07/12/2011

A cultura, o turismo e o património azulejar

In Diário de Notícias (6/12/2011)
por JORGE MANGORRINHA, PRESIDENTE DA C.N. DO CENTENÁRIO DO TURISMO EM PORTUGAL

«A anunciada carta de intervenção nos aspectos onde cultura e turismo se podem cruzar deve colocar a nossa identidade cultural ao serviço do desenvolvimento colectivo e identificar situações prioritárias de intervenção, designadamente pondo em relevo o nosso património mais distinto, mas também em vias de se perder.

O azulejo é um elemento notavelmente caracterizador e singular da nossa cultura artística e um ícone turístico muito apreciado. As fachadas de azulejo criam uma extraordinária dinamização dos planos, pela luminosidade reflectida, pela profusão de cores, pelo realce dos elementos arquitectónicas em jogo com as texturas e os padrões dos azulejos. Das épocas artísticas subjaz um património cultural de inegável importância, a merecer salvaguarda, conhecimento e valorização, sendo também um estímulo para novas produções. A juntar ao azulejo, há um conjunto de outros elementos cerâmicos, como frisos, barras, cantos e contra-cantos, placas, medalhões, balaústres, mísulas, vasos, urnas e estátuas.

Uma atenção para este património é urgente, dada a manifesta perda, pela deterioração dos edifícios, pela realização de intervenções desajustadas ou por roubo e comercialização. Sabemos como, designadamente, existem fluxos internacionais que viajam a Portugal com o objectivo de compra deste património.

A Comissão Nacional do Centenário do Turismo em Portugal apela para a definição de um Plano Nacional de Salvaguarda e Valorização do Património Cerâmico Urbano em Portugal, desejavelmente no quadro do recente acordo entre as secretarias de Estado da Cultura e do Turismo, de forma a estabelecer--se uma metodologia uniforme para os centros urbanos ricos neste património e de os responsáveis destes adoptarem a execução parcelar do Plano Nacional.

O turismo pode e deve ajudar na resolução deste problema. Um plano nacional poderá ser desenvolvido segundo uma metodologia participativa e interactiva, através da colaboração de entidades públicas e privadas, especialistas, artistas e cidadãos em geral, e a constituição de um grupo de missão ou comissão nacional do azulejo, sem que para tal se exijam encargos acrescidos, antes optimizando recursos dos centros de saber e das administrações públicas e potenciando os apoios mecenático e dos programas de financiamento.

Sublinhe-se, também, a necessidade de alargar a uma visão nacional, articulando os já existentes levantamentos georeferenciados e inventários e os tratamentos informáticos de existências, riscos e patologias, de forma a parametrizar doutrina e fundamentar critérios e metodologias de actuação, além de se iniciar um processo amplo de sensibilização dos cidadãos, através das redes sociais, de actuação com as entidades de carácter regulador e policial e de pedagogia e educação patrimonial em todos os níveis de ensino.

Há que fazer uma legislação nacional, uma base de dados do património cerâmico urbano e, também, a integração nesta missão dos contributos que substanciem o reconhecimento público para as boas práticas de salvaguarda, os projectos criativos e a edição de um guia nacional do azulejo. À salvaguarda desta identidade local deve-se juntar o incentivo à aplicação de revestimentos azulejares, ou outros elementos decorativos cerâmicos, através das parcerias entre empresas de construção, autarquias, escolas de ensino artístico, fábricas, oficinas e artistas, estimulando os campos criativo e produtivo.

O azulejo é um património de interesse cultural e turístico do nosso país e, pela sua singularidade, excepcionalidade e pelo reconhecimento por parte dos fluxos turísticos que nos visitam, um bem verdadeiramente de valor universal.»

2 comentários:

  1. A luta continua(rá), caro Jorge.

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  2. Supostamente parte dos lucros do Casino de Lisboa seria para projectos relacionados com o turismo em Lisboa. Poderia muito bem ir para isto, mas pelos vistos acharam que um novo Museu dos Coches era mais importante.

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