28/04/2011

Câmara promete reduções do IMI e vendas coercivas para acabar com prédios em ruína


Câmara promete reduções do IMI e vendas coercivas para acabar com prédios em ruína Licenças de construção em 20 dias para quem quiser reabilitar prédio mantendo a fachada, número de pisos e geometria da cobertura. Autarquia quer reabilitar 7000 edifícios em 13 anos (por Ines Boaventura in Publico)
A Câmara de Lisboa quer que os cerca de 7000 edifícios “em ruína e mau estado” existentes na cidade sejam reabilitados nos próximos 13 anos. Para tal, a autarquia acena com reduções no Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) a quem cumprir, e ameaça os proprietários faltosos com a venda coerciva dos seus imóveis.
Vice-presidente da câmara diz que desafio é “ambicioso mas realizável”

Estas são algumas das medidas previstas na Estratégia de Reabilitação Urbana de Lisboa, para o período entre 2011 e 2024, que ontem foi apresentada em reunião camarária. O vice-presidente Manuel Salgado admite que reabilitar uma média superior a 500 edifícios por ano é “ambicioso”, mas acrescenta que é também “perfeitamente realizável”.

Manuel Salgado rejeita o recurso a obras coercivas, estratégia que foi seguida durante a presidência de Santana Lopes e que, para a actual maioria camarária, foi “um equívoco”. “Foi verdadeiramente ruinoso”, sintetiza o actual vice-presidente, que defende que “a câmara não se pode substituir aos proprietários privados”.

Para garantir que esses privados cumpram o dever de fazer obras de conservação de oito em oito anos, Manuel Salgado quer tornar obrigatória a inspecção técnica aos edifícios e fazer depender desse certificado a atribuição de apoios, como seja uma redução no IMI. A intenção do vereador é aplicar esta medida de forma gradual até 2016 e tornar públicos os ficheiros respectivos, para que potenciais compradores e inquilinos saibam com o que podem contar. Quem não cumprir, poderá ser alvo de uma venda forçada do património.
Na reunião camarária de ontem ficou também a saber-se que a Câmara de Lisboa quer alargar a acção da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) Lisboa Ocidental, para que esta possa assumir a “reabilitação sistemática” de áreas como Alfama-Castelo-Mouraria, Pena-Anjos, Galinheiras, Bairro da Liberdade e Baixa.

Uma novidade que Santana Lopes considerou ser “o ponto politicamente relevante” da estratégia ontem apresentada, uma vez que as outras duas SRU que tinham sido criadas por sua iniciativa foram extintas já durante a presidência de António Costa. “É uma grande reviravolta. Tenho pena que não tenham chegado há mais tempo a esta conclusão”, disse o social-democrata. Manuel Salgado reagiu dizendo que “a experiência tem demonstrado que as SRU podem ser um excelente veículo para fazer intervenções em determinadas áreas”. A título de exemplo, apontou o trabalho da SRU Ocidental, que, sublinhou, “não interveio em nenhum edifício”, tendo cingido a sua acção ao espaço público.

Já para as novas unidades territoriais que a nova orgânica da câmara prevê, Manuel Salgado quer transferir as competências de licenciamento de obras de reabilitação, processo para o qual promete criar uma “via verde”. Na prática, isto significa que quem apresentar um projecto que mantenha a fachada do edifício, o número de pisos e a geometria da cobertura só terá de aguardar 20 dias pela apreciação desse processo, período ao fim do qual poderá começar a intervenção se não houver uma resposta.



Os objectivos da estratégia de reabilitação da autarquia incluem ainda obras no património municipal, tornar efectiva a conservação periódica, reduzir o risco sísmico e de incêndios nos imóveis em que haja intervenção e apoiar os condomínios privados na conservação dos edifícios. No investimento municipal estão garantidos 190 milhões de euros, para reabilitação de bairros municipais (35 milhões), do património disperso (37 milhões), de equipamentos municipais (73 milhões) e do espaço público (45 milhões).
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“Um dos maiores contributos que a câmara pode dar para a reabilitação é licenciar depressa”, justificou Manuel Salgado. “E bem”, acrescentou a vereadora Mafalda Magalhães de Barros, do PSD, que criticou o facto de, em seu entender, a estratégia ontem apresentada não garantir “a salvaguarda dos valores patrimoniais”.
Licenças de construção em 20 dias para quem quiser reabilitar prédio mantendo a fachada, número de pisos e geometria da cobertura.


