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27/01/2012
A propósito da não- renovação da direcção de Luís Raposo no MNA
Por Raquel Henriquesda Silva in Público
Membro da Secção Museus do Conselho Nacional de Cultura, por escolha das universidades com ensino de Museologia
Debate Património e museus
Desde a tomada de posse do Governo, o sector do património e dos museus vive entregue a si próprio, com chefias a prazo e ausência total de linhas direccionais de actuação. Aguarda-se a publicação da Lei Orgânica da nova Direcção-Geral do Património que reunirá amplíssimas funções, repondo, em grande medida, o quadro existente na década de 1980. Não houve discussões prévias, reflexão conjunta, consultas a especialistas. Antes um pesado silêncio, permitindo considerar que a razão de ser de tão grande reforma é apenas financeira.
No caso dos museus, ainda tutelados pelo fantasmático Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) e com orçamentos zero, vive-se uma situação paradoxal: por um lado, o milagre de se manterem abertos com dignidade e, em alguns casos, com excelente programação; por outro, uma inquietação indagadora e ciciante sobre as mudanças anunciadas e quem as irá desempenhar, inscrita num clima de medo.
Peso o que acabei de dizer: na ausência de articulação produtiva com o director do IMC, os directores dos museus tutelados sentem-se ameaçados com o uso discricionário da não-renovação dos seus lugares. Já aconteceu a alguns, e não a outros, pode acontecer no próximo mês ou no seguinte... Fazem-se vaticínios, procura-se compreender a lógica... Por exemplo, será que os directores que assinaram uma carta para a tutela, com algum teor reivindicativo, são os que estão a ser despedidos?
Neste contexto deprimentíssimo, eis que salta para os jornais a notícia da não-renovação da comissão do Luís Raposo (L.R.), director do Museu Nacional de Arqueologia (MNA) e presidente do ICOM-Portugal. Ao contrário de outros, L.R. não recebeu a notícia em silêncio, divulgando, com a sua habitual frontalidade, que não lhe foram apresentadas razões para o acto, comunicado por carta com atraso administrativo.
Quem acompanhou os acontecimentos dos últimos anos, sabe que L.R. confrontou duramente o IMC e o Ministério da Cultura pelas decisões anunciadas para o MNA que garantiam a sua reinstalação na Cordoaria, com a entrega do seu actual espaço ao Museu de Marinha. Além de confrontar, resistiu, o mais que pôde, à humilhação de ter que devolver àquele museu a chamada Torre Oca, sem razão de ser, senão a de executar uma decisão espúria da então ministra.
Mas, além do que diz respeito ao MNA, L.R. manifestou-se criticamente sobre outros aspectos da actuação do IMC e, no início desta legislatura, escreveu um artigo poderoso, levantando dúvidas sobre a orgânica anunciada para o Património.
Na maioria dos casos, concordei e continuo a concordar com as críticas de L.R. e admiro a sua militância, tão rara no meio dos museus em Portugal. Claro que sei que um director deve lealdade à tutela e o cumprimento das suas políticas. Mas esses pesados deveres só têm sentido quando a tutela é ela própria leal às suas equipas, coerente no enunciado das políticas e aberta à sua discussão entre especialistas. Senão, o mando é prepotência antidemocrática.
Na minha opinião, é o que acontece actualmente no IMC, autorizando a leitura, que é minha e de muita gente: a não-renovação da comissão de L.R. é acerto de contas mesquinho e exercício de falsa autoridade.
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"por outro, uma inquietação indagadora e ciciante sobre as mudanças anunciadas e quem as irá desempenhar, inscrita num clima de medo."
( ...) "os directores dos museus tutelados sentem-se ameaçados com o uso discricionário da não-renovação dos seus lugares. Já aconteceu a alguns, e não a outros, pode acontecer no próximo mês ou no seguinte... Fazem-se vaticínios, procura-se compreender a lógica... Por exemplo, será que os directores que assinaram uma carta para a tutela, com algum teor reivindicativo, são os que estão a ser despedidos?"
Perante um silêncio ensurcedor e permanente por parte de Historiadores de Arte … no que respeita as questões da Salvaguarda e Defesa do Património, permanentemente ilustradas neste “blog” ( por clima de medo ?) … louvo esta corajosa e pertinente intervenção de Raquel Henriques da Silva.
Quanto a Luis Raposo, a sua frontalidade, as possíveis consequências … e quanto ao tema interligado … as trapalhadas do Novo Museu dos Coches … depois da Notícia de Primeira Página do Público … continuamos na mesma … sem saber nada sobre o Futuro …
António Sérgio Rosa de Carvalho.
Então agora RENOVAÇÃO do lugar (SIC) de cada um passou a ser obrigatória?
ResponderEliminarAcho essa o máximo.
Este país vai longe, vai...
Bem....a cultura em Portugal defronta-se com um problema velhinho de nomeações politicas e, enquanto esse não for resolvido....caldo entornado.
ResponderEliminarmas quais nomeações políticas?
ResponderEliminaros cargos de direcção dos museus públicos deste país são objecto de concurso público há alguns anos.
qualquer recondução só tem lugar após esse concurso, algo que ainda não se verificou neste momento para o MNA. ora, se assim é, porquê fazer este anúncio? que interesses estão realmente em jogo nesta aldrabada?
mas está tudo doido? já ninguém se informa convenientemente antes de criticar a opinião dos outros?
sesto