11/01/2013

Ainda ... sobre a segurança na Cidade de Lisboa e respectivos cães perigosos ...

Não por justiça, mas por segurança.






O cão que matou a criança e as comparações grotescas
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)
8:00 Sexta feira, 11 de janeiro de 2013


Mandam as regras que um animal doméstico que se demonstre perigoso ao ponto de pôr em risco a vida humana tem de ser abatido. Um cão de uma raça perigosa matou uma criança de 18 meses. Foi decidido o seu abate. mais de 20 mil pessoas assinaram uma petição para impedir uma decisão de evidente bom senso. Segundo fonte do Instituto de Medicina Legal ao jornal "Público", "a autópsia, realizada quarta-feira, concluiu que a morte se deveu a ferimentos provocados pela mordedura do cão".

Dizem os subscritores desta petição: "um cão que nunca fez mal durante oito anos e atacou é porque teve algum motivo". A ver se nos entendemos: Os motivos para um animal matar uma criança são irrelevantes, porque as crianças não podem correr risco de vida, sejam lá qual forem os motivos. A decisão de abater um cão não é uma forma de fazer justiça (por isso os motivos pouco interessam), mas de segurança. Escrever que "a criança e o cão são os dois inocentes desta história" é pornográfico. Crianças e cães, para os humanos, não estão no mesmo nível. Nenhum animal é abatido por ser "culpado" de nada. Até porque tal conceito é inaplicável a não humanos. Um animal doméstico, se se revelar perigoso para os humanos, não pode conviver com eles. É apenas disto que se trata e não de qualquer ato de justiça. Os donos e pais foram negligentes? Isso sim, resolve-se na justiça. O abate do cão é outra coisa: um cão que mata uma criança com quem convive deixou de ser um animal doméstico. Porque o que o torna doméstico é ser controlável por humanos. Como não pode ser devolvido à vida selvagem é abatido. Não por justiça, mas por segurança.

Diz a petição: "Se não se abatem pessoas por cometerem erros, por roubarem, por matarem...então também não o façam com os animais!" A comparação é de tal forma grotesca que chega a ser desumana. Eu sou contra a pena de morte. Eu como carne de animais que foram abatidos. Serei incoerente ou limito-me a não comparar o incomparável? Os animais não têm, para os humanos, o mesmo estatuto das pessoas. E quem acha que têm não percebe porque consideramos a vida humana um valor absoluto e indiscutível.

Resumo assim: a vida do humano mais asqueroso vale mais do que a vida do animal doméstico de que mais gostamos. Sempre. Tendo tido (e continuando a ter) quase sempre animais domésticos (de que gosto imenso), parece-me haver em muitos defensores mais radicais dos direitos dos animais um discurso que relativiza os direitos humanos. Porque não compreendem a sua absoluta excepcionalidade.

Ler mais: http://expresso.sapo.pt/o-cao-que-matou-a-crianca-e-as-comparacoes-grotescas=f778636#ixzz2HeymxuKE

4 comentários:

  1. Discordo totalmente desta opinião e francamente, o respeito pela vida deve ser levado o mais longe que se pode, seja ela humana ou animal.
    Abater uma animal que se tornou perigoso - algo no instinto dele o fez comportar dessa maneira - ou porque está doente é mais uma prova como a nossa sociedade objetifica a vida. Quem não dá valor à vida de um animal em última análise não dará à vida humana. Há que assumir as responsabilidades: os proprietários de animais que atacaram humanos ou outros animais devem ser obrigados a pagar a estadia do animal numa reserva onde eles terão uma existência digna, humana, decente. Pare-se de usar e abusar dos animais. Ponham a mão na consciência. O autor deste artigo atira com os mesmos e batidos argumentos de quem pensa que nada tem de responsável pela dor e horror que se impõe nos animais só para manter as suas gordas barrigas a sair pelas camisas, sem nem sequer lembrar-se que cada grama de carne que está a empurrar para dentro já foi um ser com vida que, segundo os últimos e mais recentes estudos, sente depressão, medo pela vida, desespero e capacidade de ligar-se afetivamente.
    Para usar as suas palavras, a sua vida por mais asquerosa que seja vale tanto como outra qualquer, respeite-as todas para que se respeite a sua.

