Por Paulo Ferrero, in Público online (23.4.2018)
"Temos, pois, uma Lisboa mais europeia. Paradoxalmente, Lisboa volta, neste campo, ao que tinha há 100 anos: uma linha de eléctricos impressionante.
Parece que é já no próximo dia 24, em vésperas da alvorada, que o bom do eléctrico n.º 24 vai voltar a circular oficialmente entre a Praça Luís de Camões e Campolide, tal e qual como desde 1905 até 1995, altura em que foi suspenso por causa da construção do estacionamento subterrâneo naquele largo, primeiro, e por causa das obras do Metropolitano no Rato, depois.
Agora, a partir de 25 de Abril (dia em que será gratuito para todos) voltará a ser serviço público, contrariando assim os doutos senhores que até há poucos anos juravam a pés juntos, do alto dos seus “galões”, que o mesmo só poderia voltar para fins turísticos, por isto ou por aquilo.
O certo é que ele está de volta. Ainda que parcialmente (falta reabrir a circulação no troço Camões-Sodré, com extensão ao Carmo), está de volta. Isso é motivo para todos comemorarem. Todos os que pugnam por uma cidade moderna, amiga do ambiente, em que possam conviver passado e presente, sem poluições ou cortinas de fumo.
É por isso tempo para, salvaguardadas as devidas distâncias, parafrasear Neil Armstrong aquando da sua chegada à lua: trata-se de um pequeno passo para um homem, e um salto gigantesco para a humanidade.
Há ainda algumas arestas, afiadas, por limar: o risco de engarrafamentos por causa do estacionamento automóvel indecoroso, que importa reprimir; a espera durante 20’ pela chegada do eléctrico, a falta de composições (pretende-se colocar ao serviço todos os eléctricos remodelados e também reduzir o número de eléctricos imobilizados em Santo Amaro durante os horários de serviço, encurtando os ciclos), e, claro está, falta reactivar o troço indispensável de todo aquele eixo central-histórico-turístico do Cais do Sodré-Rua do Alecrim-Carmo-Largo Trindade Coelho-São Pedro de Alcântara-Príncipe Real-Rato-Amoreiras, pecha que estará resolvida a muito breve trecho.
Temos, pois, uma Lisboa mais europeia. Paradoxalmente, Lisboa volta, neste campo, ao que tinha há 100 anos: uma linha de eléctricos impressionante.
Pelo meio ficam 23 (vinte e três) anos de promessas vãs, um protocolo para inglês ver (assinado em 1997 entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Carris); justificativas injustificadas, composições vendidas ao desbarato e que agora fazem falta, o lobby do gasóleo, as manipulações estatísticas à vontade do freguês, estudos pró e contra, duas petições públicas (uma delas com mais 3300 assinaturas, da “Plataforma pela reactivação do eléctrico 24, em Lisboa”), e uma evidência: o E-24 é de facto necessário para muita coisa, desde logo “descongestionar” a concentração de turistas que rumam a São Paulo, ao Bairro, ao Príncipe Real, às Amoreiras, e promover um percurso assistido em termos de mobilidade naquela encosta, Sétima Colina acima, que apenas funciona de formar intermitentemente por via dos elevadores de Santa Justa e da Glória junto ao metropolitano, e de uma carreira de autocarro.
Finalmente, fez-luz.
O boom turístico terá ajudado. As taxas também. Mas sem vontade política de quem de direito é que não seria possível o regresso do E-24, facto a que não será estranha a passagem de tutela da Carris para a Câmara Municipal de Lisboa (CML).
Chegados aqui há que elogiar o actual presidente da CML, e faço-o sem rodeios ou hesitações. Tal como à nova vereação da mobilidade. E à presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, apoiante desta verdadeira causa desde a primeira hora, ao contrário de outros agora oportunistas.
Elogio também e muito à já citada plataforma online, que nunca desistiu e que funcionou (e funciona) como ponto de encontro entre conhecidos e desconhecidos, verdadeiro hub dos mais variados entusiasmos e valências, de todas as idades e de todo o país, e que começou por levar três pessoas a bordo e já leva três mil.
Estão todos de parabéns!
Esta vitória da urbanidade (do urbanismo, leia-se) possibilita agora outros voos e novas paragens, quiçá, poderá justificar o repensar dos antigos ramais do E-24, que dantes chegava ao Alto de São João e ao Tejo, vindo da Morais Soares e da Av. Duque d’Ávila. Poder-se-ia ligar de novo a cidade à Av. Infante D. Henrique e ir daqui à zona da Expo, talvez daqui por uma década.
Já agora, é favor não esquecer o imenso potencial que advirá para a cidade se se aproveitar a requalificação urbanística da chamada “Colina de Santana” e se reintroduzir o eléctrico entre o Martim Moniz e o Campo Mártires da Pátria. Tal permitirá algo semelhante ao que se conseguiu com o E-24 do outro lado da Avenida, mas também outras coisas, como, por exemplo, permitirá ao vereador Manuel Salgado deixar de recusar a instalação do Arquivo Municipal de Lisboa (e a sua dignificação é uma chaga cultural que importa resolver) no complexo do antigo Hospital Miguel Bombarda pelo facto de haver “más acessibilidades”.
Hip, hip, hurra ao Eléctrico n.º 24.
