22/01/2013

Em Defesa da Calçada Portuguesa em Lisboa

Exmo. Sr. Presidente da CML,
Dr. António Costa,
Exmo. Sr. Vereador do Ambiente e Espaço Público,
Dr. José Sá Fernandes,
Exmo. Sr. Vereador da Mobilidade,
Eng. Fernando Nunes da Silva

Exma. Sra. Presidente da AML,
Dra. Simonetta Luz Afonso

O Fórum Cidadania Lx tem vindo a alertar por diversas vezes para a falta de cuidado na manutenção da calçada portuguesa da nossa cidade e para quanto isso é desprestigiante para a cidade e, pior, incentiva ao desapego dos lisboetas por um dos mais impostantes ex-libris da cidade, o que se reflecte, paradoxalmente, numa crescente insatisfação pela calçada portuguesa.

De facto, e considerando que a calçada é um elemento da maior importância na caracterização do Ambiente Urbano único e distinto da capital portuguesa, não é de aceitar que a CML continue a permitir intervenções de construção e reparação de calçada por empresas e pessoas sem qualificação para o fazerem. O resultado está à vista de todos: passeios que mal ficam terminados começam poucos dias depois a degradar-se (basta ver os buracos nos passeios novos na Rua da Alfândega, integrados na remodelação do Terreiro do Paço!).

Isto tem contribuído para uma percepção por parte do cidadão comum, que a calçada portuguesa é uma técnica de pavimentação obsoleta. Mas nada mais errado! Qualquer técnico qualificado em construção de calçada saberá explicar porque razão a maior parte dos novos passeios que se fazem actualmente estão cronicamente esburacados: foram mal construídos, por operários com pouca ou nenhuma formação específica nesta técnica. Claro que também há que apontar o dedo a outros factores como o estacionamento selvagem em cima de passeios que foram pensados para peões e não para veículos automóveis.

Frequentemente, os media estrangeiros tecem elogios à calçada de Lisboa, relembrando-nos, assim, a nós portugueses a sua relevância para a identidade da cidade.

O mais recente elogio foi publicado no jornal inglês FINANCIAL TIMES no passado dia 12 de Janeiro de 2013 (edição de fim de semana): http://www.ft.com/intl/cms/s/2/501d4ff6-54fa-11e2-a628-00144feab49a.html#axzz2IVbesdpu.

Neste artigo onde se questionam as razões por que o mundo parece ser incapaz de criar cidades atraentes, o autor oferece exemplos de cidades "belas" embora diversas: Veneza, Pequim, Nova Iorque, Londres, Los Angeles, Lisboa, Hong Kong, Istambul, Paris, Kyoto, Rio de Janeiro, Viena, Barcelona, etc.. Mas foi uma imagem da calçada "Mar Largo" no Rossio em Lisboa que foi escolhida para a chamada de capa do jornal assim como para ilustração principal do artigo: «A view of the wonderful wavy patterns in the pavements, which seem to reflect the watery nature of a city once destroyed by earthquake.»

Aproveitamos esta recente chamada de atenção por parte de um jornal de referência mundial, para apelarmos a V.Exas. para que a CML:

* Assuma como prioritária, na promoção de um espaço público de qualidade e de referência a nível internacional, a formação de facto de uma Escola de Calceteiros;
* Reconheça a importância da profissão de calceteiro, acarinhando-a e dignificando-a enquanto tal;
* Promova as boas práticas na construção e na reparação de calçadas, através da criação de um Regulamento assim como uma efectiva fiscalização;
* Se coíba, desde já, de promover intervenções de substituição da calçada por outros pavimentos, pelo menos nas zonas históricas/identitárias dos bairros e turísticas (ex. Miradouro de Santa Catarina).

Não vamos, como já se fala, abandonar a calçada portuguesa, com o fraco argumento de que não serve a vida contemporânea - na verdade isso seria o assumir pela CML da sua incompetência em regulamentar as intervenções. Um eventual desinvestimento neste forte elemento identitário da nossa urbe seria um erro estratégico, a longo prazo, para Lisboa.

Lisboa precisa de construir melhor calçada e de fazer reparações à altura do legado que nos foi deixado pelos nossos antepassados do séc. XIX.

Com os nossos melhores cumprimentos,

Paulo Ferrero, Fernando Jorge, Bernardo Ferreira de Carvalho, Nuno Caiado, Luís Marques da Silva, Carlos Leite de Sousa, Virgílio Marques, José Filipe Toga Soares, Bruno Ferreira, Gonçalo Maggessi, Pedro Formozinho Sanchez, João Oliveira Leonardo, Júlio Amorim, Rita Filipe Silva, Beatriz Empis, Carlos Matos, Alexandra Maia Mendonça

CC: ATL

9 comentários:

  1. Aplausos DE PÉ para todo o texto desta carta.

    ResponderEliminar
  2. Jorge Braz3:02 da tarde

    Adoro a calçada portuguesa mas tem de ser repensada a sua utilização em Lisboa.

    Que se utilize nas zonas históricas tudo bem mas hoje em dia a calçada portuguesa é uma dificuldade adicional para quem quer andar por Lisboa. Não há 2 metros de calçada direitos! Seja porque foi mal colocada, seja por causa de obras das empresas de serviços (telecomunicações, luz, água, etc, etc) ou por quem anda a colocar paineis de publicidade em todo o lado. Em dias de chuva é um perigo pois escorrega e pessoas com dificuldade em andar ou mesmo em cadeira de rodas sofrem imenso, se é que conseguem! Os invisuais sofrem igualmente bastante. Há pedras soltas e buracos.

    É bonito mas tem de ser funcional também.
    Porque não se fazem "tabuleiros" de calçada que podem ser colocados/retirados?
    Mantenha-se a beleza mas ao mesmo tempo evolua-se!