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  2. Caro Jeeves, concordo totalmente.

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  3. Concordo totalmente com o comentário do Anónimo das 10h33.
    Uma coisa é o ser humano considerar-se superior por ser racional, outra coisa é menosprezar a vida dos restantes seres.
    Não existem raças perigosas quer em pessoas quer em animais o meio é condiciona o seu desenvolvimento. Os donos é que deviam ser responsabilizados pelo comportamento dos seus animais.
    Quem defende a morte de raças potencialmente perigosas poderá também defender que não deviam existir ciganos p ex (mas claro que isso já não se fala porque é racismo). O que o autor do artigo faz também é descriminação de raças.
    Uma coisa é matar para fins alimentares, outra é matar porque se pode.
    O que interessa aqui não é uma questão de estatuto, é uma questão de respeitar a vida dos seres com que convivemos .

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  4. Uma execução animal para satisfazer consciências culpadas?
    por Francisco Louçã a Domingo, 13 de Janeiro de 2013 às 16:32 ·

    "Hesitei muito em assinar ou não a petição contra a execução do cão que recentemente matou uma criança. O desconhecimento das circunstâncias concretas aconselhou-me algum cuidado, para não ficar prisioneiro de debates falsos, nem de querelas religiosas. Mas um argumento que ouvi na TV decidiu-me a assinar a petição e assim fiz.

    Para ser claro, não entro em polémicas religiosas sobre a transcendência da decisão sobre a vida e da morte dos animais, porque sei e aceito que matemos insectos e outros animais para nos defendermos (nem vou voltar a discutir se podemos matar os mosquitos que nos picam ou outros) ou porque, bem ou mal, grande parte da espécie humana se alimenta de peixe ou de outros animais. Mas nunca aceitei a razão dos que acham que a morte deve ser encenada para gáudio de um espetáculo, e acho significativo que os defensores das touradas de morte se agitem para serem protagonistas desta controvérsia. São pontos de vista religiosos e vou deixá-los em paz, porque não me interessam.

    O que me interessa é qual é a melhor forma de lidar com a responsabilidade da morte da criança.

    Há um evidente problema de justiça porque houve uma morte horrorosa, que é um crime. Segundo a lei, a responsabilidade perante a justiça é dos donos do cão. A lei está certa. Que nada disfarce ou esconda essa responsabilidade: quem cria um cão, quem o educa e quem o mantém é responsável pelas suas ações. O cão não é um sujeito jurídico, os donos são. Os culpados são esses e devem responder por isso. Não há nada que possa ser feito ao instrumento ocasional do crime, que foi o cão, que mude ou diminua essa responsabilidade de justiça.

    Há depois um problema de segurança. Que pode ser resolvido de muitas maneiras: em Sete Rios, em Lisboa, há um jardim com cobras, jacarés, hipopótamos, leões e outros animais que são perigosos ou podem ser perigosos. O problema de segurança é resolvido separando-os das crianças que os visitam.

    Há um problema de segurança com os lobos em matas em todo o país. E é proibido matá-los.

    Há um problema de segurança com o famoso lince da serra da Malcata. E, se alguém o encontrar, está proibido de o matar.

    O problema de segurança não se resolve matando, a não ser quando estamos a ser atacados e não há outra alternativa. Não parece ser o caso. É por isso que, no meio de todo o debate apaixonado sobre a questão da execução do cão, aconselho simplesmente a que voltemos ao essencial: à proibição da manipulação genética destinada a criar animais para a violência; à responsabilidade permanente dos donos quanto à educação dos animais domésticos e aos seu comportamento; e à criação das melhores condições de segurança para as crianças em casa ou na rua. O essencial é o essencial e a execução do cão é um espetáculo para fugir do essencial, um alibi para os culpados e uma forma de a sociedade passar à próxima notícia do telejornal. Eu assino contra essa mistificação e fuga à responsabilidade."

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