Obra tinha um custo inicial de 31 milhões de euros
Governo discute novo uso para o edifício que Mendes da Rocha desenhou para os Coches
Por Bárbara Reis e Lucinda Canelas com Ana Henriques in Publico
Debate faz parte de uma reflexão alargada sobre a frente ribeirinha de Lisboa. Mas nada está decidido
À intensa polémica que gerou a anunciada saída do Museu Nacional dos Coches do picadeiro de Belém para novas instalações, projectadas pelo brasileiro Paulo Mendes da Rocha na mesma zona de Lisboa, vem agora juntar-se um novo episódio: no âmbito de uma reflexão mais alargada sobre a frente ribeirinha da cidade, o Governo está a debater o uso a dar a este edifício orçado em 40 milhões de euros, em construção desde Fevereiro.
"A minha preocupação neste momento é encontrar uma solução global para a frente Tejo", disse ontem ao PÚBLICO Miguel Relvas, ministro Adjunto dos Assuntos Parlamentares, que tem a seu cargo o processo de extinção da empresa criada em 2008 pelo então primeiro-ministro José Sócrates para a requalificação da zona ribeirinha de Lisboa (o desaparecimento da Frente Tejo SA foi anunciado em Julho). O novo Museu Nacional dos Coches era apresentado pelo anterior governo socialista como uma peça-chave desta revitalização.
Para contribuir para o debate sobre a zona, Relvas levou para uma reunião que teve há um mês com o presidente da câmara de Lisboa, António Costa, e o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, uma pergunta: "Por que não ponderar a hipótese de dar ao edifício outro uso?" Nada está, no entanto, decidido, disse ontem fonte do governo. Por isso, vão realizar-se mais reuniões.
Segundo várias fontes ligadas à Cultura ouvidas ontem pelo PÚBLICO, que preferiram manter-se anónimas, em cima da mesa estará a eventual criação de um museu da viagem e da língua, uma proposta que já antes fora avançada para outros edifícios daquela zona: o Mosteiro dos Jerónimos (onde está o Museu Nacional de Arqueologia, MNA) e o Museu de Arte Popular.
A ideia de um museu com base na Expansão começou por ser defendida pelo escritor Vasco Graça Moura (que foi eurodeputado pelo PSD e presidente da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses) e, mais recentemente, pela historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, que foi também directora do instituto dos museus.
Num cenário de profunda contenção orçamental, as mesmas fontes defendem que na origem do debate deverão estar também os elevados custos de manutenção dos coches no espaço criado pelo Pritzker de 2006 (o mais alto prémio que um arquitecto pode desejar). E dizem que é a mesma falta de dinheiro que leva a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) a ter ainda em análise a transferência do MNA para a Cordoaria Nacional.
Obra continua
Contactado pelo PÚBLICO, Paulo Mendes da Rocha, 82 anos, preferiu não prestar declarações, remetendo qualquer esclarecimento sobre o assunto para o Governo português. A SEC não se pronunciou, nem o Turismo de Portugal, entidade de onde parte o financiamento da obra (31 milhões de euros provenientes da concessão do Casino de Lisboa, embora os últimos custos divulgados ascendam a 38,8 milhões). João Brigola, director do Instituto dos Museus e da Conservação, que tutela os Coches, disse ontem que não tinha recebido "qualquer informação oficial sobre a questão".
Apesar dos atrasos iniciais, a obra está a decorrer como previsto, disse ontem António Capinha, do gabinete de comunicação da Mota Engil, empresa responsável pelos trabalhos.
A confirmar-se a mudança de finalidade, o projecto de Mendes da Rocha deverá ter grandes alterações, uma vez que os coches têm especificidades de exposição muito concretas e exigem, por isso, um edifício à sua medida: basta pensar que ganham em ser vistos de todos os lados e no espaço que é preciso para que dêem a volta sempre que for preciso restaurá-los ou mudá-los de lugar.
O museu que está planeado, e cuja conclusão foi anunciada para o fim deste ano, prevê a exposição de 80 coches da colecção portuguesa, uma das melhores do mundo
Triste exemplo de esbanjamento de dinheiros públicos, chamem-lhes de receitas do casino ou não, sabendo de antemão que os coches nunca poderiam ir para ali. Patético tour de force da OA, mais os seus aficionados pinhos deste mundo e do outro; que era quem devia agora pagar do seu bolso as obras que faltam e a "parceria estratégica" que fomentou, ou - quem sabe se não seria uma medida de higiene - a sua demolição total. A ver vamos no que dá este folhetim execrável.
