29/04/2007

Apelo geral por causa do Túnel do Marquês, em Lisboa


E se houver uma tragédia?
O melhor é prevenir enquanto é tempo…

Para mim, o pior do túnel é ele mesmo: a sua existência que era bem escusada e que traz para o centro da Cidade mais carros e mais depressa.
Mas é claro que, depois de construído, outras questões se levantam. E, neste aspecto, acompanho a ACA-M, no que se refere a esse novel e mais famoso túnel de Lisboa, quando põe o dedo na ferida relativamente a alguns dos pontos essenciais da segurança rodoviária ali postos em causa. O nosso amigo Manuel João Ramos e a sua equipa não brincam em serviço e sabem da poda. Destaco dois desses pontos aos quais sou especialmente sensível.
Primeiro: o separador central não cumpre as normas europeias de segurança. Estamos a brincar? É de bradar aos céus...
Segundo: este também é muito sério. Até transcrevo o texto da ACA-M: «Será que os pilares que sustentam o tecto do túnel junto às entradas e saídas do túnel e no separador central estão preparados para o embate de um veículo, ou são meros elementos estruturais dotúnel?». Que coisa estranha. Será possível?
Sou franco e honesto: ao passar no túnel, não fora toda a celeuma levantada e nem me passaria pela cabeça pensar nisto. Mas não admira: sou totalmente leigo nestas coisas – pese embora o facto de ser muito sensível a aspectos de segurança quer quando conduzo quer no resto da vida – fruto de vivências passadas que me marcaram (Operações Especiais em Lamego, 27 meses de guerra em Cabinda, 72-74, período pós-25 e tal).
Mas, racionalizando, reconheço: há fragilidades nesta construção. Muito visíveis. E até perceptíveis à vista desarmada. De facto há.

Quem é responsável por alguma tragédia?
Previnam, mas é, enquanto é tempo!

E lamento, porque nada abonam nem em favor do consócio construtor nem dos autores do projecto nem da Câmara que tudo tutela.
Sou também sensível a várias das questões colocadas pelos Bombeiros. Mas destaco uma delas: o facto de não haver vias de fuga. De facto, em caso de acidente sério, e se não estou a ver mal, como é que o pessoal sai dali em emergência, com o pânico previsível – ampliado, aliás, pelos alertas e pelo susto? Como é que chegam os meios de socorro? Estamos a brincar aos túneis ou quê?

De tudo isto, ressalta um apelo que me trevo a colocar aqui, em letra de forma (leia «fôrma», por favor, a significar modelo das letras dos tempos do chumbo, acho eu). E esse apelo é para que se faça rapidamente alguma coisa para evitar que algo de péssimo aconteça. Que ninguém fique enquistado nas suas posições do género: «Se agora mexo nisto, estou a dar a mão à palmatória». Acho mesmo que acto de coragem seria dar mesmo a mão à palmatória e ceder nisso da segurança, que é essencial.
Penso que se deve rapidamente rever esta situação e acalmar o pessoal. Antes que aconteça uma desgraça. E depois, pensem bem: os autores morais desta desgraça podem até já nem cá andar e estar sossegadinhos nas suas outras vidas. Mas se alguém lá perder a vida e muitos entrarem em pânico, quem é que então responde pelos danos – se nessa altura já tiverem dado de frosques? E que não tenham: o melhor é, enquanto é tempo, prevenir em vez de remediar, à boa e errada maneira portuguesa…

3 comentários:

  1. Caro José Carlos,
    Para mim, o pior mesmo é aquele arranjo à superfície, verdadeira montra do mau gosto dos nossos governantes. A Joaquim António de Aguiar deixou de ser avenida para ser nem se sabe bem o quê - vista do Marquês é uma aberração, e vista de norte é um precipício. Não há uma árvore. As placas centrais estão colocadas ao Deus-dará, uma monstrosidade com betoneira e rolo compressor para parecer que ali passou o "pugresso".

    Pior ainda está o final da Av.António Augusto de Aguiar, outrora uma das avenidas mais selectas e bonitas de Lisboa, que ficou com uma boca de túnel digna de auto-estrada, com placa gigantesca, sem uma única árvore, enfim, é para ali uma coia. Uma vergonha, esta cidade, tipicamente terceiro-mundista.

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  2. Paulo,

    Já me fizeste rir hoje. Gostei dessa metida assim à má fila e que diz tudo: é o «pugresso».

    Está tudo dito, meu caro!

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  3. Já agora, Paulo: vê lá o que eu sofro todos os dias, no meu «posto de observação»...

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