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15/03/2012
Quando voltarão as árvores a dar sombra no novo Largo do Intendente?
Por Joana Freitas Carlos Filipe in Público
Com o início das obras de requalificação do espaço foram cortados os plátanos que ali tinham sido colocados há décadas. Estavam doentes, diz a Câmara de Lisboa, garantindo que serão substituídos
A vista mudou no final da Rua da Palma, acabada de se separar da Avenida Almirante Reis, que já foi da Rainha Dona Amélia, onde bifurca para o Largo do Intendente de Pina Manique, desde há pouco local do gabinete de trabalho do presidente da Câmara de Lisboa. Os quatro plátanos que há décadas sombreavam o largo já lá não estão, cortados sem aviso prévio. A população não gostou da novidade mas a câmara diz que estavam velhos e doentes e que serão substituídos por mais árvores, em quantidade e em espécie.
Onde há obras em curso, especialmente em ambiente urbano, a curiosidade é aguçada, acrescentando-se, também, algum sentido de vigilância ao que está a ser feito. É por isso que é normal deterem-se em observação. Outros miram o que se passa das janelas e correm para as redes sociais a contar a novidade.
Esta obra não se limita ao espaço do largo, onde já está assente piso novo - parte dele em laje, de lióz, outra em calçada, de calcário, basalto ou granítica - e à Rua do Benformoso, ainda esventrada, mas também à recuperação de edificado.
Diante da barbearia, junto ao cartaz que anuncia a intervenção, lamenta-se o abate das árvores. Juvenal Lopes tem 72 anos, mora um pouco mais para cima, na Almirante Reis, e já não trata de canalizações. "Tenho as mãos cheias de artroses, já não consigo colocar uma torneira. E tantas que eu mudei", diz, acrescentando que, no sobe e desce pela avenida, aproveitava para repousar um pouco, à sombra de uma grande árvore, sentado no chafariz. Ambos já lá não estão. "Eles acabam com tudo", diz, com ar aborrecido.
Antigo bebedouro
Aquele chafariz haverá de voltar ao largo. Não é mais que uma taça de pedra de grandes dimensões, mas de onde já não brota água desde os anos 40 do século passado. Uma referência fotográfica do Arquivo Municipal de Lisboa diz que naquele bebedouro público corria uma água sulfatada cálcica, mas que devido a eventuais infiltrações freáticas, acabou por ser desactivado. Era sombreada por uma grande árvore, um plátano (Platanus hybrida), espécie muito comum na cidade por ser de crescimento rápido e muito resistente à poluição urbana, mas também por muitos vilipendiada, por propiciar alergias várias. Naquele arquivo está também depositada uma imagem, da autoria de Eduardo Portugal, que retrata o plátano, de data imprecisa, mas presumivelmente tirada entre 1944 e 1946. Já então se mostrava frondoso e generoso na sombra que proporcionava.
Subitamente, em Fevereiro, tudo mudou. O corte apanhou a população de surpresa. O mesmo aconteceu no Porto, na semana passada, situação muito contestada pelo Bloco de Esquerda, que lamentou o abate de dezenas de árvores sem que a câmara anunciasse à população as razões.
A justificação da Câmara de Lisboa chegou ao PÚBLICO pelo gabinete do vereador José Sá Fernandes, vereador do espaço público: "Foram retirados [os plátanos] devido ao estado fitossanitário dos exemplares, cujas propriedades de resistência mecânica do material lenhoso estavam profundamente degradadas, havendo risco de ruptura e, consequentemente, perigo para a integridade de pessoas e bens. Em sua substituição vão ser plantadas no largo dez árvores - sete plátanos e três freixos -, espécies seleccionadas pelos projectistas."
Risco de ruptura
"Efectuámos o levantamento fitossanitário e de avaliação de risco de ruptura de três plátanos no Intendente, pois nos últimos anos a preocupação da avaliação do risco de queda de ramos e de árvores tem sido uma constante para os técnicos responsáveis pelo verde urbano, na medida em que a sua substituição ou a sua manutenção implica uma decisão que envolve o património e a vida de terceiros, o que também é uma base para prevenir conflitos e reacções contrárias ao abate de árvores", disse Filomena Caetano, coordenadora do Laboratório de Patologia Vegetal Veríssimo de Almeida (LPVVA), a quem a autarquia recorre.
De acordo com a planta da obra de recuperação do Largo do Intendente, orçada em 1,3 milhões de euros e que deverá estar concluída em Junho, ali serão plantados plátanos adultos e jovens freixos. Ainda que os plátanos sejam de crescimento rápido, poderão ajudar a baixar ali a temperatura já neste Verão?
A coordenadora do LPVVA, serviço do Instituto Superior de Agronomia, acredita que sim: "Não é invulgar o transplante com sucesso de árvores adultas na nossa cidade. Aqueles novos plátanos terão um PAP [perímetro à altura do peito] de 30 centímetros pelo que serão exemplares com um porte considerável. Os plátanos são espécies de crescimento rápido e, se bem implantados, depressa desempenharão os benefícios para que foram destinados: sombra e estética."
A idade maior do plátano é atingida aos cinco anos, crescendo um metro por ano. Poderá atingir uma altura média entre 30 e 40 metros, um diâmetro de copa de 30 metros e uma longevidade de 200 anos.
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