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03/09/2012
Quiosques. As caixas que trouxeram os lisboetas para a rua.
Quiosques. As caixas que trouxeram os lisboetas para a rua
Por Pedro Rainho, publicado em 3 Set 2012 in (jornal) i online
Houve nove propostas para explorar o quiosque do Jardim da Parada. O vencedor – já atribuído – terá de pagar uma renda mensal de 500 eurosQuadro naïf de fim da manhã: uma criança luta para se equilibrar em cima do muro do lago, num jardim de Lisboa. Agarrado à mão do pai, espreita e estica o dedo na direcção dos peixes, que se multiplicam no fundo. O cenário repete-se uma e outra vez ao longo do dia no Jardim Teófilo Braga, em Campo de Ourique, e justifica o pensamento de Maria José, quando diz que “este é um bairro muito familiar”. As dezenas de reformados que à tarde se juntam para um jogo de cartas nas mesas de metal compõem a pintura. No local – conhecido como Jardim da Parada, porque “na rua aqui atrás está o quartel de infantaria e os militares costumavam vir para aqui fazer a parada”, explica outro visitante de décadas, Manuel Valente – vai estrear em breve um novo quiosque, a somar aos mais de quarenta que foram instalados na cidade desde 2008.
VIVER A RUA “Os quiosques criam uma vivência do espaço público muito interessante. E temos clima apropriado para poder usá-los”, refere Frederico Valsassina. O arquitecto considera que estes equipamentos “sedimentam o espaço público e criam as condições para que as pessoas vivam esses espaços”. O céu azul, sem uma única nuvem à vista, reforça essa ideia, num final de manhã em que estarão cerca de 50 pessoas nos vários espaços do parque de 4000 metros quadrados, quase todo coberto pela sombra das árvores, algumas das quais classificadas como sendo de interesse público.
No coreto, a um canto, todo construído em madeira, já só quase no Santo António há animação. Uma regra quebrada pontualmente por espectáculos com fantoches para crianças, ao fim-de-semana. Num dos muitos bancos do jardim, Helena Silva e Maria José passam alguns minutos à conversa, antes da ida habitual ao mercado para comprar peixe fresco, a poucos metros dali. Amigas de décadas – “Já nos conhecemos vai para mais de cinquenta anos, trabalhávamos em clínicas do mesmo grupo, aqui em Lisboa” –, recordam este mesmo jardim, mas numa outra época. “Antes, havia aqui música todas as semanas. E quando faltava a água em casa, vínhamos às festas e trazíamos uma bilha, que enchíamos numa cascata que estava onde agora montaram as mesas verdes”, recorda Maria José. As mesmas onde agora se travam batalhas acesas de lerpa e sueca.
Frederico Valsassina considera que “a segurança dos bairros faz-se pelas próprias pessoas, pelas vivências dos espaços”. E Lisboa tem ganhado uma nova dinâmica humana em torno destes jardins, desde que a autarquia decidiu apostar na reabilitação de quiosques, um conceito centenário que mostrava evidentes sinais de abandono e de extinção na capital. Aos poucos, a tradição tem vindo a ser recuperada.
JARDIM DE BAIRRO Em Campo de Ourique, o novo quiosque foi montado há cerca de três semanas e prepara-se para abrir ao público. Paredes em metal, pintadas de um verde escuro, e um toldo branco em cima, a toda a volta. Estilo clássico – baptizado de “Olísipo” –, uma das três versões vencedoras do concurso que a autarquia abriu há alguns anos, na primeira fase do projecto, mas que motiva o lamento de Valsassina: “Tenho pena de que a câmara não lance uns concursos de desenho. O formato clássico desses quiosques integra-se bem nas zonas antigas da cidade. Mas as zonas novas mereciam um estilo mais contemporâneo.” A opinião é partilhada por Catarina Portas, jornalista que há cerca de três anos e meio deu os primeiros passos na exploração de três quiosques tradicionais na capital – um modelo diferente dos recém-instalados. A empresária prepara-se agora para inaugurar um quarto espaço. “Os quiosques sempre foram diferentes uns dos outros. Estes são todos iguais, não correspondem à história destes equipamentos”, refere.
Para o concurso da licença de exploração do quiosque no Jardim da Parada chegaram à autarquia nove propostas. O vencedor – já atribuído – terá de pagar uma renda mensal de 500 euros, e a concessão é válida por dez anos, mas pode ser prolongada por mais seis. Dos pouco menos de 4000 metros quadrados, 36 estarão atribuídos à esplanada do quiosque que vier a ser instalada.
Tal como todos os outros quiosques, o do Jardim da Parada deverá disponibilizar acesso gratuito à internet. Mais uma das formas que a autarquia encontrou para conseguir que os pequenos espaços verdes da cidade sejam ocupados durante mais tempo pelos lisboetas. O parque infantil desempenha a mesma função, direccionada para outro tipo de visitantes: as crianças. Os escorregas, os baloiços e os equipamentos de diversão habituais nestes espaços bastam para prender a atenção dos mais novos. Ao lado, ou fora da cerca de madeira que rodeia a área, os pais revêem amigos e trocam ideias dispersas com vizinhos. Toque sublime que encerra a pintura.
Marabilha!
ResponderEliminarEstar uma pessoa num quiosque com o pessoal do skate ali por perto deve ser marabilhoso. Tenho de experimentar.
Adenda:
ResponderEliminarA foto é de qual Jardim da Parada?
não, a foto é do largo da misericórdia no bairro alto, ou seja não tem nada a ver
ResponderEliminarcorreção é do largo camões no bairro alto, continua a não ter nada a ver (em termos de localização, o de campo de Ourique tem um ambiente muito mais familiar) com o jardim da parada que é em campo de Ourique.
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