A Neurologia nasceu em França no Hôpital de la Salpêtrière no último quartel do século XIX, pela mão de Jean-Martin Charcot (1825-1893). A Salpêtrière era um grande asilo onde se depositavam, muitas vezes para toda a vida, pessoas com uma variedade de situações que iam desde a epilepsia a outras doenças que se viriam a individualizar como neurológicas, e toda uma gama de doenças psiquiátricas, mas que tinham em comum a necessidade de custódia mais ou menos prolongada. [...]
O hospital constitui a principal memória da assistência psiquiátrica e neurológica aos doentes em Portugal. O seu integral e enorme arquivo ainda inexplorado de processos clínicos, arte de doentes e fotografia, é, seguramente, um património ímpar a investigar e a preservar. Neste hospital se iniciaram em Portugal as investigações microscópicas do sistema nervoso (a Neuropatologia) com Marck Athias, Celestino da Costa e Lobo Antunes. Foi aqui que se seleccionaram os primeiros doentes para a técnica da leucotomia idealizada por Egas Moniz e que lhe valeriam o Prémio Nobel em 1949.
[...]
Ao invés de outros hospitais instalados em antigos conventos, no Bombarda construíram-se de raiz diversos edifícios vanguardistas, ou mesmo experimentais, não-asilares, de grande valor patrimonial em termos internacionais. Além do Balneário D. Maria II, de 1853 e do famoso Pavilhão de Segurança, de 1896, ambos classificados em 2010, é urgente e justo, proteger através de classificação, outros imóveis deste magnífico conjunto: os edifícios das enfermarias em poste telefónico, primeiro no mundo, 1885-1894 (racionalista e de um piso rodeado de jardins, segundo o princípio do hospital psiquiátrico ideal defendido pelo alienista Esquirol) e em U, de 1900 (com inédita disposição permitindo a vigilância e melhorando a segurança e comodidade dos doentes), o humanizante Telheiro do Passeio dos Doentes (1894), a cozinha (1904), notável obra de engenharia, bem como o imponente edifício da prestigiada Congregação de S. Vicente de Paulo, também ainda não protegido.
O Hospital Miguel Bombarda, encerrado desde 2011, é um património histórico e arquitectónico de características únicas em Portugal e, a nível internacional, reconhecem-se-lhe especificidades que se subestimam por cá. É um passado de que nos devemos orgulhar, e uma base essencial para delinearmos o nosso futuro.
A aguardada aprovação da proposta de classificação apresentada em Março (que subscrevemos), o desenvolvimento de um espaço museológico artístico e científico, também de turismo cultural, abrirão largas possibilidades para a divulgação internacional das neurociências e da medicina portuguesa, e constituirão uma destacada mais-valia para a imagem de Portugal no mundo científico e cultural.
Para o bem ou para o mal, o ónus ficará para quem decidir o destino a dar a este riquíssimo património.
Presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia, professor de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
»
O vereador Salgado já leu este artigo ou ainda não teve tempo proque a assinatura de demolições toma-lhe muito do seu tempo útil?
ResponderEliminarO Presidente da CML já sabemos que não leu porque entre entrevistas, debates, reuniões partidárias, eventos, e candidaturas futuras, de facto tem pouco tempo para a cidade
Falam em património como se fosse um bem (uma fonte de receitas portanto), contudo o tom da mensagem acaba (como sempre neste blog) em tom de peditório para gastar dinheiro.
ResponderEliminarÉ patético e infantil o apelo ao "espaço museológico artístico [...] e afins que "constituirão uma destacada mais-valia para a imagem de Portugal no mundo científico e cultural." Essa cláusula-tipo também foi utilizada para outros elefantos brancos e sorvedores de despesa.
É impressionante ver como não percebem que o país está falido, e que os outros não querem, nem podem, pagar pelos vossos delírios.
Para o Filipe Melo Sousa:
ResponderEliminarhttp://en.wikipedia.org/wiki/Philistinism
ResponderEliminarExcelente artigo, finalmente os médicos defendem o Património.
Quanto a Filipe de Sousa informo-o que muitos imóveis CLASSIFICADOS dão mais LUCRO, DINHEIRO LÍQUIDO, GRANA REAL e não imaginária, e que o MUSEU DO BOMBARDA, já muito visitado, ALARGADO QUASE SEM CUSTOS, SEM ARQUITECTOS E CONSTRUTORES, também DARÁ LUCRO, com múltiplas exposições da Arte Outsider (saberá o que é ??? os turistas sabem ...)
assim como dão LUCRO os Jerónimos, Palácios de Sintra, Batalha, Elevadores e Eléctricos de Lisboa, (os portugueses queriam destruí-los ...) o Castelo, as Casas de Fado,etc etc
além do efeito multiplicador de 20 na Economia.
Os Turistas vêm a Lisboa ver os mamarrachos do Siza, do Byrne, do Graça e outros Carrascos do Património ??
Caro anónimo, se está tao certo do lucro de tal "espaço museológico" invista. Argumente com o seu bolso, em vez de pedinchar mais dinheiro ao contribuinte.
ResponderEliminarQuando é que vai parar a demagogia deste tipo que vem aqui comentar só para ter isto que lhe damos: tempo de antena.
ResponderEliminarSe sente tanta falta do país volte, em vez de ficar a espreitar e torcer pelo pior, para lhe darem razão por ter saído.
Não transponha a sua vida, os seus interesses pessoais, os seus atavismos e zangas pessoais para aquilo que é a construção de uma sociedade melhor, uma realidade para a qual mostra ter muito pouco para contribuir.
Quanto ao constante acenar com o seu NIB, argumento de que rapidamente saca, como se o facto de ter contribuído como todos os demais faça de si mais vítima do que os restantes portugueses, faça-nos, então o favor de o indicar aqui, não esquecendo de nos indicar o saldo e os movimentos nas últimas décadas de forma a percebermos que estilo de vida se habituou a ter, em comparação com os portugueses seus conterrâneos. Ficamos à espera...
Só tenho pena que este Melo fale português como eu. devia pagar imposto. Para além da visão sempre reducionista do dinheiro ou da falta dele, que cidade é que este senhor quer?
ResponderEliminarChega a ser infantil, para não dizer outra coisa.