Possibilidade da contribuição do Parque Florestal de Monsanto em Lisboa na Reintrodução do Urso-Pardo Ibérico em Portugal.
As grandes serranias do Norte de Portugal, cobertas por florestas predominantemente constituídas por folhosas autóctones produtoras de frutos silvestres, onde os grandes espaços silenciosos dominavam, foram em tempos o habitat predilecto do Urso-Pardo Ibérico.
Os Ursos
O urso é o maior animal carnívoro actualmente existente sobre a Terra. Da família Ursídae fazem parte sete géneros, entre os quais o género Ursus, composto por pequenas e numerosas populações, muito variadas, pertencentes todas à mesma espécie - arctos. Excepto o urso-polar, os restantes membros desta família vivem em áreas temperadas e tropicais dos continentes europeu, americano e asiático. São completamente ausentes em África e na Austrália.
Outrora presente no nosso país, e ainda abundante no século XIV, conheceu a extinção como espécie com população reprodutora no século XVI, devido à perseguição humana e à destruição do seu habitat. Em Portugal, o último urso foi morto na serra do Gerês, em 1843. Este último urso seria, muito provavelmente, um dos visitantes errantes vindos da Galiza e que ainda hoje nos visitam.
O urso-pardo
O urso-pardo é polimorfo, englobando o urso euro-asiático, de 300 Kg de peso máximo entre os machos dos Pirenéus, e o gigantesco urso Kodiack, do Alasca, que chega a atingir os 1000 Kg nos machos adultos. Está adaptado a meios muito diversos, desde o nível do mar até à alta montanha. Este êxito na adaptação deve-se fundamentalmente ao facto de serem omnívoros. De facto, o regime alimentar do urso é extremamente variado, com uma elevada percentagem vegetal nomeadamente frutos, insectos e mel. Raramente tenta abater animais de tamanho médio ou grande. Nesta operação , em geral, só tem êxito quando as presas se encontram encurraladas ou cercadas. Então, por vezes, há perdas nas ovelhas, cabras ou demais gado doméstico.
Na Europa Ocidental e Central os ursos foram fortemente dizimados durante muitos séculos, de modo que hoje em dia, tirando os do Norte da Escandinávia, , na Europa Ocidental, sobrevivem apenas quatro grupos isolados, altamente ameaçados de desaparição: nos Pirenéus, nas montanhas Cantábricas do Nordeste de Espanha, nos montes Abruzos da Itália Central e nos Alpes italianos nas proximidades de Trento. Na Europa Central encontram-se na zona fronteiriça jugoslavo-austríaca nos Alpes e nos Balcãs. Em melhor situação estão as populações do Nordeste da Rússia que alastraram pela Finlândia até ao Norte da Suécia e da Noruega. Na Europa é a reduzida população humana que determina a distribuição e os hábitos do urso, o qual foi empurrado e encurralado nas zonas montanhosas, onde hoje exclusivamente vive. Também pelo facto de ser incomodado frequentemente, os seus hábitos tornaram-se nocturnos.
O Urso-pardo na Península Ibérica
O urso da Península Ibérica, reconhece-se pelo seu aspecto pesado, cauda e patas curtas, uma cabeça grande com olhos pequenos, orelhas arredondadas. Apresenta um comprimento de 1,70 - 2,00 m. Altura no garrote: 90 - 100 cm. Peso: 80 - 300 Kg. Comprimento da cauda: 11 - 20 cm. A cor, em geral, é de um castanho médio e as crias têm um "colar" claro. No Inverno fazem prolongados períodos de descanso e alimentam-se, nessas ocasiões, das suas provisões de gordura, mas não hibernam propriamente.
O urso é um ser de índole solitária, só se juntando com a fêmea para o acasalamento. O território que cada indivíduo ocupa costuma ter cerca de 20 Km quadrados,tornando-se maior nas zonas em que o homem pouco os incomoda. Mas os ursos não defendem o seu território e frequentemente dois ou mais indivíduos compartilham a mesma área.
Os ursos acasalam-se no Verão. Após uma gestação de 7 -8 meses, nascem as crias. Como os nascimentos se dão no Inverno (em geral entre fins de Dezembro e meados de Fevereiro) as crias necessitam de uma caverna especialmente protegida. Geralmente nascem 2 - 3 em cada ninhada. Abrem os olhos com apenas 4 -5 semanas e são amamentadas durante 4 meses até serem capazes de se alimentarem sozinhas. Contudo, a mãe trata delas durante dois anos.
