Um dos problemas de Lisboa é precisamente o baixo rendimento per capita dos seus habitantes quando comparado com os de outras cidades europeias. Este nível de rendimentos, potenciado pela crise social que se desenvolveu nos últimos anos, não permite criar o dinamismo que poderia transformar a cidade e corrigir vários dos seu problemas.
Desde 2008 que se optou por chamar crise financeira a uma crise social, derivada das escolhas erradas que as populações europeias e norte americanas fizeram ao nível das suas decisões de consumo, financeiras e politicas.
Um exemplo, foi o facto de milhares de norte americanos terem ficado no desemprego, devido à deslocalização de parte da produção para a Ásia, de que resultou uma incapacidade para poderem pagar os seus empréstimos hipotecário. Chamou-se crise financeira, a algo que derivou de decisões politicas e de consumo.
Após anos de expansão das economias dos países europeus e norte-americanos, sustentados em crédito e má percepção do nível de riqueza produzida, a realidade acabou por surgir sobre a forma de incapacidade para pagar os compromissos assumidos.
Mas essa incapacidade não é um problema financeiro mas sim, social. A incapacidade surge porque, em primeiro lugar, as politicas de abertura de mercado conjugadas com os acordos com a China e outros países asiáticos custaram milhões de empregos.
Duas questões surgem : Quantas empresas lucraram com a abertura do mercado chinês ? Quantas empresas foram prejudicadas pela abertura dos mercados europeus e americano aos produtos chineses ? A resposta é óbvia. As populações destes países permitiram que, para algumas dezenas de empresas lucrarem com o mercado chinês, milhares de outras fossem prejudicadas. O que adianta ter produtos europeus mais baratos produzidos na China se ao perdermos o emprego não os podemos comprar ?
Qual era a dúvida da consequência da deslocalização de centenas de fábricas para os países asiáticos ?
Enquanto os orçamentos estatais permitiram, estas consequências foram “tapadas” pelo emprego criado no Estado. Mas agora os ajustamentos terão de ser feitos, terão de ser reduzidos postos de trabalho no Estado e não há criação de emprego no sector privado, para esta nova vaga de desempregados. O resultado será uma gravíssima crise social.
Mas esta crise social era evitável se as populações entendessem e exigissem maior protecção para os seus empregos e empresas onde trabalham. Não se pode liberalizar mercados com condições desiguais. Países com direitos laborais justos estão a competir com países em que a escravatura laboral é uma realidade.
Por outro lado, permitimos que as actuais politicas desacreditassem as economias europeias e norte americanas, como se pudéssemos comparar o que é produzido nestes países com o que é produzido na China ou na Ásia.
Quantos de nós ambiciona ter um produto chinês ? Comparem os desejos de consumo das populações mundiais e onde estão os mais desejados produtos e serviços ? É completamente errado dizer que a Europa está decadente. Alguém pensa em comprar um automóvel chinês ou brasileiro ? E uma mala ? E um perfume ? E ver um filme ? E um telemóvel ? E quando estamos doentes recorremos a medicamentos chineses ? Faz algum sentido o dinheiro estar a fluir para os chamados BRIC’s ?
O problema, é que mais uma vez apoiamos politicas totalmente ignorantes. Senão reparem no sector automóvel. Os dois mercados que o dominam continuam a promover automóveis que necessitam de energia produzida principalmente fora desses mercados. Faz sentido ? A sociedade deveria ter exigido à mais tempo automóveis movidos a energia produzida na Europa e EUA. Por isso lhe chamo CRISE SOCIAL. É porque é provocada pela nossa atitude.
Um exemplo tem a ver com as nossas escolhas de consumo. Achamos que ao preferirmos produtos produzidos na China ou Vietname, poupamos dinheiro. Mas não pensamos, apesar de o sabermos, que esses produtos são produzidos dessa forma à custa do emprego de milhares de pessoas na Europa ou nos EUA. É uma decisão nossa com impacto real na economia. Ao promovermos o desemprego, promovemos a incapacidade para pagar os compromissos financeiros, e promovemos a crise. A CRISE SOCIAL.
Faz sentido que a China, o Qatar ou o Brasil tenham hoje mais recursos financeiros que a Europa ou os EUA ? Quantos produtos ou serviços originário destes países desejou comprar ? Para além do petróleo, nenhum. Ou talvez uns chinelos brasileiros. Mas ao promovermos o petróleo e a deslocalização das fábricas, transferimos a nossa riqueza para esses países. Estupidamente. Uma decisão de políticos, permitida pelas populações.
