In O Corvo (15.5.2013)
Texto e fotografia: Francisco Neves
«A Casa Ventura Terra, edifício de estilo eclético que serviu de atelier e residência ao arquitecto do mesmo nome, na Rua Alexandre Herculano, corre o risco de se degradar gravemente sem que haja sinais de uma intervenção reparadora. O edifício, que obteve o Prémio Valmor, em 1903, e foi distinguido com a declaração de interesse público, em 2006, tem sofrido infiltrações pelo telhado, danos nos aljerozes e, mais recentemente, a queda de alguns azulejos “arte nova”.
A classificação de interesse público – que o deveria proteger – foi, aliás, justificada pelo Ministério da Cultura em razão da “interessante utilização de frisos de azulejos que correm ao longo do prédio, por baixo da cimalha e marcando o primeiro andar, cujos temas estarão relacionados com o rio Tejo (ondas, gaivotas e tágides) e a luminosidade da cidade (girassóis e outras heliotrópicas)”.
O CDS/PP, pela voz de Diogo Moura, fez aprovar na última Assembleia Municipal de Lisboa, a 30 de Maio, uma recomendação para que a Câmara Municipal intervenha em defesa do edifício contíguo à Sinagoga de Lisboa, do mesmo autor. Documento idêntico foi, igualmente, aprovado por unanimidade pelos deputados municipais, já em 2010.
“É tudo uma treta. Enquanto isto não ruir e for abaixo, ninguém faz nada”, desabafa, incomodado Francisco Silva Passos, um dos moradores da Casa Ventura Terra. É onde vive, há 67 anos, a troco de renda que paga à Faculdade de Belas Artes. “Há dois anos, esteve para arrancar uma reparação, a Fazenda Pública chegou a aprovar a obra, para a qual a Câmara tinha projecto e já havia empreiteiro, mas apareceu aí o director da Faculdade de Belas-Artes a dizer que o prédio era dele e que a Câmara não tinha que se meter no assunto….”.
Os males deste Prémio Valmor são conhecidos de, pelo menos, duas entidades: a Câmara e a Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. “Já tive várias inspecções da Câmara, a última no final do ano passado. O funcionário acabou por dizer que já viu casos bem piores”, disse o inquilino. A escola da Baixa ocupa o terceiro andar, onde era o atelier do famoso arquitecto, e a cave. Por isso, Francisco Silva Passos diz: “Eles sabem perfeitamente o estado em que isto está.”
“Acho que não vão fazer absolutamente nada. As últimas obras foram há mais de 20 anos. A Reitoria da Universidade de Lisboa está na penúria. Acha que a Faculdade de Belas Artes tem dinheiro para obras? O director já disse que as rendas não chegam” para isso, afirma o inquilino.
Aquando de uma recente queda de azulejos, recorda, foi à faculdade avisar do sucedido. Pouco depois, apareceu um homem para “descascar os que estavam mais fragilizados”, mas nada mais aconteceu. O Corvo tentou ouvir o director da Escola de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, mas não obteve resposta.
O prédio é do Estado, como se anuncia inscrito na pedra da fachada, mas quem detém exactamente a sua propriedade não é claro. E isso tem facilitado o adiar duma intervenção. Por morte de Miguel Ventura Terra, o edifício foi doado, em 1919, às escolas de Belas Artes de Lisboa e do Porto, para que as suas rendas ajudassem a custear os estudos de alunos mais pobres.
A trapalhada, segundo a mesma fonte, começará por o prédio não estar registado. E continuará por ter sido responsabilidade da Direcção-Geral do Património, que foi absorvida pela Direcção-Geral do Tesouro e Finanças. Esta confusão só tem um lado bom: como não há um dono claro da casa, também não há alterações ao arrendamento, que assim passa ao lado da voragem da nova lei das rendas…»
Muito gostam de citar prémios valmor e títulos. Para mim isso não confere valor nenhum ao prédio.
ResponderEliminarA título de exemplo, aqui deixo uma foto do prémio Valmor 1931:
http://www.cm-lisboa.pt/fileadmin/VIVER/Urbanismo/premios/valmor/035.jpg
http://www.cm-lisboa.pt/viver/urbanismo/premios/premio-valmor-e-municipal-de-arquitetura alguns dos prémios Valmor dos Anos 80... jesus!
ResponderEliminarAqui o verdinho alface gosta é de taveiradas.
ResponderEliminarO Sr. Filipe Melo Sousa devia tirar um curso de história da arte ou, pelos menos, frequentar umas cadeiras de história da arquitectura. Está visto que nada sabe do assunto.
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