03/10/2008

Em Lisboa ainda há um "recolher obrigatório depois das dez horas"


in Publico, 03.10.2008, Ana Nunes

Problemas de sempre em Lisboa fazem-se ouvir pelas freguesias de Alto do Pina, S. João e S. Jorge de Arroios. A câmara voltou a descer à rua para ouvir queixas

Lisboa tem muitas vezes "pior limpeza que outras capitais europeias", dizia o vereador Manuel Brito. Ao que parece, a dificuldade "poderá passar pelos pombos", ou por "uma questão cultural", atirou ainda o autarca. Ou pela falta de espaços verdes e pela degradação de jardins, ou mesmo por prédios degradados e insegurança nas ruas, retorquiram os (poucos) munícipes das freguesias do Alto do Pina, S. João e S. Jorge de Arroios, que acorreram, anteontem à noite, ao pavilhão do Casal Vistoso, às Olaias. Para ali foram convocados pela equipa de António Costa. A sexta sessão descentralizada da autarquia destinava-se a fazer ouvir todos quantos se inscreveram para apontar o dedo ao executivo camarário. E avançaram as explicações, a cargo do vereador do Urbanismo, Manuel Salgado. "Seria demagogia da nossa parte dizer que temos solução, se não a temos." Foi a deixa para a primeira sombra de desalento nos presentes.

Imóveis a cair
Naquelas freguesias (como em tantas outras da cidade), onde os edifícios vão caindo sem que os proprietários se responsabilizem, as queixas foram recorrentes sobre o estado dos imóveis, mas a CML apenas adiantou que não se pode substituir aos proprietários, que disse já ter notificado, aos quais já aplicou coimas. Expedientes que, parece, nada resolvem. "O que a CML pode fazer é exigir obras de reabilitação de oito em oito anos", aditou Manuel Salgado. Mas lá anunciou que a autarquia está a inventariar as queixas, as obras realizadas e estado dos edifícios. Nestes assuntos, justificou, "a pedagogia é necessária". Mas também não era aquilo que os munícipes queriam ouvir. Mais queixas das freguesias: estacionamentos caóticos, mobilidade reduzida, ruas sujas e com buracos - "isto é o cenário de guerra na cidade de Lisboa" -, a que se acrescentam ecopontos cheios, e até barracões que "representam risco para a saúde pública". Barracões que, quando ilegais e após impasses, têm pronta resposta do presidente da câmara. Costa disse que manda "demolir imediatamente". A mesma pronta solução que António Costa aponta para o caso de passadeiras que não existem junto a escolas. "Mais uma escola onde devia haver zebras e não há, aponte senhor engenheiro", desafiava prontamente o presidente.

Insegurança
Em S. Jorge Arroios, mais precisamente junto ao instituto Superior Técnico, dizem os moradores que a insegurança é problema. Crime e prostituição à vista obrigam a um "recolher obrigatório depois das dez horas", numa zona "completamente desqualificada e que tem piorado devido às obras", acrescentou o vereador Sá Fernandes à narração do munícipe. A solução irá passar pela requalificação desde a Gulbenkian à Rua Rovisco Pais e prometem-se para o ano "melhorias em todo aquele eixo". Houve insistência no tema, mas não houve réplica do presidente, forçado a sair a meio da reunião. E como é área da sua competência ninguém mais se pronunciou.A recuperação do Jardim Constantino, local "por onde não se pode passar, de manhã, à tarde ou à noite, pela pornografia e droga que ali têm lugar", foi pedida, e coube a Sá Fernandes lançar a data provável para a sua requalificação. "Talvez já lhe possa servir de inspiração em Junho de 2009", respondeu o autarca à escultora que denunciou a situação. A recuperação arranca em Novembro com uma intervenção nas zonas verdes, seguindo-se uma intervenção nos pavimentos e nos edifícios à volta, precisou o vereador, anunciando que terá cafetaria, esplanada, quiosque e sanitários. E depois Ana Sara Brito, vereadora para a Acção Social, dará uma mão ao jardim, pois disse que encaminhará os sem-abrigo que ali pernoitam "para outros centros de acolhimento, como o da AMI, o do Beato e o do Exército de Salvação". Um processo difícil segundo a vereadora. "Não podemos obrigá-los a sair de lá", justificou.

Fotos: "Imóveis a cair" e "Insegurança"; roubo de azulejos Arte Nova em plena luz do dia; Av. Casal Ribeiro, 1 (24 Fev. 07).

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