01/07/2014

Edifícios do antigo Hospital Miguel Bombarda poderão servir de escola primária durante um ano

Ocupação deverá ser provisória por um ano. Grupo de personalidades de diferentes associações queixa-se a Costa que não tem havido a manutenção mínima dos espaços.

Por João Pedro Pincha, Observador de 30 Junho 2014


Os edifícios do antigo Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, poderão vir a albergar no próximo ano letivo os alunos de uma escola primária da Associação Pró-Infância Santo António de Lisboa (APISAL), cujo edifício, na Avenida Almirante Reis, deverá entrar em obras em setembro.
A presidente da Junta de Freguesia de Arroios, Margarida Martins, confirmou ao Observador as negociações entre a APISAL e a Estamo, proprietária dos terrenos do Miguel Bombarda, mas recusa-se a adiantar mais pormenores, remetendo para a APISAL outros esclarecimentos. O Observador tentou confirmar junto da APISAL e da Estamo a instalação da escola no antigo espaço hospitalar, mas até ao momento não foi possível.
Entretanto, um grupo de pessoas ligadas a movimentos cívicos, artísticos e médicos enviou esta sexta-feira uma carta aberta ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, na qual pede a intervenção do município “para que, de acordo com a lei, a empresa de capitais públicos Estamo proceda com urgência à reparação pontual de telhados e dos tetos danificados e eventualmente de outros que uma inspeção camarária identifique” de alguns dos edifícios do antigo Hospital.
Segundo este conjunto de personalidades, “a Estamo (…) não está a proceder à simples manutenção pontual de telhados dos edifícios, que se encontravam em bom estado de conservação imediatamente antes do encerramento do hospital em fevereiro de 2011, provocando infiltrações de água em diversos locais, que têm originado rombos e queda parcial de tetos em gesso e degradação de pavimentos em madeira.”
E pormenorizam, indicando que estes problemas se fazem sentir nos edifícios que atualmente não estão classificados. “No edifício conventual”, referem, há “infiltrações e queda parcial de tetos” em algumas enfermarias e também numa claraboia, que “provocam inundações no gabinete onde o prof. Bombarda foi assassinado”. Também na cozinha, os signatários dizem existir infiltrações, que põem em causa uma “notável peça de arquitetura e engenharia”.
Entre os assinantes da carta, encontram-se pessoas ligadas à Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, à Sociedade Portuguesa de Neurologia, à Sociedade Portuguesa de Arte Terapia e à Associação Portuguesa de Arte Outsider, bem como membros da Congregação de S. Vicente de Paulo, da Associação de Valorização da Colina de Santana e do Fórum Cidadania LX.
Esta carta surge na sequência de, na quinta-feira passada, ter sido entregue à secretaria de Estado da Cultura uma petição com 850 assinaturas – sobretudo de médicos e outros profissionais de saúde – a pedir a classificação urgente como conjunto de interesse público dos edifícios do antigo complexo de saúde que ainda não se encontram protegidos – ou seja, todos à exceção do Balneário D. Maria II e do edifício panóptico de alta segurança.
O processo de classificação dos edifícios está em apreciação há 15 meses, altura em que o pedido foi feito à Direção-Geral do Património Cultural (DGCP). Esta entidade chegou a emitir um parecer favorável à classificação, mas todo o processo tem sofrido diversos avanços e recuos nos últimos meses, também decorrentes da entrada em funções de uma nova equipa dirigente na DGCP, em fevereiro.
“Não queremos acreditar [que] se pretenda provocar a destruição dos interiores desses edifícios ( para os quais está pendente na DGPC proposta de classificação) com o intuito de forçar a aprovação de demolições e dos projetos de loteamento com nova construção em altura, um atentado a esse património inestimável da cultura portuguesa e europeia”, consideram os signatários da carta.
A zona da Colina de Santana, onde se situam os terrenos do antigo Miguel Bombarda – mas também os dos Hospitais dos Capuchos, São José e Santa Marta, para além dos já desativados Desterro e São Lázaro – vai sofrer uma das maiores alterações urbanísticas da cidade de Lisboa em décadas. Após um extenso debate, incluindo na Assembleia Municipal de Lisboa, o vereador do urbanismo do município, Manuel Salgado, reconheceu a necessidade de alterar alguns aspetos do projeto, nomeadamente no que diz respeito à volumetria e cércea dos novos edifícios, entre outros.

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