In Ionline, por Clara Silva - 27-01-2012
Chama-se Largo Residências e funciona como hotel e residência de artistas. Amanhã organiza uma festa com a curadoria da banda PAUS
No século XIX, pensa-se que foi dada uma concessão aos carroceiros para estacionarem sem problemas no Largo do Intendente. Na altura a zona ficava nas portas de Lisboa e os carroceiros costumavam ali parar antes de transportarem azeite, alface ou outros produtos para a cidade. Nos anos 60, uma empresa de camiões descobriu o “segredo” da concessão e ocupou a praça. Mas em vez de transportar alimentos, os camiões foram usados para prostituição e tráfico de droga e o Intendente ganhou fama de ser o novo Casal Ventoso. “No número 19 da praça funcionava a pensão mais fina da zona, extra bordéis em camionetas”, conta Joana Nóbrega. “A pensão 19, como era conhecida, foi uma grande dor de cabeça. Nós chegámos aqui dois meses depois de ter sido fechada e ainda encontrámos almofadas, bonecos e quadros.”
Joana é agora uma das duas directoras do Largo Residências, o projecto que se instalou no edifício com o número 19 e que funciona como hotel e residência de artistas em simultâneo. “Quando as prostitutas aqui da zona nos viam a entrar e a sair do prédio, começou a correr o boato de que éramos prostitutas finas e íamos abrir um bordel de luxo”, ri-se Joana. “A brincar costumávamos dizer que nos iam começar a mandar currículos para fazerem um upgrade de carreira.”
Em Setembro do ano passado, os camiões do Largo do Intendente foram substituídos por gruas que puseram em marcha as obras de reabilitação urbana da zona. O Largo Residências pode ser o primeiro passo para transformar o Intendente num sítio menos perigoso. “Mas não queremos interferir na forma de funcionar do comércio local e das pessoas”, sublinha Joana. A ideia não é que a zona se transforme num novo Cais do Sodré, “nem fazer uma lavagem de cara”.
O projecto foi uma ideia sua e de Maria Silva, a outra directora, que também dirige a Associação Sou – Movimento e Arte, e tem financiamento da Câmara Municipal de Lisboa. “À semelhança do Chelsea Hotel de Nova Iorque, onde viveram artistas e boémios que criaram muitas coisas, é um bocado isso que gostávamos de ter aqui para Lisboa”, explica Joana. “Um espaço onde os artistas se possam juntar e criar. Junto a isto vamos ter residências e uma programação regular.”
Planos A inauguração oficial do espaço só será na Primavera, até porque as obras ainda não começaram no rés-do-chão. “Vai haver um estúdio para os artistas trabalharem e um espaço de cafetaria”, diz Joana. O primeiro andar também está por acabar, já que será preciso construir uma casa de banho privativa em cada um dos quartos.
O segundo andar, esse sim está ocupado e é lá que encontramos Pedro Gonçalves, dos Dead Combo, a trabalhar. “Pedi-lhes para vir para aqui uma semana”, diz. O seu escritório foi improvisado ao lado de um quarto onde a cama é feita de paletes – “foi pensada de propósito para aqui”, explica Joana – e no chão há um quadro de Amália Rodrigues com um postal de Nossa Senhora.
Alugar um quarto no Largo Art Hotel, assim se chama, custa entre 25 e 45 euros, preços pré-inauguração. “Depois disso rondarão os 40 e os 80 euros, consoante sejam singles ou duplos.”
O prédio, que pertence ao espólio da fábrica de azulejos Viúva Lamego, tem também uma residência de artistas. Para já, os quartos estão ocupados por artistas amigos e outros que apareceram entretanto, como a fotógrafa Hélène e o seu gato Raul, que gosta de fugir escadas abaixo. “O hotel é uma maneira de sustentarmos a estrutura artística, de termos um financiamento”, afirma Joana. A par disso, o Largo Residências começa a chamar a atenção através das festas que dinamiza em espaços até então desconhecidos no Intendente.
A primeira foi o lançamento do último álbum dos Dead Combo, “Lisboa Mulata”, no Sport Clube do Intendente. Em Dezembro, associaram-se à Música Portuguesa a Gostar Dela Própria para uma festa cheia de concertos (Presidente Drógado e Samuel Úria foram alguns dos músicos) intitulada “Quero Ver o Tom Waits Num Bar de Alterne do Intendente”. No mesmo espaço, um armazém perto do Ginásio Clube de Lisboa, a equipa organizou uma festa de passagem de ano que teve o DJ Ride como cabeça de cartaz. “É mais fácil trazer as pessoas a concertos e juntá-las para beber os copos e a partir daí dares a conhecer o teu trabalho”, diz Joana. “Não estamos a inventar a pólvora, a ZDB [Galeria Zé dos Bois] sempre fez isso.”
Amanhã inicia-se um novo ciclo de festas no mesmo armazém, a Trilogia da Vida. O projecto convida artistas para comissariarem um dia de programação. Desta vez são os PAUS, que decidiram trazer ao Intendente o Filho da Mãe, o projecto Montanhas Azuis (Norberto Lobo e Mário Franco) e Joana Sá & Eduardo Raon. Em Março a curadoria será dos Dead Combo.
Em Maio, começa um ciclo de programação cultural nos bares de alterne da zona, na Rua dos Anjos e do Benformoso. Nas “Noites Independentes”, assim se chamam, os bares serão animados um sábado por mês pelo Largo Residências.
Trilogia da Vida Fácil com os PAUS. Amanhã, a partir das 18h00. Taberna das Almas – Regueirão dos Anjos, 68, 70. Preço: 10 euros
esse meninos, neste caso meninas, andam a formatar a cidade, a limpar a identidade e a transformar numa galeria que de de arte nao tem nada. gostava de saber quem paga esta brincadeiras, para quem são e para quê....
ResponderEliminarcom esses preço de certeza que não interferem com o comércio local. nem com os locais. como pergunta o anónimo acima, então isto é para quem?
ResponderEliminarlimpar a identidade da cidade? em vez de um largo todo arranjadito, o sr. Anónimo prefere um antro de prostituição e narcotráfico não é? isso sim é a identidade de Lisboa! quem paga esta brincadeira? todos os envolvidos! para quem são? para artistas, por isso esteja descansado que escusa de gastar lá o seu dinheiro. e ao sr. Anónimo #2, este é um projecto que veio trazer uma nova alma ao Intendente, basta perguntar aos comerciantes e habitantes locais. e mais uma vez, isto é para os artistas e para os locais...
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