Fundador do Fórum Cidadania Lx"
Independentemente do regresso ou não do E24, continuam-se a fazer obras na cidade para turista ver ... e usar. Ainda hoje o presidente do Metro diz que para o ano já vamos ter um metro como deve de ser. Isto apenas porque o material circulante que está a reparar deve ficar todo pronto.
ResponderEliminarOu seja, não vamos ter um metro como deve de ser. Vamos ter o metro que era suposto termos se as coisas fossem feitas atempadamente e de forma programada.
O metro como deve de ser implicaria que ele chegasse a toda ou, pelo menos, a quase toda a cidade, como acontece nas capitais europeias.
Enquanto tivermos um metro que chega apenas a 1/3 dos habitantes, ignora por completo a zona ocidental e parte da zona central, deixa de fora grandes bairros habitacionais e comerciais, não vamos ter um metro como deve de ser.
Veja-se o caso das Amoreiras, de Campo de Ourique, da Estrela, já para não falar de Alcântara. Enquanto zonas de grande habitação e de comércio, que não são o centro do turismo (embora por lá passem cada vez mais), e que não têm os apetites de construção que têm outras zonas para onde se quer estender o metro, não forem servidas por este meio de transporte rápido, vamos continuar a ter um metro "de treta", que apenas serve quem se desloca de fora para dentro (alguns) e esquece os próprios habitantes de Lisboa.
Teoricamente seria uma notícia fantástica, pois começa onde eu moro e acaba onde eu trabalho. Na prática, creio que será exactamente o contrário. Para ser eficaz (dado o enorme volume de passageiros neste trajecto) precisava de ter um frequência, no mínimo, de 5 em 5 minutos, e de ter composições longas e modernas – ou seja, de ser um “metro de superfície”. De 20 em 20 minutos, e com aqueles eléctricos ronceiros e minúsculos, vai apenas servir para sacar dinheiro aos turistas (que, ainda por cima, demoram a pagar), e atrapalhar ainda mais o trânsito neste eixo saturado, que eu utilizo com frequência – prejudicando a circulação do 758 (o autocarro que uso quando não tenho pressa, porque demora muito mais tempo a chegar ao Elevador da Glória, do que o 711 ou a combinação 723/753/748/783-Metro a chegar aos Restauradores). Assim, acabará por ser apenas mais uma chatice para quem vive e trabalha em Lisboa, aplaudido por quem, provavelmente, já não sabe o que isso é. Para vir para casa, depois da 21h30, continuarei a apanhar um táxi, ou a "subir o morro" a pé (do Rato, de São Sebastião ou do Marquês), o que, aliás, faz muito melhor ao coração do que estar 20 minutos à espera de um transporte (seja a diesel seja eléctrico). Cumprimentos. JPT
ResponderEliminarVamos antes festejar mais de 50% de autocarros no E15!
ResponderEliminarNão me parece que seja mais do que um transporte para turistas. Embora mais rápido do que há 20 anos, a verdade é que é certamente lento em relação aos restantes, e, dada a escassez, acabará por ser mais usado por turistas do que por nacionais, contribuindo para uma demora do trânsito mais do que para o chamado serviço público.
ResponderEliminarEspero que seja a primeira de muitas linhas recuperadas.
ResponderEliminarA carreira usa 3 carros (no período que tem mais chapas) e a E15 já vai com 50% de autocarros?
ResponderEliminar"Deixa-me rir, essa história não é tua..."
Concordo com o comentário do primeiro anónimo.
ResponderEliminarA nossa necessidade mais urgente era o alargamento da rede de metro por toda a Lisboa Ocidental. Só isso permitirá que em Lisboa se circule com qualidade de vida.
Quanto ao Eléctrico 24 não há dúvida que a turistada vai delirar e é bonito, mas a resolução dos problemas de transportes tem que passar por um urgente alargamento da rede de metro, bem como o repensar da rede e das estações existentes. Por exemplo, por que cargas de água é que na estação dos Altos Moinhos não há uma saída para o Largo do Conde Bomfim?
Um abraço
sempre sera benvindo um meio de transporte alternativo para entreter e dar nova cor e vida a lisboa. Sempre ajuda a reduzir a velocidade excessiva dos automobilistas impunes e o estacionamento abusivo em algumas zonas de Lisboa. No entanto, não deixo de lamentar a pobre, ridicula e demonstrativa de mais alta incompetência por quem nos gere a forma como os autocarros passam na paragem terminal em frente ao quiosque da praça de Campolide. É deveras desastroso o "desenrascanço" nas soluções encontradas em cima do joelho como de forma geral, em quase toda a cidade.
ResponderEliminarAos (legitimamente) preocupados com o trânsito, recordo-vos que os problemas de trânsito são devidos ao excesso de automóveis individuais (e aos excessos comportamentais dos motoristas) e não a qualquer eléctrico que passe. E não, o 24E não vai atrasar qualquer 758, será um automobilista mal estacionado que o fará (para não haver dúvidas, isto é dito por quem viva e trabalhe em Lisboa).
ResponderEliminarDe resto, completamente de acordo: deveria haver muito mais frequência, novos e mais confortáveis eléctricos adaptados às nossas colinas, etc.
Antes de se levantar um coro de preocupações pelo trânsito, deveria-se considerar que este é um passo de futuro e que por outro lado, o trânsito não tem futuro.