Críticas à intervenção levaram a
vereadora da Cultura da Câmara de Lisboa a promover nesta quinta-feira uma
reunião com os munícipes residentes nas imediações da Igreja de Santo António.
Por José António Cerejo, Público de 26 Junho 2014
As
obras em curso na fachada do Museu Antoniano, anexo à Igreja de Santo António,
em Lisboa, estão a ser alvo de críticas de moradores da zona da Sé e de
polémica nas redes sociais.
A intervenção é da
responsabilidade da Câmara de Lisboa e integra-se num projecto de renovação e
ampliação do espaço dedicado à vida e ao culto do santo, que ali terá nascido.
Grande
parte da estreita fachada onde se situa a entrada do museu encontra-se neste
momento coberta por uma grelha metálica perfurada, que esconde os aparelhos de
ar condicionado agora instalados e que — caso seja tratada da forma que se vê
nos desenhos disponíveis no site do atelier de aquitectura responsável pelo
projecto — ocultará o frontão triangular existente sobre a porta.
A
fotografia do local colocada na segunda-feira numa página do Fórum Cidadania no
Facebook mereceu comentários que comparam a cobertura da parede a um grelha de
fogão de cozinha, a uma burka, a uma grade de cervejas, ou a uma parede de
escalada. Outros comentários, todavia, dão a entender que o trabalho não está
concluído e que o controverso painel poderá vir a ser, também ele,
revestido por uma outra estrutura.
Também
no Facebook alguns moradores residentes no Largo de Santo António à Sé, com
destaque para o actor Filipe Vargas, criticaram duramente a intervenção,
enquanto que outros, alguns deles arquitectos, se distanciaram do tom dessas
críticas, num aceso confronto de opiniões sobre aquilo que deve ser a forma de
intervir no edificado dos centros históricos.
As
objecções dos vizinhos da igreja levaram já a vereadora da Cultura a promover a
realização de uma reunião destinada a explicar a lógica da intervenção, a qual
decorrerá no próprio museu nesta quinta-feira à tarde.
A
requalificação do Museu Antoniano, que passará a chamar-se Museu de Santo
António, vai permitir a criação de uma nova área museológica, a instalar na
antiga Sala do Risco, num edifício contíguo. O actual museu e a antiga Sala do
Risco, onde será montada uma exposição de cariz mais erudito sobre Santo
António, ficarão ligados entre si.
Na
sequência da polémica desencadeada e em resposta ao PÚBLICO a vereadora
Catarina Vaz Pinto, titular do pelouro da Cultura na Câmara de Lisboa, garantiu
nesta quarta-feira que o frontão de pedra existente sobre a porta de entrada
não será tapado, uma vez que “o material proposto [para essa área da parede],
com uma perfuração que garante a permeabilidade visual entre interior e
exterior, permite uma visibilidade das cantarias pré-existentes”.
Uma
simulação da imagem final da estreita fachada do imóvel também fornecida pela
autarquia mostra que a solução adoptada se afasta significamente dos desenhos
do projecto inicial. Por um lado, a porta e o frontão ficam visíveis, em vez de
ficarem cobertos com a tela que reveste o resto da parede, por cima da grelha
metálica. Por outro, como a vereadora sublinha, “as dimensões da estrutura que
constavam do projecto de execução (...) foram alteradas — reduzidas em altura —
de forma a afastar o painel da varanda do primeiro andar do edifício contíguo,
salvaguardando a sua segurança”.
Esta
redução — que volta a deixar à vista o gradeamento existente no topo da
fachada, como se fosse uma janela aberta sobre o largo, a partir de uma pequena
praça sobrelevada situada por cima do museu — não altera, contudo, a distância
entre a estrutura e a varanda do edifício vizinho.
A
câmara assegura também que a decisão de montar o polémico painel na fachada do
museu “não foi consequência da instalação dos aparelhos de ar condicionado” por
cima do frontão. “A intervenção exterior procurou responder à necessidade de
criar uma maior visibilidade ao novo museu, situado num recanto pouco visível e
de difícil percepção, permitindo assim uma maior superfície de comunicação e
enquadramento urbano”.
Catarina
Vaz Pinto refere também que a estrutura em causa consiste num “elemento único,
exterior e independente do edifício existente, de carácter reversível e de
construção ligeira executado com materiais resistentes às intempéries”.
A
intervenção no museu, acrescenta, está a decorrer de acordo com “a filosofia da
proposta seleccionada” num concurso por convites lançado pelo município em
2012. A proposta vencedora é da autoria do atelier de arquitectura Site Specific,
em parceria com o P-06 Atelier, e tem a assinatura dos arquitectos Patrícia
Marques e Paulo Costa. O objectivo dos projectistas, lê-se na página da
internet do Site Specific, consiste em “devolver a ambos os espaços [o do
actual museu e o da Sala do Risco] as suas características originais,
retirando, sempre que possível e quando desnecessárias, as intervenções de que
foi alvo”.
O
Museu Antoniano está encerrado desde 18 de Novembro por causa das obras,
estando a sua reaberura anunciada para o fim do primeiro semestre deste ano,
que termina na próxima segunda-feira. A igreja de Santo António, erguida após o
terramoto de 1755 no memo local onde o sismo destrui uma outra igreja com
origem no século XV, foi classificada como monumento nacional em 1931. O Museu
Antoniano foi inaugurado nos anos 80 do século passado e funciona num edifício
adossado à igreja, que data da década de 60 também do século passado.
Muita incompetência a lidar com património
ResponderEliminar"Uma simulação da imagem final da estreita fachada do imóvel também fornecida pela autarquia mostra que a solução adoptada se afasta significamente dos desenhos do projecto inicial. Por um lado, a porta e o frontão ficam visíveis, em vez de ficarem cobertos com a tela que reveste o resto da parede, por cima da grelha metálica. "
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Como residente; estou para ver...
Até agora as cantarias e o frontão de pedra estão bem ocultadinhos por aquela grade metálica hedionda!!!
Está tudo doido!!!!
ResponderEliminarA Vereadora vai reunir-se com os moradores para explicar a obra? Mas explicar o quê? Esta obra é indefensável e é mais uma prova que os srquitetos e políticos são totalmente inábeis e incapazes de intervir em património. O IGESPAR? Onde anda esse instituto do Estado, politizado pelos governantes, que nada mais faz do que défice público? Onde é que isto vai parar! Quem os pára? Por favor parem esta gente!!!!
Os arquitectos distanciarm-se da polémica, como na maior parte dos casos se distanciam da cidade onde procuram intervir, destruindo palácios, esventrando prédios Arte-Nova, fazendo de ruas desertos.
ResponderEliminarOs arquitectos têm sido, em larga, escala um dos principais lobbies descaractrizadores da cidade de Lisboa, Avenidas Novas, Baiirro Barata Salgueiro já não têm salvação possível.
Esgotado esse filão, voltam-se agora para o Centro Histórico e para as Colinas de Lisboa: Príncipe Real onde pontuam residências unifamiliares, autênticas caixas de mau-gosto, Torel e Instituto Câmara Pestana, um famigerado prédio negro envidraçado que se vê de todos os miradouros, Palácio Mesquitela, Convento dos Inglesinhos, Convento do Desagravo do Santíssimo Sacramento, Palácio Alva, Palácio do Contador-Mor, ao Castelo, Palácio Sanches de Baena, etc. A cidade é um vasto campo aberto a todas as experiências, menos à mais fácil, conciliar o antigo com o moderno.