18/04/2015

Depois da semana da "reabilitação", aqui ficam alguns exemplos por tratar

Fachada do Ódeon. Depois de petições, programas de televisão, pareceres dos srs. deputados, nada demoveu a CML de permitir que se venha a construir neste histórico cinema de Lisboa, um centro comercial. Foi tudo sacrificado, cadeiras vendidas, as mísulas de estuque que cobriam os suportes de ferro desta varanda, os candeeiros de bola que davam para a rua, a moldura de cena. Haverá lojas e garagens. Mas a memória de um dos mais antigos cinemas da Europa, perder-se-á. Terá sido falado este caso na digna semana de reabilitação?

Outro a pedir ajuda. palácio dos Condes de Povolide, actual Atheneu Comercial. Lá dentro há magníficos salões de aparato. Em mau-estado de conservação.

Notável varanda do Ódeon. Peças com esta qualidade já são raras em Lisboa. E mesmo as que existem, apodrecem e desaparecem todos os dias.

O mesmo aviltado Ódeon. Houve pressão da opinião públia, à qual as instâncias que gerem a cidade se mostraram insensíveis e inamovíveis.

Fachada de aparato junto ao Palácio da Anunciada. Expectante de obras que a transformarão em hotel.


As janelas abertas são uma constante para que a degradação aconteça mais depressa e seja irremediável.

Palácio da Anunciada. Os tectos do andar nobre são cobertos por riquíssimos estuques. As janelas abertas em permanência serão o passaporte para a sua degradação absoluta.

Mansardas pombalinas. Por aqui começa muitas vezes o abate destes prédios.

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Singular jardim suspenso do Palácio da Anunciada dos Marqueses de Rio Maior. Será sacrificado em grande parte se o projecto de reconversão para hotel não for revisto.

Mais janelas abertas que dão directamente para os salões do piso nobre.

Corpo recudao do palácio da Anunciada o qual, de acordo com os renders do projecto, será destruído para se fazer o alinhamento da fachada. Esquecem-se os senhores arquitectos que é, justamente pelo jogo de diferentes volumetrias, que o tecido urbano de Lisboa ganha em originalidade.

Palacete em frente do Palácio da Anunciada. Devoluto.

Outro palacete em frente do Palácio da Anunciada. Também este devoluto e vandalizado.

Toda esta zona da cidade, Rua das Portas de Santo Antão e Rua de São José, deveria ser classificada na íntegra. O número de palácios é impressionante, Almada, Povolide, Ordem de Malta, Anunciada, Alverca, só para mencionar alguns, acrescentem-se algumas igrejas, São Luís dos Franceses, Anunciada, São José dos Carpinteiros (esta última num estado de degradação aflitivo, pese embora a riqueza dos seus paineis de azulejos e os embutidos de pedras duras) e, por fim, uma ocupação cultural com o Coliseu dos Recreios, Politeama, Sociedade de Geografia e o defunto Ódeon como testemunhos da Lisboa boémia.

Foi precisamente na Sociedade de Geografia de Lisboa que teve lugar a semana da reabilitação. Não poderia ter sido mais indicado o local para falar daquilo que a cidade precisa de fazer para inventar uma verdadeira reabilitação urbana e não aquela, que temo, tenha sido a mais focada nesta iniciativa: a que defende destruições integrais de interiores, aumentos de cérceas e construção de cabeçudos,  manutenção "pastiche" de fachadas para que a elas se acoplem caixas de betão armado, destruição sistemática de logradouros, abertura de garagens em fachadas classificadas e em zonas de protecção. Exemplos destas famigeradas reabilitações: recente hotel PortoBay na Rosa Araújo, prédio Ventura Terra na Avenida da República, palácio do bichinho-de-conta e a lista seria interminável. Se se acha que são essas as intervenções que entrariam na categoria das reabilitações, está a vender-se gato por lebre em detrimento da cidade e do seu património. O que, quero crer, não foi a tese defendida na semana da reabilitação.



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