A Câmara de Lisboa quer cobrar um euro a quem entrar na
cidade, por via marítima ou aérea, a partir de 2015. No ano seguinte, os
turistas passarão a pagar também um euro por cada noite de dormida na cidade.
Por Inês Boaventura, Público de 11 Novembro 2014 | Imagem de Rui Soares
Câmara de Lisboa está à espera de uma resposta do Governo, para avançar com um projecto para a Estação Sul e Sueste
A criação de um centro de congressos no Pavilhão Carlos Lopes, a
transformação da Estação Sul e Sueste numa “gare marítimo-turística” e a
requalificação do Campo das Cebolas, do Cais do Sodré e da frente ribeirinha de
Belém são alguns dos investimentos que António Costa quer financiar através da
Taxa Municipal Turística que pretende lançar já em 2015. A partir daí, quem
entrar em Lisboa por via aérea ou marítima vai ter de pagar um euro, valor ao
qual se juntará, no ano seguinte, um euro por cada noite de dormida na cidade.
“Não é
uma receita municipal. É uma receita consignada ao Fundo de Desenvolvimento
Turístico”, salientou António Costa. Segundo o presidente da Câmara de Lisboa,
a gestão desse novo fundo “não será feita exclusivamente pela câmara”, mas sim
“em processo de co-decisão com os parceiros” do sector do turismo, que serão
chamados a pronunciar-se sobre quais os investimentos que “reconhecem como
mais-valias” para a sua área de actividade.
O autarca socialista elencou alguns dos investimentos possíveis,
que constam aliás do Plano Estratégico para o Turismo na Região de Lisboa
2015-2019: a instalação de um espaço museológico dedicado às descobertas (na
Ribeira das Naus), a criação de “mobilidades suaves” para o Castelo de São
Jorge, um “projecto de sinalética turística e de percursos turísticos” e a
“continuação da requalificação da frente ribeirinha”.
Além desses, António Costa deu particular relevo à criação de um
novo centro de congressos, que segundo disse será instalado no Pavilhão Carlos
Lopes, e à requalificação da Estação Sul e Sueste, onde a Associação de Turismo
de Lisboa pretende concentrar a “actividade marítimo-turística”. Este último
projecto continua à espera de luz verde do Governo para avançar, uma vez que o
edifício desenhado por Cottinelli Telmo em 1932 está nas mãos da CP. “É uma
nódoa negra que persiste no Terreiro do Paço. É uma vergonha para a cidade o
estado em que o Estado está a manter este imóvel de grande valor
arquitectónico”, criticou o presidente da câmara.
O autarca apontou a Taxa Municipal Turística como a solução
possível para fazer face àqueles investimentos, “fundamentais para continuar a
alimentar a atractividade da cidade”, uma vez que “o próximo quadro comunitário
de apoio não vai financiar estes projectos”. António Costa frisou ainda que
esta nova taxa existe “em todas as capitais europeias e em muitas cidades
europeias” e explicou que será uma medida “temporária”, que vigorará até 2019 e
será reavaliada nessa altura.
De acordo com aquilo que foi avançado pelo presidente da câmara
e pelo seu vice-presidente numa conferência de imprensa que se realizou esta
segunda-feira, as entradas na cidade, por via aérea ou marítima, começarão a
ser taxadas já no próximo ano, sendo cobrado um euro a cada turista. No
Orçamento municipal para 2015, cujos principais aspectos foram dados a conhecer
na ocasião, está previsto o encaixe de sete milhões de euros através dessa
rubrica.
A partir de Janeiro de 2016, os turistas passarão a ter de pagar
também um euro por cada noite de dormida na cidade. Segundo o número dois do
executivo, não deverão ser cobrados mais do que sete euros a cada pessoa,
estando isentas as crianças e as pessoas que realizem “estadias prolongadas”
que comprovadamente não tenham fins turísticos. Esta componente da taxa, disse
Fernando Medina, deverá render oito milhões de euros por ano.
Em comunicado, a Associação de Hotelaria de Portugal informou
que o seu conselho geral se manifesta "frontalmente contra qualquer
aumento da carga fiscal sobre a hotelaria, independentemente da natureza e nome
que venha a revestir, bem como de quaisquer taxas que penalizem a actividade
turística".
O orçamento da Câmara de Lisboa para 2015 prevê outras novidades
ao nível das taxas, nomeadamente a criação de uma Taxa Municipal de Protecção
Civil (TMPC), com a qual se conta ganhar 18,9 milhões de euros nesse ano. O
objectivo anunciado é “financiar as actividades e investimento” ao nível do
Regimento de Sapadores Bombeiros e do seu departamento de Protecção Civil.
António Costa destacou que esta taxa será “neutra para os
residentes”, uma vez que estes irão deixarão de pagar a Taxa de Conservação de
Esgotos (TCE) hoje existente. Mas há pessoas para as quais a criação da TMPC,
que vai incidir sobre o valor patrimonial tributário dos prédios urbanos, irá
implicar um acréscimo de custos: a câmara, adiantou o autarca, vai pedir
“contribuições acrescidas” aos proprietários de “prédios degradados, devolutos,
em ruínas” e a quem desenvolve “actividades de risco”, como “distribuição de
gás e de electricidade e parques de estacionamento”.
Ainda ao nível das taxas, vão avançar as já anunciadas
alterações na área dos resíduos urbanos e do saneamento, que o executivo
camarário tem vincado que visam cumprir as disposições da entidade reguladora
do sector. Assim, como se diz num texto explicativo das opções do orçamento, a
tarifa de resíduos urbanos será autonomizada, passando a surgir de forma
isolada na factura da água, e os custos com a rede de esgotos passarão a
integrar a tarifa de saneamento. Além disso, houve que “definir tarifários que
assegurem a recuperação dos custos incorridos com os serviços” em causa, “tendo
em vista a sustentabilidade dos sistemas”.
