31/05/2012

Ciclovia do Parque da Bela Vista - Entre a propaganda e a realidade



Anda pela cidade de Lisboa um cartaz do Rock in Rio a incentivar a ida para o recinto de bicicleta. Inclusive, foi construída uma nova ciclovia com esse objectivo, e que era uma medida compensatória para a autorização do evento. Escreve-se que houve a intenção de ajudar "incentivar o uso da bicicleta como meio de transporte até à Cidade do Rock" e ajudar "as necessidades de mobilidade sustentável da população".


Quanto ao primeiro objectivo, a consulta das Normas de Utilização do Parque de Bicicletas do Rock in Rio é esclarecedora: 
  • São 100 lugares de estacionamento
  • É necessária uma reserva prévia até 24h antes da abertura do dito estacionamento
Num evento que chama a si 80.000 pessoas, permitir que 100 delas vão de bicicleta e chamar-lhe uma ajuda à mobilidade sustentável roça o ridículo. São 0.125% dos espectadores. Mas garantiu publicidade positiva e a fotografia da praxe, com António Costa a surgir como o grande promotor dos meios suaves. Terá alguém perguntado a algum dos presentes no lançamento da dita pista como chegou até ela naquele dia? Estou certo que os elementos da FPCUB chegaram a pedalar, já quanto aos elementos da autarquia, era interessante saber.


Também nunca vi lugares de estacionamento que requeiram pré-reserva com 24h de antecidência, mas gostaria de ver esse princípio aplicado ao automóvel. Mas essas ideias peregrinas só são boas quando são para aplicar aos outros e não para serem experimentadas pelos próprios.


É óbvio que também não há promoção de mobilidade sustentável alguma, como resultado desta ciclovia, mas apenas uma via de acesso ao Parque da Bela Vista, para quem, a partir das Olaias lá quiser ir dar um passeio. Promoção da mobilidade suave sustentável é outra coisa. Passa, entre outras, por políticas que permitam o trânsito fácil de pessoas e bicicletas dentro da cidade nos percursos já existentes, com o mínimo de entraves possíveis e utilizáveis nos percursos diários. 


Uma ciclovia é, em muitos casos, uma má opção. Quando construída em cima de passeios pré-existentes, é uma péssima opção que não é boa nem para os ciclistas nem para os peões. Ciclovias em parques recreativos são interessantes para a promoção da prática desportiva ou do convívio ao ar livre, mas não resolvem problema algum de mobilidade na cidade (a não ser que se viva de um lado do parque e se trabalhe do outro e essa for a via mais fácil de acesso). 


O ideal para a promoção da utilização da bicicleta é que se possa circular pelas vias já existentes e que são compatíveis com a partilha entre automóveis e transportes públicos. Mas para tal são precisas outras políticas concretas e não de propaganda sem qualquer efeito prático para o que se diz pretender.

4 comentários:

  1. obviamente tinha de haver um limite.
    Eu fui de bicicleta ao RIR, e posso dizer que muito faltou para esse limite de 100 ser ultrapassado..
    assim sendo nao vejo razao para refilar, ja que nem 20 eu vi lá.

    tambem a pré reserva foi uma formalidade apenas para o caso de encher, e que como nao encheu, nem sequer foi feita qualquer verificação de reservas..

    quanto ao resto, de acordo :)

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  2. Muito bem dito.

    No caso concreto de Lisboa (mas que poderá ser generalizado a muitas outras localidades), infelizmente temos actualmente na CML pessoas que acham que tudo o que meta o nome "bicicletas" é automaticamente sinónimo de mobilidade sustentável e motivo de aplauso. Não é, como bem aponta o Pedro Fonseca.

    Mais infelizmente ainda, a reacção a críticas como esta - que são construtivas, note-se, porque apontam outros caminhos que se poderiam seguir rumo a uma cidade verdadeiramente multi-modal - por parte dessas pessoas é de chamar aos críticos "bota abaixo" e escandalizarem-se com a ingratidão dos "ciclistas que só sabem dizer mal". Preferem dar ouvidos aos aplausos de circunstância dos que apoiam as ciclovias a todo o custo e encolhem os ombros face ao desnorte que vai nos departamentos de Mobilidade, desculpando-se com o já muito batido "vamos fazendo os possíveis".

    Enfim, é o que temos. Para quem pensa pequeno, qualquer migalha é banquete.

    Olhe, há quem não o faça - http://mubi.pt - e está aberto a todas as contribuições.

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  3. Com vossa licença, chamo a atenção para o que se passa no Parque das Nações, onde foram colocadas umas marcas para delimitar a faixa para os ciclistas numa das zonas mais "populares", junto ao rio, onde há frequentemente crianças, adultos e seniores e muitos turistas passeando a pé.

    Se há ciclistas que por ali passam calmamente, muitos na companhia dos filhos, outros, latagões sem maneiras, percorrem a zona a grande velocidade e preocupados apenas consigo próprios.

    Parece-me que ali é o típico caso de péssima opção, que não é boa nem para ciclistas nem para peões nem adianta nada em termos de mobilidade e que nada incomodava quem dispõe de bicicleta ter de fazer um pequeno desvio ou percorrer a zona a pé.

    E nunca vi qualquer dos sem-maneiras ser chamado à atenção fosse por quem fosse (exceptuando um ou outro gesto de desagrado de algum peão).

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