Os jovens ursos estão aptos para a reprodução aos três ou quatro anos e podem atingir a idade de 30 anos. Uma ursa pode dar, no decorrer da vida, uma descendência de 20 - 30 animais - número considerável para uma espécie tão grande. No entanto a mortalidade das crias, não obstante os cuidados maternos, é bastante elevada, o que influencia o crescimento populacional. De todo o modo, nos últimos anos, na Cantábria, Têm nascido cerca de 10 ursos por ano.
Em Espanha existem actualmente alguns ursos a viver em ambiente selvagem na cordilheira Cantábrica (Picos da Europa). Além desta população, outras aparecem também nos Pirenéus Ocidentais, onde na vertente espanhola, foi criado o Parque Nacional de Ordesa, dando continuidade ao Parque Nacional dos Pirenéus Ocidentais, criado pela França em 1967 para assegurar o futuro dos 30 a 50 ursos que sobreviviam na cadeia pirenaica, nas regiões da Alta-Garona, Ariege, vales de Aspe e Ossau.
O Futuro
Apesar de nunca ter havido incidentes dignos de serem mencionados entre o homem e os pequenos ursos da Península Ibérica, os montanheses continuam a ter medo deles. A causa de desaparecimento dos ursos resulta da actividade humana: caça, envenenamento e alterações do meio ambiente, nomeadamente a destruição dos bosques que constituem o seu habitat, a abertura de estradas e a actividade turística.
Nos bosques caducifólios ou mistos da Península Ibérica a progressiva diminuição e desaparecimento do magnífico urso-pardo representa uma perda irreparável. Ao mesmo tempo, essa perda é injustificável, pois a sua conservação não é difícil e em muitos locais poderia criar-se uma rede de santuários onde os pacíficos ursos pudessem descansar da ancestral perseguição humana e reproduzir-se em paz.
Se quisermos salvar o urso, é fundamental empreender uma ampla campanha de sensibilização e educação ambiental, principalmente junto dos pastores e das crianças da montanha. Outra das acções relacionar-se-à com uma assistência apropriada a camponeses, pecuários e apicultores cobrindo os prejuízos causados pelos ursos nas plantações agrícolas rebanhos e colmeias. Os governos têm nesta acção um papel importante a desenvolver através dos departamentos que têm a sue cargo a gestão do ambiente.
Entretanto é possível e desejável a sua reintrodução em Portugal Continental em locais de fraca densidade demográfica e em que haja abandono da utilização dos solos. Tal reintrodução seria feita a partir de espécimes existentes em pequenas populações dispersas pela Europa e a partir de um parque temático de animais silvestres em vias de extinção, onde aqueles seriam introduzidos e mantidos. Tal parque temático seria criado no Parque Florestal de Monsanto no local onde até há pouco funcionou o Clube de Tiro a Chumbo no Monte das Perdizes e que seriam depois introduzidos em espaços para o efeito propositadamente escolhidos e monitorizados no seu habitat natural.
João Pinto Soares
Interessante exposição sobre o "urso" mas na minha opiniãouma ideia pouco feliz. Bem sei que este fórum se chama Cidadania "Lx" mas com tanto sítio por este Portugal fora a necessitar de investimento e iniciativa e com toda a certeza melhor habilitados geograficamente para esse tipo de actividade, querer um centro de reintrodução do urso em Lisboa é mero "bairrismo".
ResponderEliminarCumpts,
JR
Este artigo tem por base a criação de um "Parque Temático" na área de 18,5 ha do antigo Clube de Tiro a Chumbo em Monsanto, agora desactivado, onde exemplares da nossa fauna autóctone, incluindo o Urso-pardo, pudessem ser introduzidos e sejam criadas as condições para a sua reprodução, tendo em vista a pedagogia escolar e o repovoamento de zonas silvestres onde estes animais já existiram .
ResponderEliminarJoão Pinto Soares
Concordo plenamente. O Monsanto deve ser para pessoas, não para ursos.
ResponderEliminarAinda assim caro João Pinto Soares mas tudo bem, concordemos em discordar.
ResponderEliminarAb.
JR