Projecto artístico de
Vera Mantero e convidados abre esta quarta-feira, em Lisboa. Visa promover uma
maior aproximação entre as pessoas e os produtos agrícolas.
Por Sara Ruas, Público de 25 Junho 2014 | Imagem de
Sandra Ribeiro
Haverá desde performances artísticas até debates sobre agricultura
“Uma horta em cada esquina” é o objectivo do projecto artístico
“Mais pra menos que pra mais” de Vera Mantero, Rui Santos e Elisabete
Francisca, em colaboração com a Culturgest e o Teatro Maria Matos. Iniciado em
Dezembro de 2013, na altura da celebração dos 20 anos da Culturgest, o projecto
promove uma agricultura sustentável promotora da arte e da cultura em harmonia
com o ritmo urbano.
O
projecto envolveu a criação de quatro hortas
“e meia” – quatro dos terrenos dispensados foram plantados ou tiveram algum
tipo de intervenção, enquanto um outro terreno, devido a certas normas que não
foi possível cumprir, será espaço de uma intervenção artística efémera, a
“horta súbita”, que será ocupada por plantas durante cerca de duas horas, num
cruzamento entre a arte e a agricultura.
A instalação final será apresentada ao público a partir desta
quarta-feira e prolongar-se-á até domingo à noite. Além das performances artísticas nos espaços das
hortas, haverá também uma série de conferências e debates sobre agricultura e
sustentabilidade sob o nome “Circuito Curto – Curto Circuito”, esta quarta e
quinta-feira no Maria Matos.
A iniciativa prevê ainda a realização de workshops para
crianças, visitas guiadas aos espaços hortícolas, concertos, uma marcha do
orgulho hortícola, dança, oficinas de desenho e ainda uma instalação de cinema
nas montras e lojas do movimento dos comerciantes da Avenida Guerra Junqueiro,
Londres e Roma, entre outros que podem ser consultados em
http://www.culturgest.pt/arquivo/2014/docs/programa-veramantero.pdf
Durante a duração do projecto, o público poderá visitar os
espaços das hortas – dois na Culturgest, um no jardim da Biblioteca Municipal
Palácio Galveias e ainda um terreno baldio ao pé da Praça de Touros do Campo
Pequeno.
O projecto das hortas urbanas foi organizado a partir de um
apelo a todos os que quisessem aprender a cultivar e praticar agricultura.
Conseguiram mais de 100 voluntários para as hortas, desde pessoas que viviam
perto dos espaços até às que tinham de atravessar a ponte sobre o Tejo para ir
ajudar.
As hortas foram feitas em regime de permacultura, um cultivo
sustentável de plantas que se entreajudam e protegem e que ajudam à fertilidade
do solo, com a ajuda de hortelões profissionais da UrbanGrow, WAKESEED, Horta
do Mundo e da Horta da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
As culturas plantadas vão desde as alfaces e agriões às plantas
aromáticas e pepinos. No último dia do projecto haverá um piquenique com os
vários voluntários e hortelões, para o qual o público em geral também está
convidado. Serão usados os vegetais cultivados nos últimos dois meses.
“Queríamos criar uma experiência única, criar espaços e
recuperar formas de socialização sem que fosse o regresso ao primitivo” comenta
Rui Santos, arquitecto e um dos autores e promotores do projecto. “Queríamos
criar uma urbanidade preocupada com questões ambientais.” Rui refere que parte
do objectivo foi também combater a solidão, especialmente entre a população
idosa.
O projecto foi baseado na campanha Incredible
Edible, iniciada por duas mulheres de Todmorden, Reino Unido, em
2007. A campanha promovia o cultivo de vegetais e plantas em jardins e espaços
públicos e ajudou imensamente a economia local. A campanha britânica conta
neste momento com mais de 50 cidades aderentes em todo o país.
Vera Mantero, cenógrafa e dançarina foi a principal
impulsionadora do projecto. Quando inquirida sobre o objectivo principal,
responde com a expressão “cenografias comestíveis”. “Para além de espaço de
cultivo, as hortas serão também palcos de performance, dança,
recitais de poesia.”
A iniciativa surge também como uma continuação de uma instalação
artística em Montemor-o-Novo organizada pelos mesmos artistas, chamada
“Oferecem-se Sombras”.
Luísa Sousa, 63, é uma das voluntárias do projecto. Enquanto
corta arames para poder pendurar os vasos das plantas aromáticas na horta
vertical no Jardim do Palácio das Galveias recorda como se envolveu: “Vinha
para a biblioteca com a minha filha quando reparei num canteiro muito
maltratado e voluntariei-me para tratar dele. Foi quando me falaram desta
iniciativa e resolvi aderir.” Ajudou um pouco em todas as hortas, e da
experiência só tem a dizer o melhor “Neste último mês aprendi mais que nos
últimos dez anos da minha vida.”
Após a conclusão do projecto artístico, a organização espera que
os voluntários possam continuar o agrícola. No terreno baldio foi assegurada
uma renda a ser renovada anualmente, e nos outros espaços, como na Culturgest e
na Biblioteca, os artistas estão a contar com a ajuda dos funcionários.
Texto editado por Ana Fernandes
Os terrenos de Lisboa são demasiado caros para a actividade agrícola. Também como consumidor não tenho interesse em consumir alimentos cultivados perto de vias de circulação.
ResponderEliminarPor isso convido os entusiastas deste tipo de iniciativas excêntricas a usar o próprio dinheiro, e não os dinheiros públicos, para levar a cabo estas actividades económicas ruinosas.
hortas = "iniciativas excêntricas" e "actividades económicas ruinosas"?
ResponderEliminarés claramente um menino de bem...
O Sr. Filipe Sousa tem razão. Essa iniciativa das hortas foi feita para ser "politicamente correcta". Os logradouros privados de Lisboa estão cheios de barracas e anexos ilegais. Árvores e plantas zero. E são essas mesmas pessoas que alegam que não existe verde em Lisboa. Andaram a encher os bons terrenos de cultivo à volta de Lisboa com prédios pato-bravo. Em Lisboa querem fazer hortas...
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