É preciso um
museu que não seja apenas um museu de "bibelots".
Artigo
de opinião, por Paulo Ferrero - Público de 3 Fev 2014
Foi notícia no Público, de 2 Dezembro, que a
"Direcção-Geral do Património Cultural avalia mudança do Museu da Músicapara Mafra". Muito bem, ou talvez não, melhor fosse que ele, o Museu,
ficasse em Lisboa, sendo Nacional.
Não tanto por razões de estatuto ou de centralismo, ou com vista
a pertencer ao lote restrito, íntimo, da Rede Nacional, mas por uma questão de
elementar justiça para com o seu espólio, instrumental e documental (em
resultado, quase por inteiro, de doações feitas por coleccionadores privados) e
em reconhecimento pelo que a música composta e interpretada em Portugal, e/ou
por portugueses, almejou aquém e além-fronteiras ao longo de muitos séculos.
E, sendo verdade que se perdeu uma oportunidade de ouro para instalar esse museu no Teatro Tália das Laranjeiras, que depois de muitas décadas estropiado e ao abandono acabou, recentemente, por ser convertido em sala de conferências e serviços de um ministério; alguém já imaginou, mesmo assim, o que será se esse Museu Nacional da Música for para o (ainda) delapidado e subvalorizado Palácio Pombal, paredes-meias com o Conservatório Nacional (de onde saiu há pouco mais de 40 anos, aliás, o espólio do actual Museu da Música da estação de Metropolitano do Alto dos Moinhos)? Ou o que será se esse Museu vier a ocupar os antigos corredores, celas, claustros e igrejas (ai naquela sacristia de João Antunes, que concertos haveria…) no que resta dos conventos dos hospitais de Santa Marta ou de São José, agora que ambos estão com ‘ordem de despejo’ a médio prazo? Ou, se se quiser uma alternativa mais modernaça, o que será se se der, finalmente, bom uso ao abandonado Pavilhão de Portugal, no Parque das Nações?
Há razões, portanto, para ser muito bem-vinda uma nova discussão em volta do futuro do Museu da Música, tendo presente que se ele foi para onde está agora, foi-o com carácter provisório, o que em Portugal, na maior parte dos casos, significa definitivo. Uma discussão, contudo, que tenha resultado prático. Que seja desta, portanto, que o Museu sai do cais do metropolitano e volta a ver a luz do dia, e que o faça num local histórico, compatível, central, acessível. E que implique, preferencialmente, a recuperação de um edifício abandonado, um daqueles, muitos, a precisarem de obras e sem novo uso à vista, que pululam pela cidade de Lisboa.
Mas é curto falar-se ‘apenas’ dos 1.400 instrumentos do museu actual: do cravo de Joaquim José Antunes (1758) ao piano que Liszt trouxe a Lisboa em 1845, do violoncelo de Suggia (sempre olvidada por quem de direito) às flautas de Haupt ou ao acervo de Alfredo Keil. É que não só há muito mais objectos em depósito, aqui e ali (e que só uma verdadeira e eficaz parceria-público-público, alinhada pelo mesmo diapasão, permitirá cruzar e rentabilizar: SEC-CML-Casa-Museu Verdades-Faria-Casa da Música, etc.), como esse futuro Museu Nacional da Música deve ser "state-of-the-art": permanente e tecnologicamente interactivo, atractivo e participativo, profundamente sensorial, e imaterial, também.
Seja como for, que se garantam sempre nesse Museu, sob que circunstância for, as condições climáticas consideradas adequadas para a boa conservação do imenso espólio em apreço, e que se vençam ’capelinhas’ e se alcance um objectivo maior para lá da guerrinha Mafra-Cástris, de contornos sempre tão ‘iguais’ - até porque a Cástris e a Mafra o que não pode de maneira faltar são hipóteses alternativas de ocupação e viabilização, basta crer nelas, que elas hão-de formalizar-se.
Concluindo, Mafra, por mais Barroco, órgãos e carrilhões que lhe devamos, a ela e a D. João V, não reúne as condições objectivas (é preciso não esquecer que as peças saíram de lá para o Alto dos Moinhos porque estavam em sério risco de se deteriorem irreversivelmente em Mafra) para albergar um Museu Nacional da Música, um museu como deve ser; que acabe de vez com as bolandas por que têm passado os instrumentos durante todo o século passado, os instrumentos legados oportunamente ao Estado para que deles cuidasse e expusesse no melhor dos esmeros, o que não se verificou de modo nenhum (não fora o Metropolitano e, quiçá, não restaria já nada…), e um museu que não seja apenas um museu de "bibelots", e que cubra toda a música composta e produzida da Idade Média até aos nossos tempos, o canto, seus autores e intérpretes, da polifonia de Cister às tonalidades de Emmanuel Nunes, dopianoforte de Queluz ao palco mais lírico e ao saxofone mais jazzista dos noctívagos da Lisboa do século XX.