    Obrigado

    ResponderEliminar
  3. Gostaria que alguem me respondesse, mas, ultimamente vem se bastantes "florestas" a crescer no meio da calçada portuguesa, nuns sitios esta mais curtinha mas ao longo de uma zona maior, noutros e como se fosse uma arvore. Acho ridiculo, e gostava de saber se e pela ma colocaçao da calçada. E que nao esta assim em todos os sitios.

    Obrigado, continuaçao do bom trabalho

    ResponderEliminar
  4. Ao contrário do que é dito no texto, sou da opinião que a calçada só faz sentido nalgumas áreas históricas da cidade. Não faz sentido em toda a cidade, e nem sequer faz sentido em toda as zonas históricas.
    Há inúmeras razões que desaconselham o uso da calçada e elas não se prendem só com as irregularidades provocadas por aplicação incorrecta e/ou falta de manutenção.
    A calçada é um piso MUITO PERIGOSO mesmo quando está bem aplicado. É aliás particularmente perigoso nos sítios onde está tão bem aplicado (perfeitamente regular e nivelado) que, com o uso intenso, se torna num piso contínuo de calcário polido. Junte-se-lhe a água da chuva e pendentes acentuadas e temos uma armadilha perfeita para peões, particularmente para as populações envelhecidas das zonas históricas...
    (Houvesse um estudo que relacionasse a calçada portuguesa com fracturas do colo do fémur ou vivêssemos nós numa sociedade como onde os processos cíveis levassem a indemnizações substanciais, e a CML já se teria visto na contingência de a substituir quase toda...) Se juntarmos a isto a desvantagens para muitos outros utilizadores (a começar pelos deficientes visuais), os custos e dificuldade de manutenção, a rapidez de deterioração e a susceptibilidade a actos deliberados de destruição, etc, temos uma longa lista de argumentos para acabar come ela.
    A ideia de formar calceteiros, por outro lado, ainda que certamente bem intencionada, é também discutível, pois o trabalho de calceteiro é pouco compreensível nos dias de hoje. (Muitos ofícios tradicionais desaparecem precisamente quando a dureza da função se deixa de justificar.)

    Quanto à alternativa, de calçadas 'a fingir', em placas, é uma péssima alternativa. A solução não passa por pastiches ou sucedâneos. Passa por circunscrever a verdadeira calçada onde esta possa ser convenientemente mantida e onde não represente um perigo incontornável para os transeuntes (ou onde o perigo seja menos evidente): grandes zonas planas ou de pequena inclinação (Restauradores, Rossio, Chiado). Para o resto da cidade escolha-se um piso que tenha em consideração o dia-a-dia dos lisboetas e não as fotografias de férias dos turistas.

    ResponderEliminar
  5. Hoje o jornal metro faz referencia a este artigo, força

    ResponderEliminar
  6. pcm

    Vá lá, com um comentário tão longo e tão pouco convincente não chegou a mencionar que tipo de piso aconselharia, não seja modesto agora...
    Diga lá qual é a empresa da família e qual é o material acumulado do piso que estão desejosos por escoar.

    ResponderEliminar
  7. Anónimo das 8:26

    As "florestas" a que se refere são ervas daninhas, que não são nada agradáveis de se ver.

    O aparecimento das ervas deve-se a incompetência no processo de pré colocação da calçada, como a falta de tratamento do solo antes da calçada ser aplicada, rejuntes mal-executados, ausência de leito de areia ou pó de pedra misturado com cimento que é usado para compactar a calçada(muitas da vezes optasse por materiais de menor qualidade)assim como uma má manutenção e má erradicação das plantas invasoras.

    Outro erro que os funcionários da CML cometem com regularidade é cortarem as mesmas! Não adianta nada pois voltam a crescer semanas depois

    Existem varias soluções para o combate das ervas:

    Desde a aplicação de produtos especiais (geralmente químicos)que tem que ser feito por técnicos especializados.

    Soluções de água com lixívia ou mesmo agua com sal, que qualquer cidadão pode fazer e aplicar(geralmente duram 3 a 4 meses até as ervas aparecerem outra vez)

    Até a uma aplicação e manutenção correcta da calçada efectuada por TÉCNICOS E ENTIDADES COMPETENTES

    Como qualquer coisa bonita que se quer preservar é necessário efectuar uma manutenção e tratamento cuidado e competente para prolongar a beleza das mesmas

    Obviamente que hoje em dia(o $$$ fala mais alto) e não faltam pessoas e identidades INTERESSADAS em substituir a calçadas por materiais mais... $conveniente$ que encham sobretudo os BOLSOS DE ALGUNS.

    ResponderEliminar
  8. pcm - Pedro C. Monteiro5:08 da tarde

    Anónimo da 1:58 AM

    Somos tão democráticos e frontais, não é? Como não gostou do que eu disse, acha que tenho qualquer coisa para vender. Que represento uma "identidade" INTERESSADA e quero encher os BOLSOS (os meus e os de mais ALGUNS, claro). Que elegância!

    Lamento desiludi-lo, mas não represento nenhuma solução, material ou marca, nem vislumbro qualquer possibilidade de vir a lucrar com uma hipotética substituição da calçada. Limito-me a pensar pela minha cabeça.
    Mas também não lhe faço a injustiça de achar que a forma como — anonimamente — lança suspeitas sobre quem se manifesta contra a opinião dominante, possa ter qualquer coisa a ver com interesses inconfessáveis. Deve ser só estupidez e cobardia, mesmo.
    Passe bem e tenha cuidado não escorregue.

    ResponderEliminar
  9. Muit bem dito Pedro Monteiro.

    ResponderEliminar