15/12/2012

A Propósito e Recordando ... Originalmente publicado em 16/02/2012



Uma das ourivesarias mais bonitas de Lisboa vendeu ontem as suas últimas peças
Por Ana Henriques in Público

Estabelecimento centenário da Rua Garrett fecha as portas. Prédio vai entrar em obras, mas proprietários prometeram preservar interiores da loja


Uma das ourivesarias mais bonitas de Lisboa, a Aliança, na Rua Garrett, fechou ontem as portas. O prédio vai entrar em obras e o estabelecimento já não reabrirá, pelo menos pelas mãos dos seus actuais proprietários. 
A empresa que comprou o edifício, a imobiliária espanhola Solayme Real Estate, promete preservar os faustosos interiores da centenária loja. "Eles assumem que se trata de um pau de dois bicos: embora valiosos, os interiores condicionam o ramo de negócio que poderá vir aqui a funcionar. Uma loja de roupa, por exemplo, precisa de prateleiras, que não existem", conta a sócia-gerente da Aliança.
Desde que alertou a Câmara de Lisboa para o perigo de perda deste património, esta responsável diz que já ali foram técnicos de quatro departamentos camarários, fotografar e inventariar recheio e fachada do estabelecimento. Aos interiores glamorosos em tons pastel e dourado estilo Luís XVI, a ourivesaria soma uma fachada de ferro trabalhado de inspiração romântica. O tecto da sala que acolhe os visitantes foi pintado em 1914 por Artur Alves Cardoso, autor de vários trabalhos do género na Assembleia da República. 
Nos últimos dias da ourivesaria foram vários os clientes habituais que aproveitaram para comprar peças que já andavam a namorar há algum tempo. Nenhuma jóia ou outra peça especial foram, no entanto, vendidas durante o dia de ontem - apenas anéis, brincos e outros acessórios em prata e ouro. "O público tem de começar a ir fazer compras às lojas do comércio tradicional, senão elas não sobrevivem", avisa a sócia-gerente, numa referência às muitas pessoas que foram visitando a Aliança como se de um museu se tratasse, mas que nunca ali deixaram um cêntimo.
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"A empresa que comprou o edifício, a imobiliária espanhola Solayme Real Estate, promete preservar os faustosos interiores da centenária loja. "Eles assumem que se trata de um pau de dois bicos: embora valiosos, os interiores condicionam o ramo de negócio que poderá vir aqui a funcionar. Uma loja de roupa, por exemplo, precisa de prateleiras, que não existem", conta a sócia-gerente da Aliança."
"Desde que alertou a Câmara de Lisboa para o perigo de perda deste património, esta responsável diz que já ali foram técnicos de quatro departamentos camarários, fotografar e inventariar recheio e fachada do estabelecimento"

Claro que a C.M.L.dispõe e reuniu de toda a informação necessária para garantir a salvaguarda total destes Interiores … Existe até um dossier formulado pelo então Núcleo de Estudos do Património.
Relembro também que acompanhei na altura a transição da Alfaiataria Rosado Pires na Rua Augusta para a Calzedónia e aí foram preservados na altura todos os elemementos, incluindo o mobiliário  … (entretanto algumas alterações ja foram feitas por desinteresse da C.M.L.)
Faço a transcrição em baixo da passagem que se refere à Rosado Pires …
Ver : “As lojas tradicionais da Baixa. Desafios presentes e futuros”, António Sérgio Rosa de Carvalho pags 93-100 in http://ulisses.cm-lisboa.pt/data/002/002/pdf/baixapomb.pdf

No entanto relembro, o que já disse aqui em 26/01/2012

Quando se fala em Património Arquitectónico no caso da Ourivesaria Aliança ... fala-se de um conceito Integrado Total ...em UNIDADE INDIVÍSIVEL...de Exteriores, Interiores e MOBILIÁRIO ... o conhecido conceito e conhecido internacionalmente como Gesamtkunstwerk ...
Quando a proprietária actual da Ourivesaria afirma que vai levar apenas as pratas e o ouro ... e deixa tudo o resto ( o mobiliário ) no Local para onde foi concebido originalmente ... está a reconhecer e a afirmar públicamente que se trata de um TODO ... e que esse TODO é indivísivel e pertence à Cidade de Lisboa e constitui um Legado Cultural insubstituível ...
The use of the term Gesamtkunstwerk in an architectural context signifies the fact that the architect is responsible for the design and/or overseeing of the building's totality: shell, accessories, furnishings, and landscape.

