas, para uma onde se tornou um meio de transporte comum, foi muito rápida.
Os meus parabéns a estes pioneiros!
Obrigado, obrigado!
ResponderEliminarEu comecei em 2008, nunca caí furei talvez uma vez e passei de 80kg de peso a 68kg. Poupei milhares de euros e passei a conhecer e viver verdadeiramente a fantástica cidade que é Lisboa.
ResponderEliminarNão uso nenhuma roupa ou equipamento especial e se tiver que usar roupa mais formal só não costumo coloca gravata.
Só não experimenta quem não quer...
Mas dizer que é tudo muito facil tambem não é tanto assim. Circular atras de veiculos a gasóleo que carburam mal é bastante complicado, o ar torna-se irrespiravel.
ResponderEliminarHá certas ruas que custam muito. A Av Ant Aug Aguiar por exemplo. Não tem nenhuma inclinação por aí alem mas custa-me imenso andar nesta avenida. Penso que seja devido ao ar.
Andar atras de taxis velhos e autocarros custa.
Andar de bicicleta sai caro até agora já furei varias vezes os pneus, já tive que substituir um pedal que se partiu, já tive que substituir uma corrente que se partiu, já tive que substituir o aro da pedaleira, já tive que afinar varias vezes os travões e a direção e mudar as porcas e parafusos que com o tempo ficam com folga, etc... já gastei muito dinheiro em manutenção. Não fica assim tão barato quanto isso.
Já me fartei de apanhar molhas, o pior é mesmo a água salpicada das rodas que suja a roupa toda.
Nos dias em que tenho que andar apresentavel não ando de bicicleta porque mesmo a andar devagar transpiro e chegar a uma reunião com a roupa toda molhada colada ao corpo...
Bem... bem... parece-me o relato do dono do liboncyclechic não?
ResponderEliminarPedalar em Lisboa é fácil. Difícil são alguns condutores e aqui discordo: há taxistas e carros velhos muito mal humorados. E muitos dos sustos que levei eram de carros com suportes de bicicleta no tejadilho! Até já tive um electrico a buzinar porque eu estava à direita dele... Eu fiquei estupecfacta a pensar se ele ia sair dos carris para me atropelar...
Mas não desisto e só gostava de ver um piso mais simpático :) O atravessamento do Terriro do Paço junto aos cais das colunas já está num estado lastimável :(
e estes são os meus 50cts sobre este assunto.
CC
Olá Corina,não é do dono do blg que diz, é de uma pessoa conhecida,amigo de um amigo que decidiu partilhar a sua experiência.
ResponderEliminarTambém acho que ainda há muitos condutores muito mal educados, como dizou como diz o chico que refere também o fumo dos automóveis e as tampas de esgoto desniveladas que são uma autentica armadilha,a juntar a outras, também para quem circula de moto.Há também o problema de um código de estrada absolutamente desactualizado.
Mas à parte de todos os problemas o que aqui importa é que este utilizador não teve com meias medidas, foi para a frente e fez a sua escolha que me parece francamente positiva, necessária e desmistificadora.
Obrigado e cumprimentos
A.lourenço... e é uma grande escolha. Por diversas razões também tenho usado mais a bicicleta nas minhas deslocações diárias e o trajecto casa-trabalho pode demorar 30 min com algum trânsito, demora 30 min usando bicicleta + comboio e demora 45 min a pedalar nas calmas. Vale a pena mais um automóvel?
ResponderEliminarÉ uma ideia que apoio completamente!
É o seu estilo de vida. Não pense que os outros são obrigados a tornar-se ciclotontos.
ResponderEliminar"Não pense que os outros são obrigados a tornar-se ciclotontos. "
ResponderEliminarClaro, eu sou um tonto. Com os milhares de euros que poupo anualmente por não ter carro viajo pelos 5 continentes regularmente.
O Filipe que nunca saiu da terrinha e anda a contar os tostões mensalmente é que é esperto.
Sabes lá tu se o Filipe já saiu da terrinha ou não. Muito gostam a maioria das pessoas deste blog de mandar bitaites sobre a vida dos outros... Cambada de anhados.
ResponderEliminar"Sabes lá tu se o Filipe já saiu da terrinha ou não. "
ResponderEliminarSei. Pelas coisas que vem aqui dizendo ao longo dos anos dá perfeitamente para ver que nunca passou de Badajoz.
Ou isso, ou então é um mentiroso e um hipócrita, mas eu dou sempre o benefício da dúvida às pessoas.
Há grande probabilidade de na viagem de finalistas ter ido a Lloret. Se assim foi passou Badajoz.
ResponderEliminarAutoparvo
ResponderEliminareheh... grande posta :)
ResponderEliminareu também há uns 2 anos que uso a bicla sempre que não chove(ainda não coloquei os pára-lamas) e tenha um percurso mais ou menos definido...
tenho uma berg stuka que não é a melhor escolha para andar pela cidade(mas nunca tive um furo :) ). estou prestes a trocar por uma mais adequada(dobrável e/ou mais confortável)...
nunca chego mal disposto ao trabalho e é impagável o prazer que tenho quando saio e vou junto ao Tejo quando o sol se põe...
