05/05/2014

Palácios de Lisboa - 8 - Palácio Almada ou da Independência, ao Rossio

Este palácio não precisa de grandes apresentações. É Monumento Nacional desde 1910. Foi aqui que se realizou a última reunião dos conjurados de 1640 que trouxe de novo a independência a Portugal. Tem vestígios da muralha fernandina, jardins de origem árabe, portas manuelinas, duas colossais chaminés quinhentistas, únicos exemplares do género em Lisboa, painéis de azulejos barrocos, pátio renascentista. A fachada é , contudo, uma malha intemitente de reboco a cair e de tinta a precisar de uma boa esfrega.

Neste canto há um parque de motos informal. Costumam ser bastantes mais. Às vezes carros. 


As estupendas arcarias foram tapadas. Já houve uma livraria, agora há lojas de "recuerdos" onde se pode encontrar de tudo um pouco, menos a dignidade de uma casa com esta antiguidade e peso histórico.




Nada contra as várias devoções aqui expostas. Tudo contra o sítio onde se encontram. Entre Senhoras de Fátima e galos de Barcelos, não sairão os turistas informados sobre a importância do palácio Almada. Há muitas formas de fazer cair o património. Desconhecê-lo/ignorá-lo é uma delas.

Idem para as cópias da loiça de Alcobaça, pratos alentejanos e outros artigos. 

Por todo o lado em Lisboa os cabos soltos, alapados às fachadas, descarnados, aos molhos ou na versão "fios" ao vento, são uma constante. Aqui também, assim ninguém se engana e sabe mesmo que se está em Lisboa. Janela de sacada a dar para a rua das Portas onde passam milhares de pessoas por dia.


Num dos mais invulgares pátios de Lisboa estaciona-se todo o tipo de viaturas. Não se vê na fotografia, mas há duas portas manuelinas e uma entrada renascentista ao pé. Mas nada disto é impeditivo para o espírito prático que nos caracteriza.

Aspecto actual da fachada nobre do palácio Almada. Há bem pior em Lisboa. Mas esta reveste-se de uma importância histórica que várias outras não terão. Em época de traçar prioridades, argumento tão ao gosto de quem governa a coisa pública, diria que esta estaria no topo. Mas não está como se vê.

Os pombos sentem-se em casa em todo o lado. A falta de limpeza também.


Traseiras do Palácio da Independência. 

Outro aspecto do mesmo lugar. Quem aqui chega terá já vindo de outra zona única de Lisboa, o gigantesco convento da Encarnação onde, fechado a sete chaves, se esconde um dos mais belos conjuntos de talha dourada da cidade. Que bom seria poder fazer-se um percurso que se iniciasse no Palácio Almada e acabasse no dito convento.

Em segundo plano as admiráveis chaminés quinhentistas


Fachada interior a dar para o pátio.



Pátio do palácio Almada. A pala de plástico é um atentado ao equílibrio do monumento. Dizem que é para proteger a entrada de uma cisterna??? da chuva???. Proponho que se retire. Neste palácio foram recolhidos vários dos sobreviventes do antigo Hospital de Todos-os.Santos que caíu com o Terramoto. História não falta a este local quase mítico da cidade. Falta dar-lhe uma cara lavada e incluí-lo nos roteiros oficiais de Lisboa. Torná-lo mais presente na actual história de Lisboa. Esta é uma casa que foi partícipe de várias páginas históricas da capital. Há mais de seiscentos anos que nos acompanha. Merece outro protagonismo.

8 comentários:

  1. "Em época de traçar prioridades, argumento tão ao gosto de quem governa a coisa pública, diria que esta estaria no topo.". Não posso acreditar - o site do generalismo militante e do "tudo está mal" decidiu escolher uma prioridade. Também gosto do "proponho que se retire". Afinal era só pedir!

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  2. Até doí o coração. As jóias da vilória neste estado.
    A republica do bananal no seu melhor!
    Vale a reportagem e a série "Palácios de Lisboa".
    Demonstram bem o desmazelo que é esta amostra de capital.

    Sai um novo museu dos coches...

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  3. também não posso acreditar no que escreve. Nem tudo está mal, embora esteja longe de estar tudo bem. Também gosto do seu comentário. Afinal é só escrever sem ler. Obrigado pelo trabalho de ter juntado duas ideias. Vagas é certo, mas mesmo assim ideias.

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  4. Se querem salvar o edifício vendam-no em hasta pública. Alguém fará bom uso. O estado nunca.

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  5. Como fizeram com o dos Inglesinhos e outros tantos sr Filipe?
    Transformando-os em condomínios raquíticos?
    Mal posso esperar...

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  6. Reagindo ao anónimo das 4.15,

    Obrigado pelo seu comentário. Continuaremos a lutar por uma Lisboa melhor,


    Cumprimentos

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  7. Anónimo das 4:15:

    Não é preciso traçar um cenário tão negro.

    No entanto dou-lhe razão quando critica o estado das ditas "jóias". Jóias que - sejamos francos - comparadas com as das grandes capitais burguesas, transparecem uma certa modéstia e acabam sempre por virar hotéis de luxo ou condomínios privados.
    E neste último caso o acesso acaba por ser interdito ao público e as características distintas dos ditos(que podiam ter outra utilidade) acabam por ser estropiadas a favor da comodidade dos futuros residentes.

    Agora pergunto: Quantas destas "jóias", muitas delas localizadas em zonas com certas limitações para o desenvolvimento da vida social e cultural, contribuíram para o melhoramento dos referidos aspectos naqueles bairros?
    Quantas delas foram reaproveitadas para equipamentos culturais, espaços de lazer, espaços verdes?

    Por exemplo: O Palácio da Rosa, na Mouraria, que foi aqui colocado uns dias atrás.
    Não seria mais interessante, no futuro, um espaço como aquele estar direccionado para outras vertentes?
    Ainda por cima num bairro como o da Mouraria, que carece dos aspectos referidos.

    E quantas Mourarias não devem existir por Lisboa..?


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  8. reagindo ao anónimo das 12.52,

    Obrigado pelo seu comentário. São sempre bem-vindos comentários aos posts que se vão publicando.

    Concordo em absoluto com a necessidade de reconverter estes palácios em equipamentos que se insiram na vida dos bairros, centros culturias, bibliotecas, centros de interpretação, bolsas de empresas locais, etc.

    Não concordo qdo diz que revelam uma certa modéstia. Aparentemente, sim. Os palácios portugueses e, até ibéricos, tinham como tradição uma enorme sobriedade no exterior que contrastava com um fausto muito grande no interior. São exemplo disso os que ainda estão ao serviço das respectivas famílias, ex: palácio Fronteira e Palácio Olhão, a Xabregas. O palácio Azurara, actual Museu FRESS é outro exemplo, bem como o Palácio Abrantes a Santos. Por outro lado a riqueza azulkejar dos palácios lisboetas é única no mundo, os jardins eram autênticos jardins botânicos, muitos têm belissímos trabalhos de estuques e de frescos, ex: Palácio Pombal, Palácio Cabral, refiro ainda a esattuária, grande parte da mesma, de produção italiana como é o caso do Palácio de Belém.

    O que faz falta é um trabalho de fundo sobre o que resta. Que ainda é bastante e é muito bom.

    Cumprimentos

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