António Costa pede travão na “degradação” dos transportes públicos.Câmara diz que chegou ao “limite” nas restrições ao tráfego no centro da cidade e insiste na gestão municipal do Metro e Carris.

As alterações ao trânsito no Marquês e na avenida foram condenadas pelo PSD e pelo CDS


António Costa pede travão na “degradação” dos transportes públicos
Câmara diz que chegou ao “limite” nas restrições ao tráfego no centro da cidade e insiste na gestão municipal do Metro e Carris
 17 Jan 2013  Público Lisboa/ por Marisa Soares

O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, criticou ontem a política “errada” do Governo em matéria de transportes públicos, que tem levado à “degradação” do serviço na capital. O autarca disse que não será possível reduzir a poluição do ar, se não houver melhorias no serviço do Metro e da Carris e insistiu que este deve depender do município, um pedido que já fez ao Governo “com muita insistência” mas sem resposta.

O autarca falava após a reunião camarária em que foi aprovado (com os votos contra do PSD e CDS e a abstenção do PCP) o modelo definitivo de circulação no eixo Marquês de Pombal/Av. da Liberdade. As duas rotundas do Marquês mantêm-se, mas a avenida volta a ser como antes: os carros terão duas vias no sentido ascendente e vão poder percorrer de forma contínua, lado a lado com os ciclistas, parte das laterais. A par disso, a avenida vai ser repavimentada, uma intervenção que deve começar em Fevereiro e durar dois meses.

A dificuldade de escoar o trânsito que se acumula no sentido ascendente na Av. da Liberdade foi “o maior problema de todos” detectado no esquema de circulação que entrou em vigor em Setembro, disse o presidente. Ao PÚBLICO o vereador da Mobilidade, Fernando Nunes da Silva, admitiu que houve um “erro de estimativa”. “Talvez tenhamos sido demasiado optimistas”, afirmou, acrescentando que a reposição da capacidade de escoamento da avenida vai evitar o “pára-arranca” que faz aumentar a poluição.

Ainda assim, sublinha Nunes da Silva, houve uma melhoria da qualidade do ar no último trimestre de 2012. Segundo um relatório aprovado na reunião camarária de ontem, a concentração de poluentes associados ao tráfego rodoviário na Av. da Liberdade está “na generalidade abaixo do valor permitido”, mas o limite diário legal foi ultrapassado 15 vezes. Com o modelo definitivo, Nunes da Silva acredita que o incumprimento vai diminuir.
A oposição não partilha desse optimismo. O vereador do PSD Álvaro Castro teme mesmo que a situação piore com a reabertura de mais uma via de circulação. Esta medida, refere, é “completamente contraditória” com os princípios definidos inicialmente e “significa que o executivo perdeu a ‘guerra’ com o transporte individual”.

O vereador do CDS António Carlos Monteiro, que também votou contra a proposta, critica o relatório de avaliação feito por Nunes da Silva por ser “omisso” e “opaco” no que toca à contagem do tráfego e ao custo de toda esta intervenção. Nunes da Silva desvaloriza, sublinhando que “a esmagadora maioria dos investimentos feitos [inicialmente, o valor apresentado foi de cerca de 700 mil euros] são aproveitáveis”.

António Costa prometeu que esta será a última intervenção para melhorar a qualidade do ar na avenida. “Chegámos ao limite das restrições”, afirmou, sublinhando que agora “é preciso que as pessoas tenham alternativa”. “Voltámos ao regime da sardinha enlatada na Linha Verde” do metro, lamentou, estendendo a crítica à Carris, por alegadamente usar “os autocarros mais poluentes” para servir aquela zona da cidade.

Ao PÚBLICO o secretário-geral da Carris, Luís Vale, disse que a empresa “estranha” as afirmações de Costa. Segundo o responsável, as características e a idade média da frota — três a oito anos — “estão alinhadas” com o que é praticado nas empresas de transportes urbanos noutros países europeus. “Os ajustamentos da oferta, posteriores a 2010, assim como a afectação de veículos mais modernos na carreira 736 permitiram uma redução ainda mais significativa das emissões nesta artéria”, salientou.