E, sendo verdade que se perdeu uma oportunidade de ouro para instalar esse museu no Teatro Tália das Laranjeiras, que depois de muitas décadas estropiado e ao abandono acabou, recentemente, por ser convertido em sala de conferências e serviços de um ministério; alguém já imaginou, mesmo assim, o que será se esse Museu Nacional da Música for para o (ainda) delapidado e subvalorizado Palácio Pombal, paredes-meias com o Conservatório Nacional (de onde saiu há pouco mais de 40 anos, aliás, o espólio do actual Museu da Música da estação de Metropolitano do Alto dos Moinhos)? Ou o que será se esse Museu vier a ocupar os antigos corredores, celas, claustros e igrejas (ai naquela sacristia de João Antunes, que concertos haveria…) no que resta dos conventos dos hospitais de Santa Marta ou de São José, agora que ambos estão com ‘ordem de despejo’ a médio prazo? Ou, se se quiser uma alternativa mais modernaça, o que será se se der, finalmente, bom uso ao abandonado Pavilhão de Portugal, no Parque das Nações?
Há razões, portanto, para ser muito bem-vinda uma nova discussão em volta do futuro do Museu da Música, tendo presente que se ele foi para onde está agora, foi-o com carácter provisório, o que em Portugal, na maior parte dos casos, significa definitivo. Uma discussão, contudo, que tenha resultado prático. Que seja desta, portanto, que o Museu sai do cais do metropolitano e volta a ver a luz do dia, e que o faça num local histórico, compatível, central, acessível. E que implique, preferencialmente, a recuperação de um edifício abandonado, um daqueles, muitos, a precisarem de obras e sem novo uso à vista, que pululam pela cidade de Lisboa.
Mas é curto falar-se ‘apenas’ dos 1.400 instrumentos do museu actual: do cravo de Joaquim José Antunes (1758) ao piano que Liszt trouxe a Lisboa em 1845, do violoncelo de Suggia (sempre olvidada por quem de direito) às flautas de Haupt ou ao acervo de Alfredo Keil. É que não só há muito mais objectos em depósito, aqui e ali (e que só uma verdadeira e eficaz parceria-público-público, alinhada pelo mesmo diapasão, permitirá cruzar e rentabilizar: SEC-CML-Casa-Museu Verdades-Faria-Casa da Música, etc.), como esse futuro Museu Nacional da Música deve ser "state-of-the-art": permanente e tecnologicamente interactivo, atractivo e participativo, profundamente sensorial, e imaterial, também.
Seja como for, que se garantam sempre nesse Museu, sob que circunstância for, as condições climáticas consideradas adequadas para a boa conservação do imenso espólio em apreço, e que se vençam ’capelinhas’ e se alcance um objectivo maior para lá da guerrinha Mafra-Cástris, de contornos sempre tão ‘iguais’ - até porque a Cástris e a Mafra o que não pode de maneira faltar são hipóteses alternativas de ocupação e viabilização, basta crer nelas, que elas hão-de formalizar-se.
Concluindo, Mafra, por mais Barroco, órgãos e carrilhões que lhe devamos, a ela e a D. João V, não reúne as condições objectivas (é preciso não esquecer que as peças saíram de lá para o Alto dos Moinhos porque estavam em sério risco de se deteriorem irreversivelmente em Mafra) para albergar um Museu Nacional da Música, um museu como deve ser; que acabe de vez com as bolandas por que têm passado os instrumentos durante todo o século passado, os instrumentos legados oportunamente ao Estado para que deles cuidasse e expusesse no melhor dos esmeros, o que não se verificou de modo nenhum (não fora o Metropolitano e, quiçá, não restaria já nada…), e um museu que não seja apenas um museu de "bibelots", e que cubra toda a música composta e produzida da Idade Média até aos nossos tempos, o canto, seus autores e intérpretes, da polifonia de Cister às tonalidades de Emmanuel Nunes, dopianoforte de Queluz ao palco mais lírico e ao saxofone mais jazzista dos noctívagos da Lisboa do século XX.
E porque não aproveitar aquele "monstrengo" que foi construído em Belém para Museu dos Coches, deixando os coches onde estão.
ResponderEliminarCom o tamanho que aquilo tem, dará para o Museu da Música e ainda para expor todas as obras de Miró que o desGoverno quer vender.
E porque não usar o CCB para dar aulas? Com o tamanho que aquilo tem...
ResponderEliminarFalta de respeito pelo resto do país, algum investimento em cultura fora de Lisboa era uma lufada de ar fresco...
ResponderEliminarMafra, Viseu, Braga ou outra terra qualquer merecia este museu... Afinal de contas o país não começa e acaba em Lisboa!
O resto não é paisagem!