A diminuição do poder de compra dos portugueses, o aumento do preço dos combustíveis, a flexibilidade e a melhoria do serviço explicam o crescimento que o sector dos transportes em Portugal está a viver em plena de crise.
As companhias que mais reflectem a adesão da população aos transportes colectivos foram as lisboetas Carris e Metro de Lisboa, a par da STCP, do Porto. Do lado oposto, estão a ferroviária CP – Comboios de Portugal e o grupo Transtejo/Soflusa, que liga as duas margens do rio Tejo por barco.
A empresa dona do metropolitano da capital foi a que obteve o maior crescimento absoluto: conseguiu nesta primeira metade do ano captar mais 2,5 milhões de passageiros, sendo que nas composições das quatro linhas do metro viajaram 92,1 milhões de pessoas.
«Acredito que este resultado é fruto dos esforços que a empresa tem desenvolvido para se modernizar e estar mais próxima dos seus clientes, constituindo-se como a melhor alternativa ao transporte individual», diz ao SOL o presidente do metropolitano de Lisboa, Cardoso dos Reis.
Gestora dá a táctica
Mais a Norte, a STCP continua a conquistar adeptos, tendo sido a segunda empresa a nível nacional a captar mais clientes para o sector dos transportes colectivos.
A presidente da SCTP, Fernanda Meneses, uma das raras mulheres que gere uma empresa do sector, explica como: «Extinguir ou reduzir as linhas com procura reduzida e menor rentabilidade, e reforçar nas zonas com maior procura, com o objectivo de aumentar a qualidade da mobilidade oferecida aos clientes». Os resultados estão à vista: em 2011 já viajaram nos autocarros azuis e brancos – como não podia deixar de ser – da STCP, 56,6 milhões de pessoas, na primeira metade do ano (mais 1,7 milhões do que nos seis primeiros meses de 2010).
Em Lisboa, a tendência foi semelhante, com a população a aderir cada vez mais ao transporte nos autocarros e eléctricos da Carris, que registaram mais 1,6 milhões de viagens. A empresa do Estado presidida por Silva Rodrigues consolidou assim o seu lugar de maior transportadora nacional, com 127 milhões de viagens efectuados em meio ano.
O gestor acredita existir uma transferência do transporte individual para o colectivo, devido «à perda generalizada do poder de compra, com particular incidência na classe média e ao aumento dos preços dos combustíveis».
Silva Rodrigues diz, porém, ser difícil prever se esta tendência se irá manter até ao final do ano. «Estes factores cruzam-se com a desaceleração da actividade económica e do aumento do desemprego, o que pode determinar uma redução da mobilidade», observa.
Desde o início do ano, o preço do gasóleo disparou de 1,27 euros para 1,35 euros e a gasolina 95 subiu de 1,47 euros para 1,55 euros.
Comboios e barcos mais vazios
Mas nem todas as empresas têm conseguido aproveitar esta tendência positiva que está a beneficiar o sector. Em conjunto, a CP e a Transtejo perderam mais de dois milhões de passageiros na primeira metade do ano.
Os comboios da CP estão agora mais vazios – perdeu 1,8 milhões de utentes –, confirmando a tendência dos últimos anos. Entre 1988 e 2010 a empresa controlado pelo Estado viu desaparecerem 103 milhões de passageiros.
«A queda no número de passageiros em 2011 poderá reflectir o efeito cruzado de uma menor procura dos transportes pendulares, devido ao aumento do desemprego e do surto grevista ocorrido no semestre», diz ao SOL fonte oficial da CP. A empresa prevê transportar 128,2 milhões de passageiros em 2011.
Já João da Silva Pintassilgo, presidente da transportadora fluvial Transtejo, justifica a perda de 280 mil utentes – para 14,1 milhões – com «a actual situação de crise, que tem provocado uma queda dos trajectos para lazer».
Caminho sinuoso
Apesar dos aumentos registados nos próximos tempos, as empresas públicas de transporte colectivo irão continuar o esforço de contenção orçamental exigido pelo accionista Estado. Num dos sectores mais atacados a nível interno durante a crise financeira actual, as transportadoras estão obrigadas a cortar 15% nos custos operacionais em 2011, por comparação com 2010.
Segundo o programa do novo Executivo, estão previstos novos aumentos no tarifário e a exploração do transporte da Carris, do metro de Lisboa e da CP feita por concessões privadas.
O desafio de todas as empresas de transportes incluídas no Sector Empresarial do Estado será manter a qualidade e a competitividade do serviço, mas com menos recursos. Prevê-se uma viagem atribulada.
In SOL
Cada vez mais gente nos transportes, e cada vez são mais os cortes! xD
ResponderEliminarOs passageiros que a CP-Lisboa perdeu são os mesmos que passaram para a Metropolitano de Lisboa e CCFL onde as tarifas são bastante abaixo do valor real de exploração (e que, por consequência recebem maiores compensações do Estado).
ResponderEliminarLembrando ainda que se trata de uma comparação ilegítima uma vez que a CP faz exploração pelo país inteiro enquanto o resto das transportadoras são específicas de cidades. A menos que essa comparação seja feita exclusivamente ás unidades de negócios CP-Lisboa e CP-Porto (e não à CP, Comboios de Portugal) torna-se falacioso comparar resultados operacionais das transportadoras.
É de salientar também que não é feita qualquer referência à Metro do Porto, cuja dívida soma uns quantos milhões ao fim de poucos anos de exploração.