Leilão imobiliário
rendeu quase 21,6 milhões. 90% do valor arrecadado pelo município vem de
investidores estrangeiros. Além dos que compraram apareceram também iranianos,
indo-paquistaneses e austríacos. As compras dos portugueses ficaram-se por uma
décima parte do total.
Por José António Cerejo, Público de 9 Outubro 2014
A segunda hasta pública promovida este mês pela Câmara de Lisboa
para alienar parte do seu património imobiliário trouxe algum ânimo ao
executivo de António Costa: Foram vendidos dez dos 14 imóveis leiloados e o
valor total das adjudicações quase igualou o montante que teriam rendido todos
eles, caso fossem alienados apenas pelas bases de licitação.
O
valor base dos 14 somava 21,7 milhões de euros, enquanto que os negócios
efectuados, ainda com carácter provisório, ascenderam a 21.599.000 euros,
apenas 100 mil euros abaixo daquele montante. Este resultado ficou a dever-se
ao facto de os dez prédios transaccionados terem sido vendidos, em média, por
mais 16,5% do que o preço pelo qual foram à praça.
Numa sala repleta, com cerca de 100 representantes dos autores
das 23 propostas apresentadas e por alguns curiosos, viveram-se momentos de
intensa competição, com os despiques mais duros a serem protagonizados por
investidores estrangeiros.
Entre os presentes contava-se uma dúzia de cidadãos de origem
asiática, a maior parte deles ligados a empresas chinesas e acompanhados por
consultores e advogados portugueses. Outros eram de origem indo-paquistanesa,
mas estabelecidos em Portugal há muito tempo. Pelo meio havia também candidatos
com origem em Angola, na Russia, em França, na Áustria e até no Irão.
Feitas as contas, mais de 19,5 milhões dos 21,6 milhões que o
município vai arrecadar (90%) têm origem em empresas detidas por
estrangeiros.
Os chineses, através da Pigmentparty, uma pequena imobiliária
sediada numa garagem que adquiriram em Agosto, foram os que mais desembolsaram
com a compra de um único prédio — o nº 61 da Rua do Ouro, onde
funcionou a sede do Banco Santander, que tinha uma base de licitação de sete
milhões. Depois de um renhido duelo com o Fundo de Pensões do Banco de
Portugal, que também perdeu a corrida a três outros imóveis (o Palácio Marquês
de Tancos, o Palácio Monte Real e o edifício dos bombeiros do Rossio), a
Pigmentparty acabou por arrematar o edifício por 7,3 milhões.
Outras empresas com a mesma proveniência licitaram outros
imóveis, mas sem sucesso.
Já os franceses do grupo Repotel, uma holding que tem uma
administradora de origem portuguesa e possui várias residências medicalizadas
para idosos na região de Paris, conseguiram ficar, através da 2 I Inter
Investissements, com os palácios Marquês de Tancos e Monte Real, pagando um
total que ronda 8,5 milhões.
Os dois edifícios situam-se perto um do outro, na zona do
Caldas. O primeiro, classificado como imóvel de interesse público, serve ainda
de sede à empresa municipal EGEAC, e foi vendido por 5,5 milhões (base de
licitação de cinco milhões). O segundo acolheu até recentemente um lar de
idosos da Misericórdia, custando aos franceses três milhões (base de 1,8
milhões). O programa da hasta pública não contém quaisquer restrições aos usos
que ambos venham a ter.
A luta mais acesa travou-se, porém, em torno das instalações dos
bombeiros municipais do Rossio, situadas atrás do Teatro D. Maria II. Farshad
Motavasel, um empresário de Teerão, ao cabo de dezenas de licitações, resolveu
desistir da corrida, quando o preço já ia perto do dobro do valor base de 1,6
milhões.
O prédio, que também admite todos os usos, ficou para os russos
da Planeta do Aplauso, por 2.962.000 euros. O interesse desta empresa poderá
estar ligado ao facto de já ser proprietária do edifício da Ginginha Sem Rival,
na vizinha Rua das Portas de Santo Antão, para o qual tem aprovada a construção
de um hotel, com a obrigação de manter a loja da gingiginha.
Dois dos outros edifícios, um por 511 mil euros e outro por 397 mil euros, foram adquiridos por empresas ligadas a empresários de origem indo-paquistanesa e angolana.
Dois dos outros edifícios, um por 511 mil euros e outro por 397 mil euros, foram adquiridos por empresas ligadas a empresários de origem indo-paquistanesa e angolana.
Para os concorrentes portugueses ficou um pequeno prédio da Rua
Maria Pia (49.600 euros), um outro em Marvila (220.000), um terceiro na
Ria da Bica Duarte Belo (324.000) — adquirido por uma sociedade que tem sócios
das famílias Pinto Basto e Espírito Santo — e um último na Rua do Loreto (1,3
milhões). Três destes quatro edifícios tiveram apenas um candidato à sua aquisição.
Na semana passada, a Câmara de Lisboa tinha promovido uma
primeira hasta pública destinada à venda, pelo valor base de 28,7 milhões de
euros, de cinco lotes de terreno para construção, mas não conseguiu vender
nenhum deles.
