O tacticismo da nova geração do PS não é só arrepiante – é ridículo e mata
Por Ana Sá Lopes, publicado em 31 Jan 2013 in (jornal) i online
O que faz um homem com as qualidades políticas que António Costa revelou até aqui transmutar-se naquele sujeito patético que apareceu na comissão política do PS com um discurso inominável? O que faz António Costa, depois de dizer a meio mundo que ia avançar para a liderança do PS, acabar abraçado a António José Seguro, com “garantias” de que o futuro será radioso para o PS, não sem deixar cair a misteriosa ameaça sobre a avaliação que estará a fazer de como correm “os próximos dias”? Há várias hipóteses e nenhuma é abonatória da coragem política do presidente da Câmara de Lisboa.
Hipótese 1 – António Costa sofreu um ataque de pânico. Chegou ao Largo do Rato, olhou à sua volta e viu o terreno adubado por seguristas indefectíveis. Fica apavorado com a probabilidade da derrota e recua em toda a linha, contentando-se com a fortaleza de Lisboa e, eventualmente, com as delícias de uma reforma no Palácio de Belém.
Hipótese 2 – António Costa nunca quis ser candidato já, mas comunicou a várias pessoas que tinha decidido uma coisa que não tinha efectivamente decidido, numa manobra táctica ao estilo da velha JS, para criar suspense e arrebatar o pessoal, numa irresistível tentação de mimetizar o velho mestre António Vitorino. Afinal no PS já havia saudades de uma nova D. Constança.
Hipótese 3 – A última coisa que António Costa quer é ser associado a José Sócrates. Quando, no discurso inicial da comissão política, Seguro acusou a candidatura de Costa de ser impulsionada por aqueles que querem o “regresso ao passado”, transformando isso em Leitmotiv de campanha interna – e externa –, António Costa percebeu que o argumento equivalia a uma queimadura de 4.o grau e que seria mais fácil fazer o exercício cínico de conciliação com Seguro que carregar às costas o peso de Sócrates.
Hipótese 4 – António Costa até quer ser candidato a secretário-geral (um dia destes), mas produziu ontem uma manobra táctica para adiar a candidatura “para os próximos dias” enquanto finge que tenta uma conciliação com António José Seguro – e um adiamento do congresso para depois das autárquicas. (Ficou por esclarecer qual é a divergência política entre os dois e o que significa “unir o partido”. O acordo sobre uma data? Um líder parlamentar da confiança de Costa?) Com esse “golpe táctico” da “proposta” e do “trabalho para unir o partido”, Costa irá apresentar-se “nos próximos dias” como “vítima” de uma direcção que rejeita “unir o partido”. E então contra a sua expressa vontade, declarada no dia de ontem, fará o sacrifício de avançar para “unir o PS” – aceitando o chamamento do além. É interessante como no PSD existe nestes momentos mais coragem política. Desde que Cavaco Silva saiu da liderança, quem quer ser líder costuma aparecer. Perde congressos, depois ganha, perde outra vez. O tacticismo da nova (enfim, cada vez menos nova) geração do PS não é só arrepiante – é ridículo e mata.
Low Costa
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