Não admito que, depois dos gastos de torneira aberta exigidos pelo novo e desnecessário Museu Nacional dos Coches, se diga que não há dinheiro.
A inauguração do novo Museu Nacional dos Coches (MNC), mais de dois anos depois da conclusão dos trabalhos de construção e sem que a museologia da exposição permanente esteja concluída, é um acto da campanha eleitoral que já estamos a viver. Pretende-se mostrar obra feita na Cultura e cativar o influente lobby dos arquitectos e seus amigos que consideram que o que ali urge mostrar é a obra do principal autor do projecto, o celebrado Paulo Mendes da Rocha. Para mim que, desde 2000, discordei das sucessivas propostas que sobre o assunto foram existindo, com sincero espírito de companheirismo, desejo à equipa do MNC as maiores felicidades e aos públicos em geral que os mais de 40 milhões de euros já gastos tenham merecido a pena, ou seja, que a bela colecção dos coches possa ser fruída em melhores condições.
Ainda assim quero usar aqui o meu direito à memória. Recordando as primeiras decisões — elaboradas por um grupo de trabalho onde sempre perdi —, o que aconteceu é infinitamente superior ao que se propunha: usar o apetecível local para instalar a Escola Portuguesa de Arte Equestre, com estabulação de cavalos integrada, e, numa pequena área anexa, colocar o MNC. Ultrapassada esta estapafúrdia proposta, a decisão de que se renunciava à escola e se construiria apenas o novo MNC foi tomada por um ministro da Economia que a transmitiu ao ministro da Cultura. Apesar da prepotência insuportável, a verdade é que o ministro da Cultura aceitou e “toda a gente” também porque se via no novo museu uma árvore das patacas que iria (irá) fazer multiplicar os preciosos 40 milhões de euros que chegaram à Cultura, por contrapartida da abertura do Casino de Lisboa. “Toda a gente” não incluía evidentemente a opinião de técnicos e especialistas, muito pouco a do Instituto dos Museus e quase nada a da própria directora do mesmo. Assim se continuou depois, até ao dia de hoje. Alguns, poucos na verdade, defenderam que aquele dinheiro devia ser investido com o máximo critério, considerando as graves carências do sector: mais do que construir um novo MNC (quando o existente era amado e visitado como nenhum outro em Portugal) urgia ampliar o Museu Nacional de Arqueologia ou intervir profundamente no Museu Nacional do Azulejo, museu igualmente amado e visitado e cujo monumento quinhentista em que está instalado se encontra em situação de risco permanente. O MNC precisava de renovar a sua museologia e de crescer em área mas não de um edifício novo onde os coches, como se verá, passarão a nadar. E, ainda assim, é necessário expor todos, os excepcionais e os vulgares, para ocupar, ou fazer de conta que se ocupa, a arquitectura de Mendes da Rocha. Esta, infelizmente, muito deixa a desejar como museu, cuja primeira função é salvaguardar os bens que integra. Mas sobre este penoso assunto não me alongarei antes de a museografia estar completa, pensa-se que para o final de 2015.
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Não sou o único a achar que o novo museu é de um péssimo gosto pois não? O edíficio deixa muito a desejar...
ResponderEliminarE os dinheiros do casino de Lisboa que esteve para ser (no mínimo) numa dezena de locais diferentes não eram para evitar a ruína e o desabamento do Pavilhão Carlos Lopes?
ResponderEliminarAté entendo que CL tem muito bom feitio:por estes dias, outro já teria exigido que aquela vergonha deixasse de ser designada pelo seu nome...
O mostrengo é PAVOROSO e mete-se pelos olhos que "O MNC precisava de renovar a sua museologia e de crescer em área mas não de um edifício novo onde os coches, como se verá, passarão a nadar. E, ainda assim, é necessário expor todos, os excepcionais e os vulgares, para ocupar, ou fazer de conta que se ocupa, a arquitectura de Mendes da Rocha. Esta, infelizmente, muito deixa a desejar como museu, cuja primeira função é salvaguardar os bens que integra." - BATO PALMAS A ESTAS CERTEIRÍSSMAS PALAVRAS.
ResponderEliminarLobby dos arquitectos? O autor nem sequer é português. Qualquer arquitecto nacional gostaria que tivesse sido feito concurso de ideias, coisa que o governo optou por não fazer.
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