A sessão desta quarta-feira, em que ficaram por vender quatro
edifícios com o valor base total de cinco milhões de euros, devolve algum ânimo
ao executivo camarário, embora os resultados estejam muito longe dos 60 milhões
de euros que o município projectava arrecadar nas cinco hastas agendadas para
este mês.
A próxima decorrerá na sexta-feira, dia 10. O seu objecto
consiste apenas no arrendamento de 15 espaços comerciais do município, cuja
receita mensal total não ultrapassará os dois mil euros. No dia 16
realizar-se-á uma outra para venda de 24 prédios no âmbito do programa
“Reabilite Agora Pague Depois”, com uma base de licitação global de 2,9
milhões. A última venda programada deverá realizar-se no dia 23 e incide sobre
10 fracções do edifício Confepele, na Rua do Ouro, com uma base de licitação
total de 2,7 milhões de euros.
Com as hastas públicas que está a realizar e com outras
operações de venda de património a autarquia pretende financiar 18% do
orçamento camarário de 2014, num total de 131 milhões de euros. Até meados de Julho
estas operações tinham rendido apenas 12,9 milhões de euros. Com a sessão desta
quarta-feira esse montante subiu para 34,5 milhões.
EPUL tenta vender casas, lojas e ateliers no Martim Moniz
No dia 24 de Outubro é a vez de a Empresa Pública de Urbanização
de Lisboa (EPUL), que se encontra em processo de extinção, tentar vender em
hasta pública um conjunto de apartamentos, lojas e ateliers no empreendimento
do Martim Moniz.
A intenção da empresa municipal é alienar, por atacado, 26
apartamentos com tipologias de T1 a T3, por um valor mínimo de 5,516 milhões de
euros. Caso esse lote não seja arrematado, a EPUL realizará uma segunda hasta
pública, no mesmo dia, na qual os interessados poderão adquirir aqueles
apartamentos individualmente, por valores entre 118.800 euros e 407.900 euros.
À venda, noutras duas hastas públicas marcadas igualmente para
24 de Outubro, estão também nove lojas e dois ateliers (com bases de licitação
entre 118.800 euros e 878.800 euros) e oito apartamentos na cobertura dos
edifícios, “alguns em duplex”. A construção do empreendimento da EPUL no Martim
Moniz começou em 2001 e desde então sofreu numerosos contratempos, o mais recente dos quais foi a falência do empreiteiro.
Mais do que esses 21,6 milhões obteria a CML, num par de meses, se cobrasse as multas (de 727€, meu Deus!) a quem deixa lixo ou cocó de cão no chão da cidade. Para já não falar do eterno problema do estacionamento selvagem que renderia muito mais.
ResponderEliminarO problema é que seria preciso levantar os rabos das cadeiras, e vender património público dispensa esse esforço.
Além do mais, os lisboetas já deram sobejas provas de que gostam de ser tratados assim. Aguentem, pois!
Este país está a ser vendido a retalho desde as empresas ao imobiliário e o povo gosta.
ResponderEliminarChamem os chineses para a TAP,PT e tudo mais que houver.
Quando não houver mais o que vender e os tachos já estiverem todos distribuídos com os membros deste "desgoverno" fecha-se o país e o povo que se lixe.
É verdade, as empresas deficitárias como REFER, CARRIS, etc, ficam todas no Estado porque os bolsos do tuga não têm fundos...
o waldorf, em nova york, também foi comprado por estrangeiros (não americanos) de modo que não há nada a estranhar....
ResponderEliminarÉ verdade, pois a CML ainda não percebeu que haveria muito dinheiro a arrecadar por aí com as infrações já apontadas pelo Carlos Ribeiro. Além dessas, poderia também fazer muito dinheiro com: publicidade ilegal; fiscalização de estabelecimentos de diversão; infrações à lei do ruído; varandas, varandins, caixilharias e pardieiros, etc
ResponderEliminarÓ Víctor: Mas isso tira votos!
ResponderEliminarPode a CML dizer-nos que tipo de projectos estarão na calha para o esplêndido Palácio dos Marqueses de Tancos e para o mais humilde, mas nem por isso, menos essencial à cidade, palácio Monte Real?
ResponderEliminarEstarão os páineis de azulejos do Palácio Marqueses de Tancos a salvo? os salões? A entrada nobre?
Para facilitar a venda, a CML optou por não impor nenhuma restrição ao uso dos imóveis. Pelo que se sabe e vê, este belíssimo palácio poderá vir a ser esventrado com garagens, os azulejos retirados e recolocados noutros espaços ou vendidos. Será um condomínio fechado, a juntar à inutilidade de tantos outros, vide Palácio Mesquitela? Será um hotel de luxo em que se rebentam com os interiores, Bairro Alto Hotel, hoteis na Alexandre Herculano e Rosa Araújo, etc? O perigo é grande, a certeza da CML salvaguardar o seu (nosso, também) património, nenhuma. Noutras paragens, as hastas públicas envolvendo património dos centros históricos e classificado, regem-se por critérios. Por cá, é vender, arrecadar e o futuro dono que faça o que quiser.