“A alfaiataria Rosado Pires, na Rua Augusta, manteve até hoje, miraculosamente, os seus interiores,
mobiliário e fachada intactos... Os seus deliciosos
gabinetes de prova no primeiro andar, dois em estilos
revivalistas, império e neo-rococó, e os outros dois,
seguindo as características da época, algo à volta de
um estilo Liberty/Arts & Crafts, ainda lá estão, com
tectos coerentes e tudo. Até o escondido espaço do
escritório mantém o seu ambiente original, incluindo
o seu cofre neogótico. Ora sendo eu morador da
Baixa, logo que me apercebi da possível mudança de
ramo, desenvolvi contactos com a Unidade de
Projecto Baixa-Chiado, que procedeu ao levantamento exaustivo dos interiores, documentando em imagem todos os pormenores. Entretanto, e noutro projecto que está a ser desenvolvido com o Núcleo de
Estudos do Património da CML, já existia também
um dossier completo dos interiores deste estabelecimento, quando ele ainda se encontrava em funcionamento. Existia portanto informação detalhada, capaz
de fazer estabelecer um diálogo exigente de conservação (Inventário Municipal, PDM) mas construtivo
com a entidade promotora. Houve desde o início, da
parte da CML, contactos com o IPPAR e reuniões
em conjunto com a entidade promotora. Depois de
alguma hesitação apreensiva por parte dos novos
proprietários, que representam uma empresa de
renome internacional com actividade multinacional,
e de algum esforço retórico, passou-se rapidamente a
outra fase de aceitação e entendimento onde a ideia
da conservação passou a ser vista precisamente como
uma mais-valia prestigiante para a própria imagem
comercial, integrando a função e o produto neste
contexto. Todos os móveis originais vão ser mantidos e as pequenas alterações exigidas vão ser completamente reversíveis. Além disso, o projecto de
arquitectura de interiores prevê também, além do
restauro e grande cuidado com os materiais, um estudo cromático detalhado, o restauro dos papéis de
parede e o restauro da fachada. Este exemplo ilustra
que uma mudança de função não implica uma destruição de uma importante e insubstituível riqueza
de interiores, mas que também é necessário desenvolver um diálogo pedagógico e, com perseverança,
encontrar soluções em diálogo, onde ambas as partes,
sem abdicar do rigor, saem satisfeitas e convictas.
A chave reside no desenvolvimento, e o ambiente e
o contexto da candidatura a Património Mundial da
Baixa Pombalina proporcionam essa oportunidade, de
uma estratégia totalmente integrada entre a reabilita-
ção urbana, a gestão urbana e o planeamento comercial, conseguidos por um mediador com formação académica histórica e qualidades retóricas e de diplomacia,
aliadas a uma convicção de que é possível fazer renascer a Baixa e restaurar a sua função original. Uma city
completa e equilibrada entre actividades de trabalho e
lazer, sustentada por uma forte função residencial e por
uma presença humana 24 horas por dia. “

In "Baixa Pombalina : Bases para uma intervenção de salvaguarda".2005. C.M.L.
 Ver : “As lojas tradicionais da Baixa. Desafios presentes e futuros”, António Sérgio Rosa de Carvalho pags 93-100 in http://ulisses.cm-lisboa.pt/data/002/002/pdf/baixapomb.pdf

António Sérgio Rosa de Carvalho




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