Manuel Salgado continua a tentar fazer-nos acreditar que só há duas escolhas ... ou dar atenção à “pedrinha e azulejo” e assim não reabilitar nada … ou funcionalizar e globalizar de forma redutora as exigências a nível Patrimonial para conseguir fazer algo …
Enquanto que dezenas de exemplos ( Amsterdam, Londres) já foram apresentados por mim neste blog que provam que é possivel , e absolutamente inprescindivel, termos ambas as coisas na Reabilitação Urbana afim de “não matarmos a galinha de ovos de ouro” …
Não revelará, pelo contrário, este “pseudo pragmatismo”, uma grande insensibilidade Patrimonial e uma incompetência bem visivel no estado do Centro Histórico?
Escrevia eu a 11 de Novembro de 2010 neste Blog:
...Hummm ... Fica-se 'algures' com a impressão que Manuel Salgado está a 'baixar' a fasquia de exigência detalhada na área dos Valores Patrimoniais do edificado das ÁREAS HISTÓRICAS de Lisboa ... e a 'globalizá-lo' através de um (falso) pragmatismo baseado na urgência e estado deplorável em que ele se encontra ...
Existem 'indefinições' e 'ângulos cegos' ... propositados (?) ... que podem 'dar' para tudo ...
Claro que o investimento imobiliário é fundamental e indispensável ... mas em equilíbrio de regras ... senão iremos matar a "Galinha dos ovos de Ouro" ... ou seja os valores e características fundamentais que definem o carácter único do nosso Património, garantem a nossa Identidade Cultural ... o nosso prestigio Internacional e imagem de brio e auto-estima ... além do respeito ... num momento em que pela crise financeira a nossa imagem anda muito 'por baixo' ... aqui e lá fora ...
Termino, revisitando, uma passagem de um pequeno texto da minha autoria publicado neste 'blog':
O mundo do Imobiliário está em “pânico” … Depois de uma actividade de ritmo de produção desenfreado, e muitas vezes sem qualquer tipo de planeamento ou atenção para o Ordenamento do Território … o Mercado saturou e ruiu, tal “castelo de cartas”… Agora, os apelos em direcção a uma fatia de mercado que é vista como última esperança,a Reabilitação Urbana, multiplicam-se.
Ora, nós sabemos que embora tenha sido feito um esforço para uma certa especialização técnica, e alguma consciência Patrimonial, naturalmente este mercado pensa em termos de rentabilidade e de transformação dos interiores através de um emparcelamento rentável e adaptado às exigências da clientela.
Nesta área é possível um equilíbrio entre a manutenção das características fundamentais, a nível dos materiais e tipologias, dos interiores e a sua adaptação.
As exigências nesta área cabem aos técnicos competentes … mas por outro lado, como conquistar o respeito dos Promotores e tranquilizá-los em relação aos prazos determinados pelos seus investimentos, se o aparelho camarário não funciona, se auto-entope e demonstra quase uma indiferença em relação às ansiedades dos promotores e investidores ?
Só é possível desenvolver Pedagogia, a nível dos Valores Patrimoniais, exigir a defesa e salvaguarda desses mesmos Valores, quando a nossa Autoridade Cultural é aceite por um respeito baseado na eficácia e eficiência.
É portanto necessária uma Reforma do Aparelho Camarário … e do seu funcionamento nesta área …
Por outro lado, apesar do estado deplorável do nosso Centro Histórico, muitas vezes ilustrado neste blog, o interesse das populações em habitar o mesmo Centro cresce, e a intensidade de visitas do Turismo Internacional tem vindo a crescer …
Isto deixa-nos com uma responsabilidade acrescida, pois ao vermos isto numa perspectiva de prestigio Internacional, a nossa imagem neste momento de crise económica profunda já de si muito abalada, passa a ser confirmada por todos estes visitantes internacionais … pelo estado deplorável do nosso Centro Histórico em Lisboa, ilustrativo do nível da nossa auto-estima e capacidade de realização.
Mas é precisamente no detalhe de qualidade da Reabilitação que vamos ser comparados, para além da quantidade … uma coisa não exclui a outra … embora nos queiram fazer ( com falso pragmatismo) acreditar o contrário …
António Sérgio Rosa de Carvalho

3 comentários:

  1. Um dos aspectos que mais me preocupa, até por defeito de formação, é sempre o aspecto financeiro da reabilitação urbana, designadamente, onde se vai conseguir os fundos para financiar "tão boas intenções".
    A CML não tem dinheiro para intervir no edificado municipal e muito menos no particulr, facto que aliás já foi referido uma dezena de vezes pelo próprio Manuel Salgado.
    O novo regime jurídico da reabilitação urbana, ao qual a CML vai buscar esta figura da venda forçada, refere, a este propósito, entre outras, duas questões fundamentais, que abaixo transcrevo:

    "O procedimento
    de venda forçada é construído de forma próxima ao da expropriação, consagrando-se as garantias equivalentes às previstas no Código das Expropriações e garantindo-se o pagamento ao proprietário de um valor nunca inferior ao de uma justa indemnização."

    "Se, em qualquer das vendas em hasta pública, não comparecer licitante que arremate, a entidade gestora paga o preço em que o bem foi avaliado e reabilita-o por
    sua conta, no prazo inicialmente estabelecido para o efeito,
    contado da data da realização da hasta pública, sob pena de reversão para o primitivo proprietário, aplicando-se, com
    as devidas adaptações, o Código das Expropriações."

    Posto isto, pergunto como é que a CML vai buscar dinheiro para isto. Está assim tão optimista na capacidade de auto-financiamento das empresas e dos particulares? Ainda acha que os bancos continuam a emprestar dinheiro?
    Já era tempo de pormos os pés na terra e falarmos a verdade às pessoas...

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  2. Só para esclarecer, a "entidade gestora" segundo o novo regime jurídico da reabilitação urbana é a Câmara Municipal, empresa municipal ou SRU.

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  3. Não há dinheiro porque não querem arranjar.

    Porque a maioria dos prédios de habitação social tiveram obras recentemente um pouco por toda a cidade.

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