Vistoria realizada pelo município identificou risco de queda
de elementos das fachadas. Ministério da Educação diz que é “prioritária” a
intervenção na cobertura, mas não confirma se tem verbas para a realizar em
2015.
Por
Inês Boaventura, Público de 1 Dezembro 2014 | Foto de Helena Colaço Salazar
A Câmara de Lisboa vai
intimar o Ministério da Educação e Ciência (MEC) para realizar obras de
conservação no edifício da Escola de Música do Conservatório Nacional de
Lisboa. A decisão surge na sequência de uma vistoria realizada ao imóvel no
Bairro Alto, na qual se concluiu que existe risco de queda de elementos das
fachadas, “insalubridade” e “alguma insegurança em relação ao risco de
incêndio” no interior.
Esta inspecção foi realizada na
sequência de um pedido da própria directora da escola, feito em Abril deste
ano, mês em que a instituição voltou a ser notícia devido à queda de parte do
tecto de uma sala. No requerimento que dirigiu nessa altura à autarquia, Ana
Mafalda Pernão lembrou as “várias derrocadas de tectos de salas de aula e de
corredores” e as “infiltrações na cobertura e caldeiras”. E solicitou que fosse
feita, “com a maior urgência, uma vistoria ao estado de segurança do edifício”,
frequentado por 963 alunos.
“O Ministério da Educação
tem conhecimento há vários anos dos problemas existentes, mas até agora ainda
não fez qualquer intervenção no espaço, o qual se tem vindo progressivamente a
degradar”, afirmava a directora da escola no pedido que dirigiu ao presidente
da Câmara de Lisboa, no qual acrescentava que a associação de pais lhe tinha
solicitado “que fossem tomadas todas as diligências para prevenir qualquer
acidente”.
No fim de Junho,
realizou-se a inspecção requerida ao município, tendo os três técnicos que a
conduziram concluído que “deverá ser determinada a execução e obras de
consolidação e reparação no edifício” com vista à “eliminação” de um conjunto
de “anomalias”, “de modo a garantir a indispensável solidez e salubridade da
edificação”.
“Os elementos estruturais
que poderão oferecer maior risco são as paredes exteriores, por risco de queda
de elementos”, diz-se no auto de vistoria. Nele aponta-se também a existência
de riscos ao nível das paredes interiores, por “degradação dos elementos
estruturais em madeira (…), com anomalias resultantes de infiltrações
prolongadas de águas”.
Os problemas sobre os
quais os técnicos consideraram que as obras a realizar deveriam “incidir
prioritariamente” incluem ainda a situação de “insalubridade” detectada, que é
atribuída “às infiltrações de água pluvial, provenientes das fachadas e
cobertura”, bem como “à ausência de obras de conservação”. No auto de vistoria
refere-se também a existência de “alguma insegurança em relação ao risco de
incêndio devido às infiltrações em contacto com a rede eléctrica que evidencia
desgaste”.
Já em Outubro, essa
informação técnica mereceu a concordância do director da Unidade de Intervenção
Territorial do Centro Histórico. O PÚBLICO perguntou à câmara qual o seguimento
que ia ser dado a este processo e o vereador da Reabilitação Urbana, Manuel
Salgado, fez saber que, tendo-se concluído pela “necessidade de obras de
conservação”, “foi iniciado o procedimento para fins de intimação”.
Na semana passada, a
Assembleia Municipal de Lisboa aprovou, por unanimidade, uma recomendação (da
Comissão de Cultura e Educação) na qual se solicitava à câmara “que faça
cumprir as recomendações-conclusões” daquele auto de vistoria. Em Abril, este
órgão autárquico já tinha aprovado duas recomendações (uma do PEV e outra do
PCP) nas quais se defendia a necessidade de a escola de música ser reabilitada.
No início de Novembro, outra recomendação (do PCP) voi aprovada, propondo a
classificação do Conservatório Nacional como imóvel de interesse municipal.
O PÚBLICO perguntou ao
ministério de Nuno Crato se reconhecia a necessidade da realização de obras no
imóvel no Bairro Alto e se havia verbas consagradas para esse efeito no
Orçamento para 2015. Em resposta foi dito que o secretário de Estado do Ensino
e da Administração Escolar se pronunciou recentemente sobre o assunto no
Parlamento, onde informou que “têm sido feitas intervenções pontuais na
cobertura do edifício” e que, entretanto, “tem-se constatado que carece de uma
intervenção mais abrangente”.
“Foi efectuada uma
vistoria ao telhado, por técnicos da Direcção de Serviços da Região de Lisboa e
Vale do Tejo, tendo sido registada uma situação mais complexa do que se previa,
resultante das características arquitectónicas e construtivas das duas fachadas
principais”, disse João Casanova de Almeida.
O secretário de Estado
acrescentou, segundo foi transmitido pela assessoria de imprensa do MEC, que,
“dado que este edifício se localiza numa área denominada, segundo o PDM de
Lisboa, de potencial valor arquitetónico, foi contactado o Igespar e qualquer
intervenção terá de ser feita em harmonia com o parecer deste organismo dadas
as características do edifício e a sua localização, sendo que foi assinalada
como prioritária a intervenção na cobertura do edifício”.
O PÚBLICO insistiu na
pergunta sobre se está previsto que a escola seja alvo de obras já no próximo
ano, mas não obteve resposta. Consultando o documento que contém os
investimentos previstos pelo MEC no âmbito do Orçamento para 2015, verifica-se que
não há, entre os estabelecimentos de ensino elencados, qualquer referência à
Escola de Música do Conservatório Nacional de Lisboa.
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