Taxistas e Carris 5*, do resto há de tudo... e se calhar os "X maior que 4" devem ter uma luzinha no tablier que indica que devem fazer razias ao pessoal :)
indispensável também fazer-se sócio da FPCUB e beneficiar do Seguro..
e já agora, fazer a rotunda do Marquês é muito mais fácil de bicicleta do que de carro...
Eu pessoalmente não gosto das dobráveis (principalmente porque não são adaptaveis a alguns terrenos por onde ando e ás velocidades a que ando). Sinceramente as melhores para circular em Lisboa são do tipo BTT já que grande parte das ruas de Lisboa são autenticas pistas de todo o terreno, e com a quantidade de lixo responsaveis por furos que há nas estradas desde gravilha, a paus de arvores com picos, porcas, pregos, parafusos, e arames, não aconselho bicicletas de estrada.
ResponderEliminarDomingo de manhã tive uma das piores razias desde que comecei a andar de bicicleta com frequencia em Lisboa (aos 12 anos já andava ás escondidas da minha mãe), feito por uma carrinha Peugeot307 na Av D. João II no Parque das Nações e definitivamente, as zonas mais finas são as piores para se circular de bicicleta em Lisboa. Ruas largas e é isto, em comparação quando ando pela Estrada Militar e por ruas estreitas e inclinadas de Camarate sou respeitado por todos, e até já cheguei a estar a empatar a marcha a uma carrinha de ciganos que nunca puseram a minha integridade em risco e quando finalmente tive oportunidade de lhe facilitar a ultrapassagem houve agradecimento coisa que os finórios nunca fazem.
Eu não tenho confiança nos condutores de ligeiros que andam no Mqs de Pombal pela simples razão que grande parte dos encartados somente com categoria B não sabem circular em rotundas. Não há vez nenhuma que eu ande nessa rotunda que não veja os dois erros mais tipicos dos portugueses em rotundas: atravessar duas ou três faixas de uma vez a direito para sair da rotunda e outros a fazerem a rotunda toda por fora com medo de circular no seu interior com a agravante que não cedem passagem!!!
Claro que ao criticar quem circula por fora estou a excluir pesados, uma vez que quem projectou as rotundas raramente pensa em veiculos de dimensões maiores, não sendo possivel circularem dentro das faixas com curvaturas tão apertadas, e tambem não é aconselhavel devido aos condutores de ligeiros massaricos que circulam por fora e não cedem passagem aumentando a probabilidade de acidente.
Pois sou cumplice na utilização da bicicleta (os curiosos podem espreitar o meu testemunho em http://www.lisboncyclechic.com/?p=1348) e como mudei o local de trabalho a semana passada, estou à espera de dia sem chuva para ensaiar o percurso combinado com o Metro e bicicleta dobrável.
ResponderEliminarA dobrável que arranjei é uma IF Mode da Pacific Cycles. Com a outra fiz mais de 1.000Km sem um furo, mas tinha uns pneus Fat Frank...
está à espera de um dia sem chuva? mas isso não pode ser, os autores deste blog preconizam que você não pode dispor de um carro para os dias de chuva. caso você tenha de ter um carro para as compras e para transportar os filhos sem ser num tandem à chuva, como os ciclotontos fundamentalistas será acusada de barbárie e atropelar a vida de muitos velhinhos e cidadãos com mobilidade reduzida, porque (pasme-se) nesta cidade não há lugares para moradores, e a culpa é sua.
ResponderEliminarMas não acho que as colinas de Lisboa sejam um mito. Chiado, Campo de Santana, Graça, ... são locais de penoso acesso ciclista para quem, como eu, vive na zona ribeirinha.
ResponderEliminarEntre os fundamentalistas da Bicicleta e os fundamentalistas do Transporte Individual, há um mundo possível de bom senso...
ResponderEliminarClaro, Sr Filipe, experimente a procurar a taxa de mortes por atropelamento nas passadeiras em Portugal e compare-a com a de paises onde se use mais a bicicleta nas cidades. Contra factos só há fundamentalismos como seu. Pronto a ir contra tudo e todos só para não ter de admitir que a sua opção prejudica mais que outras. Existem vários blogues onde comenta uma comunidade que têm em comum procurar o bem estar proprio e pasme-se...o dos outros. O Filipe faz questão de dedicar o seu tempo a "envenenar" esses mesmos blogs com insultos só porque não é capaz de ser autocrítico e como animal ferido prefere atacar a fonte de mal estar. Fundamentalismos? Só se for mesmo o seu.
ResponderEliminarAlguém sugeriu que o autor deste texto fosse eu... Como o José Santa Clara já esclareceu, não fui. O meu relato semelhante pode ser visto por lá: http://www.lisboncyclechic.com/?p=1307
ResponderEliminarFica também o convite para que enviem os vossos testemunhos, acompanhados por uma fotografia (ou várias).
Quanto a ir levar e buscas as crianças ao colégio, tenho aqui umas tantas soluções: http://www.lisboncyclechic.com/?p=290
E há muitas mais aqui: http://www.copenhagencyclechic.com/search?q=cargo
A criatura que assina Filipe Melo Sousa usa o substantivo adjectival ciclotontos e reparem bem na fotografia do seu perfil. Repararam?
ResponderEliminarEntão do que é que se estava à espera????
Grande exemplo!