Ocupação deverá ser provisória
por um ano. Grupo de personalidades de diferentes associações queixa-se a Costa
que não tem havido a manutenção mínima dos espaços.
Por João Pedro Pincha, Observador de 30 Junho 2014
Os edifícios do
antigo Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, poderão vir a albergar no
próximo ano letivo os alunos de uma escola primária da Associação Pró-Infância
Santo António de Lisboa (APISAL), cujo edifício, na Avenida Almirante Reis,
deverá entrar em obras em setembro.
A presidente da Junta de Freguesia de Arroios, Margarida
Martins, confirmou ao Observador as negociações entre a APISAL e a Estamo,
proprietária dos terrenos do Miguel Bombarda, mas recusa-se a adiantar mais
pormenores, remetendo para a APISAL outros esclarecimentos. O Observador
tentou confirmar junto da APISAL e da Estamo a instalação da escola no antigo
espaço hospitalar, mas até ao momento não foi possível.
Entretanto, um grupo de pessoas ligadas a movimentos cívicos,
artísticos e médicos enviou esta sexta-feira uma carta aberta ao presidente da
Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, na qual pede a intervenção do
município “para que, de acordo com a lei, a empresa de capitais públicos Estamo
proceda com urgência à reparação pontual de telhados e dos tetos danificados e
eventualmente de outros que uma inspeção camarária identifique” de alguns dos
edifícios do antigo Hospital.
Segundo este conjunto de personalidades, “a Estamo (…) não está
a proceder à simples manutenção pontual de telhados dos edifícios, que se
encontravam em bom estado de conservação imediatamente antes do encerramento do
hospital em fevereiro de 2011, provocando infiltrações de água em diversos
locais, que têm originado rombos e queda parcial de tetos em gesso e degradação
de pavimentos em madeira.”
E pormenorizam, indicando que estes problemas se fazem sentir
nos edifícios que atualmente não estão classificados. “No edifício conventual”,
referem, há “infiltrações e queda parcial de tetos” em algumas enfermarias e
também numa claraboia, que “provocam inundações no gabinete onde o prof.
Bombarda foi assassinado”. Também na cozinha, os signatários dizem existir
infiltrações, que põem em causa uma “notável peça de arquitetura e engenharia”.
Entre os assinantes da carta, encontram-se pessoas ligadas
à Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, à Sociedade
Portuguesa de Neurologia, à Sociedade Portuguesa de Arte Terapia e
à Associação Portuguesa de Arte Outsider, bem como membros da Congregação
de S. Vicente de Paulo, da Associação de Valorização da Colina de Santana e do
Fórum Cidadania LX.
Esta carta surge na sequência de, na quinta-feira passada, ter
sido entregue à secretaria de Estado da Cultura uma petição com 850 assinaturas – sobretudo de
médicos e outros profissionais de saúde – a pedir a classificação urgente como
conjunto de interesse público dos edifícios do antigo complexo de saúde que
ainda não se encontram protegidos – ou seja, todos à exceção do Balneário D.
Maria II e do edifício panóptico de alta segurança.
O processo de classificação dos edifícios está em apreciação há
15 meses, altura em que o pedido foi feito à Direção-Geral do Património
Cultural (DGCP). Esta entidade chegou a emitir um parecer favorável à
classificação, mas todo o processo tem sofrido diversos avanços e recuos nos
últimos meses, também decorrentes da entrada em funções de uma nova equipa
dirigente na DGCP, em fevereiro.
“Não queremos acreditar [que] se pretenda provocar a destruição
dos interiores desses edifícios ( para os quais está pendente na DGPC proposta
de classificação) com o intuito de forçar a aprovação de demolições e dos
projetos de loteamento com nova construção em altura, um atentado a esse
património inestimável da cultura portuguesa e europeia”, consideram os
signatários da carta.
A zona da Colina de Santana, onde se situam os terrenos do
antigo Miguel Bombarda – mas também os dos Hospitais dos Capuchos, São José e
Santa Marta, para além dos já desativados Desterro e São Lázaro – vai sofrer
uma das maiores alterações urbanísticas da cidade de Lisboa em décadas. Após um
extenso debate, incluindo na Assembleia Municipal de Lisboa, o vereador do
urbanismo do município, Manuel Salgado, reconheceu a necessidade de alterar alguns
aspetos do projeto, nomeadamente no que diz respeito à volumetria e cércea
dos novos edifícios, entre outros.
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