De acordo com as contas feitas pela câmara, uma família média
terá em encargo mensal de 3,5 euros com a nova Tarifa de Resíduos Urbanos,
valor que descerá para 1,27 euros nos agregados que beneficiem do tarifário
social.
Quanto à Tarifa de Saneamento, estima-se que uma família média
vá pagar 5,24 euros por mês quando actualmente paga 2,92 euros. Quem tiver
tarifário social poderá ver a sua factura mensal diminuir 1,45 euros e quem
tiver tarifário familiar (destinado a agregados com cinco ou mais pessoas)
poderá poupar 0,83 cêntimos.
O presidente do município assegura que em ambos os casos estão
em causa “preços competitivos, comparativamente com outros municípios da Área
Metropolitana de Lisboa”.
No outro prato da balança, António Costa anunciou que quer
manter os impostos “baixos e atractivos”. Nesse sentido, a Câmara de Lisboa
vai, em 2015, “manter a taxa de IMI no mínimo” de 0,3%, “continuar a devolver
aos munícipes 2,5% do IRS” e “manter as isenções na Derrama”, como se destaca
no texto explicativo das opções do orçamento.
António Costa destacou a importância de se promover uma política
fiscal “estável e previsível”, referindo que se na capital fossem praticadas as
taxas máximas de IMI e de IRS os munícipes pagariam, entre 2013 e 2017, mais
350,4 milhões de euros do que vão pagar se as taxas actuais se mantiverem até
ao fim do mandato.
Contas feitas, o executivo camarário garante que o Orçamento
para 2015 “mantém o apoio às famílias por via dos elevados benefícios fiscais
atribuídos, política que as novas taxas não comprometem”. Segundo o presidente
do município, entre 2013 e 2017 as famílias terão um “benefício líquido”
(excluindo os “custos com novos tarifários”) de 111,7 milhões de
euros.
"Impostos encapotados"
A Associação Lisbonense de Proprietários já reagiu à "reconversão da Taxa de Esgotos e à criação de uma nova Taxa de Protecção Civil", num comunicado em que diz recusar "impostos encapotados e taxas ilegais". A associação promete "bater-se" contra essas medidas "nas instâncias judiciais competentes" e diz que não aceitará que os seus associados sejam "chamados a pagar a factura pela irresponsabilidade financeira e despesismo da autarquia".
A Associação Lisbonense de Proprietários já reagiu à "reconversão da Taxa de Esgotos e à criação de uma nova Taxa de Protecção Civil", num comunicado em que diz recusar "impostos encapotados e taxas ilegais". A associação promete "bater-se" contra essas medidas "nas instâncias judiciais competentes" e diz que não aceitará que os seus associados sejam "chamados a pagar a factura pela irresponsabilidade financeira e despesismo da autarquia".
Também o vereador António Prôa fez chegar à comunicação social
uma declaração escrita, na qual afirma que a proposta de orçamento municipal
para 2015 "confirma os piores cenários, apresentando um colossal aumento
de impostos, taxas e tarifas em relação ao orçamento do ano passado".
"Este é um orçamento do caminho fácil. Da solução
preguiçosa. O Dr. António Costa, em vez de tornar a câmara mais eficiente, de
racionalizar de reformar, faz o mais fácil: corta no investimento e aumenta
brutalmente os encargos dos lisboetas", critica o autarca
social-democrata.
Ainda do lado da oposição, o vereador do CDS-PP na câmara
considerou que este orçamento introduz "um ataque pouco inteligente, pouco
racional e pouco eficiente" ao turismo, "um dos sectores que funciona
melhor na economia nacional e da cidade". Para João Gonçalves Pereira, a
Taxa Municipal Turística "não é uma taxa, nem duas mas três" porque
incidem sobre "quem aterra, quem desembarca e outra para quem dorme".
Além disso, "esta é uma taxa que é aplicada não só a
turistas mas também a portugueses que venham visitar ou fazer negócios em
Lisboa", alertou, em declarações à Lusa. Para o vereador, "é
necessário ter consciência, que muitas vezes não existe, de que uma parte
significativa de dormidas não é de estrangeiros, mas de turismo interno".
Relativamente à Taxa Municipal da Proteção Civil, o vereador do
CDS-PP disse que esta foi criada "eufemisticamente", mas "na
verdade trata-se de mais um imposto sobre proprietários" de imóveis em
Lisboa.
senhor vereador, é ilegal distinguir portugueses de cidadãos comunitários! devia saber isso antes de se candidatar a vereador...
ResponderEliminarbem, tendo em conta as vezes que vou a Portugal eu prevejo pagar de 8 a 10 euros por ano... acho que vai ser dinheiro que não irei gastar em pasteis...
Então mas a requalificação da Preça Duque da Terceira não foi anunciada dezenas de vezes (incluindo no pacote, da última vez, um lindíssimo prédio para estacionamento ao Corpo Santo) e para o Campo das Cebolas não foi aberto concurso e declarado um vencedor, tudo isto sem haver as taxas do Costa que nem se sabe se serão legais?
ResponderEliminarDe promessas aldrabonas ando eu cheio.
Adenda ao comentário anterior:
ResponderEliminarÉ ver aqui o que impingiram ao cidadão de Lisboa, e tudo SEM HAVER DINHEIRO PARA O FAZER!!!
http://expresso.sapo.pt/cais-do-sodre-mais-verde-e-a-medida-dos-peoes=f807819