A solução para esta CRISE SOCIAL é óbvia : Reconhecer a força do que produzimos na Europa e nos EUA. Acabar com a dependência do petróleo. Voltar a fechar as fronteiras a produtos produzidos em países com politicas de emprego esclavagista, ou com níveis salariais injustos. Preferir produtos produzidos na nossa região.
Para isso teremos todos de admitir que somos culpados, que esta é uma CRISE SOCIAL e não financeira, e exigir que estas medidas sejam tomadas por quem está no poder.
Por fim, é importante não permitir que os Bancos Centrais continuem a actuar como se vivessemos numa economia não globalizada. A análise que fazem da evolução da taxa de inflação é completamento desajustada. Não se pode comparar da mesma forma uma época em que havia liberdade para subir os preços dentro de uma determinada consciência, e onde não havia concorrência, com uma época em que os produtos vindos da Ásia esmagam as margens e por conseguinte, travam qualquer ideia de subida de preços. De uma forma simplista, à 25 anos atrás o senhor da mercearia de bairro fazia o que queria com os preços. Agora esse senhor tem ao seu lado 3 ou 4 mercearias de chineses, paquistaneses ou outros, que não pagam impostos nem segurança social, e vivem em condições degradantes. Faz sentido aceitarmos isso ?
Por outro lado, com a má análise do comportamento da Inflação, vem a desajustada gestão da taxa de juro. Temos uma população europeia e norte americana endividada para os próximos 20 ou 30 anos. Com níveis de Taxa de esforço no limite. Nesse sentido qualquer mexida na taxa de juro tem um impacto imediato na incapacidade de cumprir com o pagamento dos empréstimos. Nos próximos 10 ou 15 anos a Taxa de Juro de referência para os Créditos á Habitação, não poderá evoluir para além dos 2 %, e ninguém percebeu isso, quando em Outubro de 2008 a Euribor chegou acima de 5 %.
A solução, caso desejem aumentar a taxa de juro, por questões de politica económica, passa por “desindexar” os actuais Créditos à Habitação da Euribor, no caso da Europa, e fixar uma taxa abaixo dos 2 % para os próximos 15 anos. Permitiria remunerar melhor quem tem liquidez disponível, colocando-a no mercado a taxas de juro atractivas, permitindo gerar recursos para a economia, e não onerar quem tem créditos pendentes. Caso contrário o nível de incumprimento trará uma nova CRISE SOCIAL, que irá ter o nome de crise financeira.
Com estas medidas, certamente que haverá condições para criar mais emprego, o qual permitirá trazer novos habitantes para a cidade e desenvolver o comércio. Novos habitantes que poderão escoar parte das milhares de casas vazias. Novo comércio para ocupar as milhares de lojas sem utilização.
Excelente comentário, os meus parabéns.
ResponderEliminarUma pena que muito tonto - como esses "economistas" que para aí andam ou os pulhíticos (não merecem que se escreva correctamente a palavra) que temos tido - não tenham reflectido com base nas ideias expostas no texto.
As decisões politicas pouco pesam num mundo onde a movimentação de capital e investimentos faz o que lhe dá na gana. É bom não esquecer que, as nossas poupanças, futuras pensões, etc., por ai andam, mundo fora...à procura onde salpica mais. Criamos um sistema económico que se transformou num monstro....e agora!?
ResponderEliminareste post foi escrito num computador feito na china. é pena pois eu preferia ter comprado um computador bem mais caro feito na américa mas não consegui encontrar tal coisa...
ResponderEliminarPelos vistos os meus comentários são incómodos neste blog.
ResponderEliminarLimitei-me a concordar com o autor do post, nada mais. Não só coloca os pontos nos "I" no respeitante ao consumo de pretensos produtos originalmente concebidos e fabricados nos BRIC, como enfoca a questão da péssima análise (?) económica e financeira dos últimos vinte anos, muita dela efectuada por quem é agora administrador de certas empresas, (des)governante ou professor nessas faculdades que têm agora nomes em inglês.
Passem bem.
João das Regras disse...
ResponderEliminarPelos vistos os meus comentários são incómodos neste blog.
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Os teus, os meus (principalmente os bloqueados) e os de qualquer pessoa mentalmente normal.
Mas o cumulo é atacarem-me com comentarios e não me darem direito de resposta, bloqueando-os. É claramente uma imparcialidade e duma justeza extrema.
Essa referência aos automóveis...
ResponderEliminarOs automóveis produzidos no Brasil são de marcas europeias (VW, Opel (Chevrolet) e FIAT)e seguem a tecnologia e qualidade de construção europeia e apenas são comercializados nos países do Mercosul (logo mercado interno).
Fazer esse comentário racista Carlos Leite Sousa é exatamente igual a um europeu do centro ou norte fazer um boicote a automoveis made in Portugal:
-Auto-Europa: VW Scirocco, VW Sharan, Seat Alhambra, VW EOS, Ford Galaxy.
