Dra. Inês de Medeiros
C.c. AM de Almada e media
Consultada a documentação tornada pública pela Câmara Municipal de Almada (CMA) acerca do Plano de Pormenor do Cais do Ginjal (PPCG), cujo trabalho preparatório remonta a 2008 e ao estudo estratégico então elaborado para o conjunto Quinta de Almaraz-Ginjal, o qual daria, portanto, origem aos termos daquele colocados em discussão pública durante 2018;
Somos a solicitar a melhor atenção a Vossa Excelência, Senhora Presidente, para o risco de com este PPCG se perder uma oportunidade de ouro, e em vez da recuperação por que todos ansiamos de um Cais do Ginjal todos conhecemos desde há várias décadas como absolutamente degradante, termos a sua completa descaracterização por via de uma densificação urbana insuportável e do assalto pelo automóvel, da alteração radical da sua silhueta, da prostituição da sua génese fundadora; da sua alma.
Com efeito, e apesar da bondade do texto e das virtualidades do regulamento e demais peças processuais do PPCG, designadamente do relatório ambiental (por vezes caricato), das justificações e garantias técnico-engenheiras apresentadas, do desenho criativo das 3-D de “arquitectura de autor”, e das referências a mais espaço público, centros de arte, etc., a verdade é que, a nosso ver, o essencial deste PPCG assenta num conjunto de premissas que nos parecem absurdas para 2019, em pleno século XXI:
· Aposta massiva em construção nova, em 2ª linha, mais a mais sob a arriba e destinada a habitação;
· Aposta em habitação em detrimento da reabilitação dos inúmeros armazéns e espaços industriais por via da sua reocupação com serviços, espaços de memória, ateliers, e eventualmente com alguns lofts para habitação;
· Aposta na atracção de mais automóveis para um cais, implicando o alargamento do cais (!), para 2 faixas de rodagem, e a construção de um silo para 600 lugares na Quinta de Almaraz com sistema elevatório, de modo a compensar-se a “geração total próxima dos 1850 veículos por dia nos 2 sentidos”;
Apelamos, portanto, a Vossa Excelência para que reconsidere todo este Plano, e solicite aos Serviços da CMA a sua reformulação completa, para que do mesmo sejam eliminadas as referências a:
· Todo e qualquer alargamento e desfiguramento do cais existente;
· Remoção do piso em pedra do cais;
· Colocação de painéis/suportes/múpis de publicidade;
· Plantação de árvores no cais;
· Toda e qualquer nova construção em 2ª linha;
· Toda e qualquer construção nova na escarpa;
· Toda e qualquer construção em cave;
· Construção de silos automóveis;
· Remoção de guinchos e demais equipamentos alusivos ao trabalho no cais;
· Toda qualquer hipotética reformulação das fachadas das construções dos séculos XIX-XX existentes na 1ª linha;
· Aumento de cércea nos quarteirões existentes na 1ª linha e na 2ª linha (no caso em ruína);
· (caricatas) “Renaturalização” e a uma futura “praia do Ginjal”, sendo o Plano como é.
Solicitamos, em vez disso, que o Plano passe a considerar como essencial o seguinte:
1. Reformulação, em conjunto com a empresa IP-Infraestruturas de Portugal, do apeadeiro fluvial de Cacilhas, indigno a todos os níveis.
2. Requalificação urbanística e paisagística da entrada de Cacilhas, recorrendo à demolição de uma série de elementos espúrios construídos, incluindo edifícios de restauração.
3. Demolição de todas as construções existentes na arriba sobre o Cais do Ginjal, incluindo a antiga fábrica de óleo de fígado de bacalhau (e a relocalização da “casa da juventude” e do centro paroquial para a zona do cais), e estabilização adequada da arriba e respectiva renaturalização.
4. Interdição a trânsito automóvel no acesso ao Cais do Ginjal a partir do começo da Rua do Ginjal.
5. Aposta a 100% no acesso pedonal, bicicletas e afins.
6. Recuperação e reconstrução da totalidade dos imóveis existentes no cais, na 1ª linha e na 2ª linha, para serviços, indústrias criativas, espaços museológicos relativos à antiga actividade do cais, ateliers e afins (ao jeito da Lx Factory de Alcântara), prevendo alguma componente habitacional nos edifícios onde seja possível a existência de “lofts” e/ou a abertura de pequenas unidades turísticas para jovens.
7. Contemplar a vertente “turismo náutico” como actividade complementar.
8. Garantia absoluta de que não haverá qualquer impacte na zona classificada da Quinta de Almaraz.
Cremos que desta forma se assegurará que não se trata de uma oportunidade perdida, nem do fim da “galinha dos ovos de ouro”, i.e., do fim do Cais do Ginjal como local “sui generis”, autêntico e apaixonante do estuário do Tejo.
À consideração de Vossa Excelência.
Apresentamos os nossos melhores cumprimentos e votos de BOM ANO NOVO!
Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Inês Beleza Barreiros, Luís Serpa, Virgílio Marques, Júlio Amorim, Henrique Chaves, Maria do Rosário Reiche, Helena Espvall, Jorge D. Lopes, Maria de Morais, Fernando Silva Grade, Fátima Castanheira, Rui Pedro Barbosa, Beatriz Empis, Maria Ramalho, Pedro Cassiano Neves, Irene Santos
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