In Público (13/11/2011)
Por Carlos Filipe
«Durante anos falou-se no Museu do Desporto, que seria criado pela reabilitação do Pavilhão Carlos Lopes. Depois, fez-se um silêncio de morte. Chegou a hora de erguer o Museu Olímpico, "uma peça de modernidade"
Era uma vez um museu, o do Desporto, cujo prometido acervo não se sabe ainda onde irá repousar. Morreu sem ver o raio de luz que lhe estava destinado no Parque Eduardo VII, em Lisboa, por fusão arquitectónica com a anunciada, mas adiada, reabilitação do Pavilhão Carlos Lopes, encerrado desde 2003, agora à beira da ruína.
Tomar-lhe-á o lugar o Museu Olímpico, que também honrará Carlos Lopes, mas sem dinheiro do Estado, e na Ajuda, colado à sede do Comité Olímpico de Portugal. Será uma obra distintiva, dizem os promotores, com programa museológico de terceira geração, com avançada tecnologia associada, interactividade e modernidade, com referências no premiado Museu Olímpico de Lausana. Para o ano começa a obra, coisa para cinco milhões de euros, suportados por mecenas portugueses e pela casa-mãe do movimento, na Suíça. O Pavilhão Carlos Lopes, esse terá de esperar que a Câmara de Lisboa lhe prepare um tratamento de revitalização e adaptação a fins multiusos.
Desde 2000, altura em que foi inaugurada a sede do Comité Olímpico de Portugal (COP), na Travessa da Memória, à Ajuda, que estava pensado ser o museu a metade de um todo. O terreno para a nova estrutura também foi cedido pela câmara, mas, agora que foram aprovados a volumetria e o plano de pormenor para aquela zona, o COP considera-se em condições de arrancar com a obra no primeiro semestre do próximo ano. Marques da Silva, secretário-geral do organismo, explica que o museu será integrado na futura zona pedonal que correrá desde o Palácio da Ajuda aos Jerónimos, o que facilitará até a sua visibilidade para os visitantes estrangeiros, e terá uma imagem de excelência em 6000 m2 de área, distribuídos por vários pisos. A polivalência estará garantida, podendo também acolher congressos, conferências e concertos, no interior e exterior, pois terá uma zona aberta para trás e ao lado da sede do COP. Os visitantes poderão contar com cafetaria e restaurante e uma loja de rigorosas reproduções de algumas das peças expostas. Paulo Azevedo e Julião Azevedo, que já tinham adaptado um antigo edifício a sede, assinam o novo projecto. Carlos Gomes, membro da Academia Olímpica, será o curador.
Museu do mundo
O Comité Olímpico Internacional será parceiro do projecto, não só garantindo parte do financiamento (25%), mas também colaborando com a disponibilização de conteúdos, que costumam rodar entre museus olímpicos dos seus comités associados. "Temos um protocolo com o COI e com a rede de museus para troca de elementos de exposição. O COI estimula estes projectos", explica Marques da Silva. Juntar-se-ão a PT, também com importante participação financeira, e que será fornecedor de avançada tecnologia, destacando o secretário-geral do COP a atenção que irá ser dada ao mundo digital e à interactividade: "Quem conhece os museus de Lausana e de Barcelona poderá ter uma ideia do que aqui iremos fazer. Será uma peça de modernidade. Poderemos correr ou fazer canoagem lado a lado com campeões olímpicos num ambiente virtual." A formação do restante acervo, e muito concretamente algumas peças que recordam os feitos olímpicos dos atletas portugueses, que não estão na posse do comité olímpico, é algo que ainda terá de ser negociado.
O espólio da memória desportiva portuguesa já andou de casa em casa, já esteve num prédio em Arroios, e, se não está em risco, continua em mudanças, uma vez desalojado das instalações do Complexo Desportivo da Lapa pela Estamo, uma imobiliária de capitais exclusivamente públicos, que em 2007 adquiriu aquele imóvel (ver outro texto).
A maior parte daquele espólio está à guarda do Instituto do Desporto de Portugal, mas seja não tem como destino final o anunciado Museu Nacional do Desporto, também não tem como ser mostrado. "É evidente que Carlos Lopes ou a Rosa Mota têm que estar entre nós. Vamos ter que conversar. Mas há outros atletas ou seus familiares interessados em doar espólios ao COP e para o museu", acrescenta Marques da Silva.
Actos públicos
Se o enterro do Museu do Desporto se fez sem anúncio, já o seu lançamento foi feito com apresentações formais, em finais de 2008, pelo Governo de José Sócrates e pelo município de Lisboa. O financiamento estava garantido por dotação do Turismo de Portugal - através de verbas das contrapartidas do jogo do Casino de Lisboa (1,7 milhões de euros) -, o concurso público fora lançado pelo Instituto do Desporto de Portugal (IDP), tudo foi publicado em Diário da República. Haveria é que ter sido tudo executado até 2010, caso contrário as verbas seriam perdidas.
Na altura, o secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias, não se mostrava muito preocupado com os atrasos para o lançamento de obra, admitindo que o museu já tinha um atraso de 20 anos. O concurso acabou por ser anulado, porque só apareceu um concorrente, disse o governante, acrescentando que a Câmara de Lisboa mudara de ideias, pois a obra deveria ser incluída na requalificação do próprio Parque Eduardo VII. "O pavilhão irá ser recuperado, mas sem a valência de museu, pois o Estado já desonerou a autarquia dessa obrigação", disse ao PÚBLICO Manuel Brito, vereador municipal com o pelouro do Desporto.
O autarca acrescentou que o que ali for feito será para lhe dar dignidade e funcionalidade, pois as suas dimensões estão desactualizadas face às exigências actuais da alta competição e dos grandes eventos internacionais. O imóvel foi concebido pelos arquitectos Guilherme e Carlos Rebelo de Andrade e Alfredo Assunção Santos para representar Portugal na Exposição Internacional do Rio de Janeiro de 1922, finda a qual foi desmontado e transferido para Lisboa.»
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Interessante o descaramento que reina por aí...
Ah bom, e quando é que desabará o Pavilhão Carlos Lopes?
ResponderEliminarTerrinha do blablablabla....
ResponderEliminarQuanto aos senhores(as) do Comité Olímpico de Portugal, não se esqueçam de estar presentes no dia 14 de Julho de 2012 em Estocolmo!
Este é mais um caso de polícia, com muito para investigar. Quanto à modernidade, do novo projecto, ui! Diria que retrata o Nacional parolismo e novo riquismo dum país que por estas e outras razões está na bancarrota - coitada da igreja da memória vai parecer fora de contexto!!! Gostava de saber qual o banco que vai fornecer o dinheiro e os nomes dos responsáveis desta estupidez irresponsável, etc.
ResponderEliminarSerá que toda esta fantochada é também para deixar o pavilhão num estado tão decrépito, (empresas do EStado e o truque da troika e da crise), os grupos do costume aparecem como salvadores e privatizam-no para um dos seus restaurantes ou salão de festas e ou reuniões maçónicas ou outras? A fome desta gente é infinita, vejam o crime que querem fazer na tapada das necessidades, ou a tentativa de tirar os bombeiros (vitais e bem colocados actualmente) na rua de s. Carlos, com a sua deslocalização para Monsanto, onde já existe outro quartel de bombeiros.
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