-Salvador Caetano: Toyota Dyna, Toyota Caetano Optimo, Caetanobus Citygold, Caetanobus Combus, Caetanobus Winner entre outras carroçarias de autocarros e que até se vendem muito bem na Europa, África e Médio Oriente apesar deles tambem serem construtores de autocarros.
-Metalurgica Duarte Ferreira: Mitsubishi Canter.
-PSA@Mangualde: Citroen Berlingo e Peugeot Partner.
Temos ainda centenas de fábricas em Portugal que apenas constroem peças de automóveis totalmente para exportação. Ou seja um VW Golf construido em Wolksbourg na Alemanha usa caixas de velocidades e amortecedores made in Portugal (Aveiro e Ovar).
Os pneus Continental (marca alemã) são fabricados em Árvore-Vila do Conde.
Isto são só alguns exemplos. Durante as décadas em que Portugal beneficiou da instalação de fábricas estrangeiras devido à mão de obra barata portuguesa, não vi os portugueses a queixarem-se, agora que eles descobriram outros países que fabricam ainda mais barato, os portugueses vêem-se queixar?!!!
Cada país é livre de impôr as suas regras laborais, quem não concorda que emigre. Cada um é livre de criar a sua própria industria onde bem entende. Se a deslocalização para um determinado local vai influenciar as vendas então encerra-se essa fábrica, nada mais simples.
Vá, vamos exigir aos alemães, belgas, ingleses, holandeses, polacos, espanhois, franceses, etc o boicote destes veiculos made in Portugal. Afinal a culpa deles lá terem desemprego é de terem deslocalizado a produção destes veiculos para Portugal.
Vá, vamos lá voltar aos primórdios do Mundo quando os transportes eram rudimentares e cada região só consumia o que produzia! Já agora acabamos tambem com a moeda, e passamos a trocar directamente produtos por produtos!
Na Europa e América do Norte há desemprego, nos países do BRIC, Ásia em geral e África não faltam boas ofertas de emprego para pessoas qualificadas, quem quiser que as aproveite.
Esse seu texto, CLS é falacioso e quer surrateiramente influenciar a xenofobia entre os europeus.
Se calhar a maioria dos europeus (e portugueses em particular) não deseja ter um carro brasileiro ou chinês, mas já coreano ou japonês não se importam...pelo menos eu todos os dias vejo na rua Hyundais, Kia, Ssangyong, honda, nissan, toyotas... mas por acaso eles até são todos montados na Europa, porque não compensa transportar automóveis dum extremo ao outro do Mundo. Ocupam muito espaço nos navios e fica caro o transporte.
ResponderEliminar"De uma forma simplista, à 25 anos atrás o senhor da mercearia de bairro fazia o que queria com os preços. Agora esse senhor tem ao seu lado 3 ou 4 mercearias de chineses, paquistaneses ou outros, que não pagam impostos nem segurança social, e vivem em condições degradantes."
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Aqui não se critica o enriquecimento ilicito?!!! É precisamente o que o senhor da mercearia fazia à 25 anos atrás!
Porquê que os asiáticos não pagam impostos?!!! Se vivem em condições degradantes é porque querem e não se importam com isso. Cada um vive como quer desde que tenha condições financeiras para isso e não ande a viver à custa de terceiros.
Parte da nossa crise financeira é precisamente impingir as tais condições de vida excepcionais que os apartamentos trouxeram por exemplo atravez da habitação social. Foi ver autarquias a endividarem-se quanto à construção com emprestimos a amortizarem em 40 ou 50 anos e a cobrar rendas de tostões aos seus inquilinos e a fazerem-lhes obras cada vez que o edificio se degrada (e acontece muuuuuitas vezes ao longo de 50 anos devido à má qualidade de construção da maioria e à empregabilidade de acabamentos de má qualidade a provar que o barato sai caro) e a conceder novos emprestimos para as obras entretanto! Ou seja, a habitação social é um cancro nas contas das autarquias que nunca irá estar resolvido porque a receita é inferior aos custos, isto para nem falar dos esgotos, iluminação publica e mobiliário urbano que estes novos bairros tiveram totalmente a cargo das autarquias! Aliás, é pouco provavel que muitos dos edificios de habitação durem 40 anos! Houve uns na Musgueira construidos em 1976 que foram demolidos em 2001 que devido à brilhante qualidade de construção tipica nas obras publicas apresentavam risco de ruir! Tanto inquilino social que nunca pediu para ir morar para prédios e ainda hoje morre de saudades das barracas, e os contribuintes a pagar tá claro.