ResponderEliminarJá o MNA para a Cordoaria, a fazer-se seria pior a emenda que o soneto. Os museus estão bem onde estão, por favor. Dêem-lhes é mais condições para recuperarem o brio e desenvolverem as suas actividades com dignidade e ajudarem à captação de receitas sob a forma de turismo cultural.
Sr Paulo Ferrero, seguramente já debateu as seguintes questões dezenas de vezes e terá resposta na ponta da língua, se fizer o favor de me esclarecer. Qual é a sua solução para o actual museu dos coches? Isto, partindo do princípio que concorda que o edifício está uma situação insustentável, próxima de um armazém visitável, que transmite uma imagem altamente denegridora do cuidado do país com o seu património, independentemente de ser um edifício fabuloso. Qual é a sua informação ou talvez formação, não sei, relativamente à conservação, restauro e exposição deste património, ou o do Museu Nacional de Arqueologia, enfim, de qualquer tipo de património museológico?
ResponderEliminarNão entenda mal as minhas perguntas, eu odeio despesismo, acho que haveria várias soluções menos dispendiosas, mas quanto a recuperar património e arrumar cidade sou sempre favorável, chama-se investimento. Entendo que o momento não é o melhor, apesar da obra não ter sido lançada agora. Só não entendo a sua solução de deixar os museus onde estão, porque isso implica deixá-los como estão. Tenho a certeza que já os visitou, e que já visitou museus equivalentes de outros países europeus, para saber onde se situa a bitola do turismo cultural internacional e onde nos situamos nós, e assim sendo, não me convence, nem a ninguém, a solução do "é melhor não fazer nada porque apesar disto ser mau, é aquilo a que estamos habituados".
Implodido parece-me a menos má das soluções. É que o monstro é mesmo ofensivo...
ResponderEliminar"Num cenário de profunda contenção orçamental, as mesmas fontes defendem que na origem do debate deverão estar também os elevados custos de manutenção dos coches no espaço criado pelo Pritzker de 2006."
ResponderEliminarIsto é ridiculo. como sai caro mantê-los no novo edificio vamos deixá-los degradados no edificio actual.
LOBO VILLA
ResponderEliminarO que P. Ferrero diz é o "bom senso" dos lisboetas(exceptuando a parte da demolição,ou a "implosão" do anónimo anterior)que é deixar os museus como estão,tal e qual como estão,sobretudo quando é o museu mais visitado de Portugal(o dos Coches, tal como e onde está,no Picadeiro!).
Toda esta idéia socratina (que o anterior " Zé" apoia,será o Zé Sócrates?...),é um disparate como salienta Ferrero,não precisamos de mais novos edifícios-museus,precisamos sim de melhores-museus,onde eles estão.
Basta de esbanjamento!
A justificação da monstruosidade era justificada pela necessidade de mostrar os coches. Pois parece-me que este espaço poderá albergar qualquer função pois num fundo é um open space e sendo assim com umas placas de pladur resolve-se.
ResponderEliminarEste edifício vai ser um marco pois fica demonstrado que ser prémio Pritzker não é sinónimo de qualidade antes pelo contrário. Os arquitectos transformaram-se em mercenários.
é triste assistir, como ficam todos ajoelhados e dizem todos que sim com medo de ser catalogados como ignorantes ou com falta de cultura.
Este projecto e a construção deste edifício deveria ser um caso de polícia.
solução?
ResponderEliminardemolir e vender o ferro ao peso... ao preço a que andam os metais era capaz de ainda haver algum lucro significativo.
quanto ao resto, não há dúvida que foi um gasto de dinheiros públicos que teriam sido muito mais úteis a reabilitar outros museus, mesmo que isso implica-se fechá-los temporariamente.
Portugal, infelizmente, é assim...
Pelo que se vê, ninguém tem soluções sérias ou não se dá ao trabalho de as apresentar.
ResponderEliminarApenas um reparo ao comentário do sr Lobo Villa. Todos aqueles que não concordam consigo são a projecção do Sócrates, mesmo que você não tenha entendido a posição deles sobre o assunto. Esse trauma com figuras paternas explica-o Freud.