Por JOÃO BARRETA
«A existir um baralho de cartas em que o motivo fosse o Comércio - em vez de Ouros e Espadas tínhamos Lojas Tradicionais e Mercados/Feiras, e no lugar de Copas e Paus, estariam Grandes Superfícies e Centros Comerciais, o Mercado Municipal, quando não fosse trunfo, seria com toda a certeza um dos quatro ases do espectro Comercial das Cidades.
Um trunfo mal jogado, pode ser comprometedor, mas um Ás desperdiçado é uma perda quase irreparável!
É certo que, mercê também da sua localização privilegiada, no miolo da Cidade, o Mercado é um equipamento comercial que deve ser encarado para além de um meio que visa garantir o abastecimento público das populações locais ao nível dos frescos e outros perecíveis. Tal abordagem, quiçá demasiado ingénua, rapidamente foi sendo complementada por visões mais comerciais, no sentido lato da “coisa”, ou seja, um negócio potencial para a Cidade, para a sua oferta de Comércio e Serviços, e até para a própria requalificação urbana e gestão urbanística.
Olhando à nossa volta, vemos (…) a Ribeira (Lisboa), o Bolhão (Porto), o 1º de Maio (Barreiro), o Manuel Firmino (Aveiro), o D. Pedro V (Coimbra), o 1º de Maio (Évora) e o Livramento (Setúbal). Se bem que em distintas fases do processo, temos a prova de que se está a fazer algo em prol dos Comércios (como diria Fernando Pessoa), neste caso dos Mercados Municipais.
A discussão acerca do presente e futuro de um Mercado, acaba sempre por se quedar, numa primeira aproximação, por aspectos que não fugirão muito a problemas de acessibilidade, estacionamento, condições hígio-sanitárias exigidas e a inevitável concorrência das médias/grandes superfícies.
A um outro nível, já se aborda a adequação dos horários de funcionamento, a redefinição do mix comercial, a fidelização da clientela, os serviços complementares a prestar (prévios, durante e/ou pós-venda), o marketing (interno, externo e/ou interactivo), etc… .
Noutro patamar da dita discussão, cuja abordagem implica maior poder e responsabilidade e capacidade de decisão por parte dos actores (entenda-se, Autarquias e Operadores/Comerciantes), já se fala de novos modelos de gestão (directa, indirecta ou mista), parcerias público-privadas, (re)engenharia financeira (financiamento público, privado, etc…), negociação (concessão/exploração, …), etc… .
Numa revista espanhola da especialidade (e em Espanha, o Comércio até merece honras de “especialidade” !), é feita referência ao sector (é a expressão utilizada) dos Mercados Municipais, identificando três classes de Mercados – aqueles que fazem com que as coisas ocorram, os que esperam que as coisas ocorram e os que se surpreendem com o ocorrido.
Obviamente que quem age, quem espera e/ou quem é surpreendido não são os Mercados, mas sim os tais actores que poderiam e deveriam contribuir para a reestruturação funcional e revitalização comercial de tal equipamento (formato) comercial.
O Mercado é uma boa parte da vida e da vivência da Cidade, constituindo um óptimo barómetro, não só do nível e da qualidade de vida das populações, mas também um fiel indicador do momento actual da actividade económica local.
Nas cartas, um trunfo mal jogado, pode ser comprometedor, mas um Ás desperdiçado é uma perda quase irreparável!»
Duas pequenas histórias sobre a forma como Autarquias encaram os seus Mercados.
ResponderEliminar1- Adoptar um modelo de gestão para o Mercado? Cito comentário de responsável autárquico - "Isso é coisa da era espacial!".
2 - Mercados (e Feiras)? - Cito comentário de responsável autárquico - "Têm os dias contados, são estruturas do 3º Mundo!". Sem comentários.
Realmente, recorrendo ao feliz exemplo do baralho de cartas, então para essas pessoas os Mercados serão aquelas cartas que se excluem na maioria dos jogos - os 8´s, 9´s, etc... Serão, erradamente, cartas fora do baralho.
ResponderEliminarSerá que o facto de se utilizar a imagem "das cartas", não aludirá também a ... batota ?????????
ResponderEliminarMas o futuro, quem sabe, passará pelas feiras e mercados que hoje apelidam de 3ª mundo, porque o que acontecerá na Europa após o estoiro do Euro, ninguém previu...porque eramos todos do 1º mundo...Agora, muito em breve voltamos a merda que realmente somos, e lás estamos nós no 3º mundo dos Mercados e Feiras, que os dos Hipermercados e Centro Comerciais não pertencem ao nosso mundo...è esperar por Janeiro.
ResponderEliminarem Janeiro chegam os saldos
ResponderEliminar,Talvez os Mercados sejam como aqueles autarcas (e não só!) que deviam ter a responsabilidade efectiva de os organizar/gerir - os que fazem com que as coisas ocorram, os que esperam que as coisas ocorram e os que se surpreendem com o ocorrido (como refere o J.Barreta no seu texto). Que haja quem aborde estes temas. Dos outros mercados (bolsa, capitais, imobiliário, etc..., etc...) já estamos pelos cabelos!!!!!!!
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