26/08/2011

Pavilhão de Portugal, lembram-se?

In Sol (26/8/2011)

«O ENCERRAMENTO da Parque Expo é uma medida de elementar bom senso: a Expo foi em 1998 e a reconversão urbana daquela área está desde há muito concluída. Os criadores da Expo 98 construiram uma nova Lisboa - é justo recordá-lo, porque somos viciados em dizer mal do país e desmerecer as nossas capacidades.

Entre os equipamentos da Expo, o futuro do Pavilhão de Portugal, jóia arquitectónica assinada por Siza Vieira, é incerto. O Governo pretende vendê-lo - mas, segundo o presidente da Parque Expo, ao preço de 22 milhões de euros haverá que acrescentar mais 10 milhões para obras. A pala do Pavilhão foi desenhada a partir da imagem de uma folha de papel pousada sobre dois tijolos: um poema de betão que sintetiza o espírito de Portugal, país leve e pesado, literário e literato, voador e doente de vertigens. Os estrangeiros circundam o edifício, admiramlhe o recorte, a delicadeza, a extraordinária pala e perguntam: não se pode entrar?

Não, não se pode entrar porque não há nada para ver, a não ser a natural degradação de um edifício abandonado desde há 13 anos - por isso a sua recuperação é já tão cara. Mais do que abandonado, este monumento contemporâneo (aliás, classificado como tal pelo Igespar) tem sido aviltado, isto é, alugado para casamentos, baptizados e celebrações empresariais. Ao longo dos anos, foram sendo apresentadas várias propostas para o Pavilhão - da instalação da sede do Conselho de Ministros a vários projectos museológicos.

DESPERDIÇAR uma obra de arte urbana metendo-lhe lá dentro serviços - mesmo que o nobre serviço de gerir a nação - seria um erro gigantesco, de todos os pontos de vista, a começar pelo económico. O Pavilhão de Portugal podia estar já desde há muitos anos a dar lucro comoacontece com o Oceanário. Devia ser um museu, sim - mas um museu movente, gerador de futuro, porque a época dos museus como meros repositórios de passados já terminou. Pedimos, hoje, aos museus que sejam instrumentos de conhecimento e catalisadores de sentidos.

MINHA sugestão seria que se criasse no Pavilhão de Portugal um Museu da Literatura - que poderia chamar-se assim, ou Centro Internacional de Artes Fernando Pessoa. Espanha inaugurará em breve (em Granada) um Centro Federico Garcia Lorca que, além da divulgação da obra do poeta espanhol, pretende afirmar-se como espaço de cruzamento entre a literatura, o pensamento e as artes visuais.

O Pavilhão de Portugal tem características ideais para um projecto deste tipo - e Fernando Pessoa é um ícone muito mais internacional e abrangente do que Lorca. Em vez de fazermos, como chegou a ser anunciado, um Museu da Língua mais ou menos copiado do Museu da Língua de São Paulo, lançaríamos um Museu dedicado às literaturas, com particular ênfase nas literaturas de expressão portuguesa.

Um Museu com zonas interactivas (ecrãs com textos que se movem através do gesto, mesas de jogos tácteis com as frases, etc), exposições de artistas plásticos sobre universos literários, auditórios para leituras, conferências e espectáculos, salas para cursos e ateliês.

PAVILHÃO de Portugal podia e devia ser, desde há 13 anos, um motivo de orgulho e uma fonte de receita. Mas temo que, a pretexto da crise, o Pavilhão continue fechado paravir a custar-nos depois muito mais caro. Enquanto funcionarmos assim, não deixaremos de viver em lamúria e recessão.»

4 comentários:

  1. Pois é, deixamos os edifícios abandonados e depois só resta a demolição ou a derrocada. Há dias foi dado relevo ao abandono do Odeon para o qual se pode prever a derrocada. Será que também será esse o destino do Pavilhão de Portugal no Parque das Nações? A famosa empresa Parque Expo não foi capaz de encontrar uma solução nestes anos todos? Acudam enquanto é tempo!
    José H. Ferreira

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  2. ... o Odéon não está a cair! Isso é conversa;-)

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  3. "natural degradação"...deve ser só metade da história.

    Este edifício (no que toca a acabamentos) é de péssima qualidade. Passados 6 anos da sua construção já se viam (muitas) pedras rachadas na fachada e madeiras totalmente podres no cimo dos muros. Nem um pavilhão representativo da nação se escapou à aldrabice....e, talvez por isso, seja mais representativo que nunca.

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  4. Por favor, dêem-lhe uso.
    O que quiserem; excepto confia-lo aos arquitectos!!!

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