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05/03/2012
Lusoponte propõe nova ligação em ponte do Barreiro à Vasco da GamaNova ligação Barreiro-Vasco da Gama
O novo trajecto encurtaria em 15 quilómetros a ligação entre o Barreiro e Lisboa pela Vasco da Gama
Por Jorge Talixa in Público
A Lusoponte quer construir um novo acesso à Vasco da Gama, mas os autarcas apontam os impactes ambientais da nova ponte e temem que esta via ponha em causa a terceira travessia do TejoProposta inclui ponte com quatro quilómetros
A Lusoponte está disposta a investir mais de 80 milhões de euros na construção de uma via rápida de 11 quilómetros que ligue a península do Barreiro à Ponte Vasco da Gama. O projecto, no entender da empresa, permitiria desviar trânsito da saturada 25 de Abril para a Vasco da Gama e constitui uma alternativa à estudada, mas nunca concretizada terceira travessia do Tejo (TTT) na zona do Barreiro. Esta nova ligação Barreiro-Montijo tem, contudo, a oposição do município da Moita, que rejeita o traçado proposto, sobretudo pelo impacte ambiental e social que teria na chamada "bacia Moita-Sarilhos", para onde prevê uma ponte de quatro quilómetros com 76 pilares e apenas um vão com condições de navegabilidade.
Os autarcas da Moita preferem a construção da Estrada Regional 11-2, também conhecida por Circular Regional Exterior da Moita (CREM), há muitos anos prevista no Plano Rodoviário Nacional, que dizem que cumpre praticamente os mesmos objectivos de ligação à Vasco da Gama com muito menores custos e sobretudo com a vantagem de não afectar aquele plano de água do estuário do Tejo e de assentar "em meio terrestre, segundo uma topografia suave e sem constrangimentos de maior".
Certo é que a Lusoponte apresentou, em Janeiro, aos municípios do Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete um programa preliminar de construção desta ligação Barreiro-Montijo, também conhecida por "Circular do Arco Ribeirinho Sul".
A ideia será construir uma estrada com duas vias de circulação em cada sentido, entre a Rotunda 25 de Abril (junto à antiga Quimiparque no Barreiro) e um novo nó de ligação à A12 (acesso à Vasco da Gama) na zona do Montijo. O trajecto proposto de 11 quilómetros inclui um troço de quatro quilómetros totalmente sobre água da bacia Moita-Sarilhos, que passaria a sul da ilha do Rato, a partir da zona da nova Estação de Tratamento de Águas Residuais Barreiro-Moita, e até ao cais fluvial do Seixalinho, a sul da Base Aérea do Montijo. Os estudos já efectuados pela Lusoponte apontam para um investimento que pode situar-se entre os 54 e os 83 milhões de euros que, segundo os autarcas, a Lusoponte estará disposta a suportar.
E está disposta a pagar sobretudo porque esta nova estrada poderá levar muitos utentes da península do Barreiro a optarem pela travessia da Vasco da Gama em vez de pela saturada 25 de Abril. A empresa concessionária destas duas pontes considera que a Vasco da Gama está "claramente subutilizada e muito aquém da sua capacidade máxima, gerando menos receitas do que à partida seria expectável", refere um parecer da Câmara da Moita a que o PÚBLICO teve acesso. Por isso tem a "expectativa" de que esta nova estrada possa "vir a captar um maior número de utilizadores para a Vasco da Gama" para as ligações a Lisboa e à restante margem norte do Tejo, porque reduz também a distância entre o Barreiro e zonas da capital.
TTT em causa
Numa primeira reacção, a Câmara do Montijo mostra-se favorável à proposta e a Câmara do Barreiro defende um envolvimento do Governo na discussão, porque percebe que o eventual desenvolvimento desta via iria colidir com a aspiração da construção da TTT. Essa é também a leitura do município da Moita, que entende que esta proposta da Lusoponte é "explicitamente" de uma infra-estrutura alternativa à componente rodoviária da TTT e conclui que estará completamente afastada a hipótese de um novo atravessamento do Tejo em rodovia no eixo do Barreiro. Os autarcas da Moita interrogam-se mesmo se isto significa que estará também excluída em definitivo a concretização da TTT no respeitante às componentes ferroviária e de alta velocidade e sustentam que isso deverá ser claramente esclarecido pelo Governo antes de se equacionarem estas alternativas.
O parecer agora enviado pela Câmara da Moita à Lusoponte reconhece que esta proposta viria reduzir as distâncias nas ligações entre o Barreiro, o Montijo e Alcochete (onde actualmente já existe o eixo composto pelos itinerários complementares 21 e 32 e pela A 12) e encurtar em 15 quilómetros o percurso entre a cidade barreirense e Lisboa, através da Vasco da Gama. Só que tem, no entender da autarquia moitense, um conjunto de impactes ambientais inaceitáveis, porque afecta directamente "um dos mais delicados e vulneráveis espaços naturais de todo o estuário do Tejo", que classifica como "o maior património ambiental do concelho da Moita", onde subsistem uma importante biodiversidade e actividades ligadas às embarcações tradicionais, às práticas desportivas e à observação da avifauna. "A bacia Moita-Sarilhos é um valor insubstituível em qualquer visão de futuro sobre toda a frente ribeirinha do Tejo, valor que viria a ser imediatamente colocado em perda, caso fosse viabilizado um empreendimento como a infra-estrutura que é proposta pela Lusoponte", afirma a Câmara da Moita. Defende por isso uma maior aposta nos transportes públicos e a concretização da CREM, prevista no Plano Rodoviário Nacional, que julga ter menores impactes, várias vantagens para o seu território e ganhos semelhantes para os restantes três concelhos: "A CREM partilha um traçado preferível ao que é proposto pela Lusoponte. Não implica impactes ambientais gravosos, permite a sua optimização em relação à articulação com as redes existentes, é capaz de estruturar um território, preparando-o para a recepção de actividades económicas ao longo da sua extensão e implica um custo de construção substancialmente inferior."
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