Na sequência do programa Imagens de Marca – Travel Brands
emitido pela SIC e que me levou a começar esta série de artigos, podemos
perceber que o que faz da marca “França” uma das mais importantes e poderosas no
mundo é uma conjugação de tradição, qualidade e rigor da sua oferta. E a tradição,
qualidade e rigor espelha-se claramente na capital Paris, a Cidade-Luz, fazendo
desta cidade uma anfitriã de milhões de turistas anuais.
Bem sei que Paris é praticamente inigualável na sua arquitetura
e na forma como esta foi usada para transmitir filosofias e ideologias no
passado, mas ainda hoje usada como forma de prestígio pelos seus habitantes - quem
tem história tem prestígio, e é respeitado… e recebe mais valias desse prestígio.
Sem que as suas artérias tivessem sido mantidas
arquitetonicamente coesas, mesmo as mais simples com as casas mais humildes,
onde o Barão de Haussmann não pôs o seu lápis reformador, não teríamos uma
cidade como Paris que, como um todo, é uma jóia.
Sim, claro que houve projetos contemporâneos que criaram
celeuma e extremaram posições – a Pirâmide do Louvre, a Ópera da Bastilha, o
Centro Pompidou, a Biblioteca Nacional, mas nenhuma destas obras ofusca a
verdade de que Paris é uma cidade de sonho.
E Lisboa? Desde a década de 60 que as ânsias modernizadoras levaram
à subtração de edifícios de maior ou de menor importância (o Hotel Aviz, por
exemplo); já que a ação modernizadora não chegava às mentalidades, teve
especial expressão na arquitetura. Artérias arquitetonicamente coesas, como a
Avenida Pascoal de Melo ou a Duque de Loulé, viram paulatinamente desaparecer
imóveis e nascer outros de maior porte, e perderam, irremediavelmente a
estrutura burguesa romântica que as distinguiam. Vieram os anos 70, os 80 e
finalmente os 90 e o “caterpiler” não descansou. Entra-se num novo século, numa
nova década mas os “velhos vícios” mantêm-se. Hoje Lisboa não conta com uma rua
integralmente preservada, nem no “santo dos santos” que é a Baixa Pombalina. E
o saldo, isto é, com que cidade ficamos depois dos nossos representantes camarários
permitirem aos promotores imobiliários e simplesmente aos proprietários de
exercerem o seu livre arbítrio sobre o património imaterial e material de todos?
Também na Av. João Crisóstomo, este tipo de arquitetura lembra o que se constrói nas zonas de expansão urbana. É completamente indigno para estar numa avenida desta importância |
Na Rua Sousa Martins vemos esta peça ao lado de dois exemplos elegantes de arquitetura do séc. XIX. Más companhias... |
Esta Caixa de Betão e Vidro fica no gaveto da Avenida João Crisóstomo. O que estaria lá antes? |
É nos subúrbios? Não, é na Rua Sousa Martins, ao lado da Praça Duque de Saldanha |
Que estilos têm? Valha-nos Sousa Martins que são na rua com o seu nome! |
Grandes posts, AMC :-)
ResponderEliminarNão me parecem assim tão graves quanto os patos-bravos dos anos 70 que por lá proliferam.
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ResponderEliminarE aquele prédio todo preto no Saldanha? Em frente ao Atrium.
É a pior coisa que já vi.
Bem, parece que o desrespeito por Lisboa e respectiva identidade é para continuar
ResponderEliminarPassa pela demolição de edifícios de traça antiga que dão o carácter à cidade (pelo menos até agora)
As edificação de marmachos novos de aspecto periférico também não está longe do fim
E a sociedade onde está? Não está.
Porquê?
Porque não mora em Lisboa.
Durante a noite Lisboa está deserta Especialmente durante os dias de semana, sem ninguém sem vivalma.
Quem mora aqui são essencialmente pessoas de meia idade.
Óptimo para os interesses privados da especulação.
Basta olhar para os valores das habitações! É de doidos!
E a construção continua!
Mas para quem é que não sei...
Já agora:
Porque é que não começamos a fazer apostas?
Qual será o aspecto de Lisboa num futuro não muito longínquo?
Cacém?
Amadora?
Almada?
Aceitam-se apostas...
Até os bairros da periferia de certas cidades (Secundárias) Europeias têm melhor aspecto que as zonas centrais de Lisboa!
ResponderEliminarFF
Está tudo dito quando o Presidente da Republica deste pais dá o exemplo com a sua "bela" marquise...
ResponderEliminarExcelente artigo.
ResponderEliminarÉ desconsolador que nos centros de decisão não haja a menor preocupação com estes aspectos, que são cruciais para a manutenção identitária da cidade. E quando substituem o que lá estava por péssima arquitectura, ainda pior.
Pergunto-me onde anda a Ordem dos Arquitectos e as escolas de arquitectura, no meio disto? A culpa também é de uma sociedade medíocre que não se importa nada com o seu passado, sempre mais atenta à promessa de salvação futura.
Acho que se destrói e deixa destruir, porque há vergonha do passado e encantamento com esse pseudo-futuro, como se estivéssemos sempre a tentar fugir de nós mesmos. Ou então porque apenas estamos concentrados em tentar sobreviver, pelo que o futuro não parece mais risonho que o panorama actual.
Na foto com a legenda "Caixa de Betão e Vidro fica no gaveto da Avenida João Crisóstomo." e quetionando o que estaria lá antes ...
ResponderEliminarDurante os anos 60 e 70 do século XX este edifício foi a sede em Portugal da "CIBA - Especialidades Químicas"
Os meus cumprimentos
José Leite