28/08/2009

Câmara analisa suspensão parcial do PDM para viabilizar hotel no quartel da Graça

In Público (28/8/2009)
Por Luís Filipe Sebastião

«Estado lançará concurso para a concessão hoteleira do antigo convento e quartel, com possibilidade de construção na parada, e a cidade ganha uma das maiores áreas verdes

O antigo quartel da Graça está mais perto de poder vir a ser transformado numa unidade hoteleira. A autarquia lisboeta discute na próxima semana uma proposta de protocolo, com o Ministério da Defesa, com vista à mudança de uso do espaço no Plano Director Municipal (PDM) e à cedência ao município da cerca e horta do antigo convento para criação de uma área verde de utilização pública.

O antigo Convento de Nossa Senhora da Graça e terrenos circundantes fazem parte de um perímetro militar, propriedade do Estado e afecto ao Ministério da Defesa Nacional. O conjunto arquitectónico, apesar de parcialmente classificado como monumento nacional, encontra-se em evidente estado de degradação, acentuada pelo abandono de grande parte das instalações. Em 2001, dos 7200 metros quadrados de área coberta do antigo convento, apenas cerca de 1200 m2 estavam ocupados. Actualmente ainda ali estão instalados alguns serviços do Exército e a intendência da GNR.

O presidente da autarquia, António Costa, vai levar à próxima reunião do executivo uma proposta de suspensão parcial do PDM na zona do quartel da Graça. Segundo o documento, o antigo aquartelamento está incluído em "área de usos especiais", o que inviabiliza a sua utilização para fins não militares, e não se revela "adequado" para a reabilitação do monumento. O Ministério da Defesa e a câmara reconhecem que, "complementando a rentabilização do quartel da Graça", os 26.000 m2 da cerca e horta do antigo convento "têm potencial para se tornar num espaço privilegiado de lazer, na sua vertente lúdica e cultural". O espaço será assim cedido ao município, com vista à fruição dos lisboetas e visitantes.

Abertura em Setembro?

A suspensão do PDM prevista no protocolo a firmar com o Ministério da Defesa, pelo prazo de três anos, visa alterar a área para "uso hoteleiro/turístico/cultural/social". O respeito pela antiga estrutura conventual, a demolição de construções dissonantes acrescentadas ao convento e das oficinas da parada, bem como a interdição de construção no logradouro da encosta a poente fazem parte das condicionantes impostas pela autarquia. Outras condições apontadas são a ocupação em cave para estacionamento com uso público da parada, mediante prévia avaliação arqueológica, e a recuperação da área verde com ligação entre o miradouro da Graça e a Rua de Damasceno Monteiro. O documento estabelece ainda que o reordenamento da parada, "com possibilidade de construção, fica condicionado a justificação técnica e à eventual deslocalização de actividades que ocupam espaços conventuais não integrados actualmente no prédio militar", desde que enquadrado nas regras do PDM.

O protocolo admite, desde logo, que, após a assinatura, a câmara pode avançar "com trabalhos de limpeza e desmatação da zona e posterior abertura ao público". O vereador dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes, adianta que a recuperação da cerca será "por administração directa", não acarretando grandes custos ao orçamento municipal. O autarca, que em 2000 moveu uma acção popular com vista à devolução do convento a Lisboa, salienta "o benefício para a cidade, que ficará com a maior zona verde no seu casco urbano".»

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"Houston, we have a problem."

Hotel ali não parece, à partida, problema. Mas é preciso MUITO cuidado com estas coisas. Os Inglesinhos estão aí, bem à vista de todos. Construção na parada?!!

Mais outra suspensão do PDM? Acabe-se com o PDM, então, de vez. Não foi o Sr. Vereador Sá Fernandes quem interpôs uma acção popular exactamente sobre o Convento e Quartel da Graça? Por um lado suspende-se o PDM e por outro acena-se com a horta e a cerca?

Num país decente, numa cidade decente, já aquele conjunto estaria ocupado por serviços públicos ligados à Cultura, que é do que estamos a falar, por exemplo. Escolas de artes e ofícios, sedes de organizações como a Orquestra Metropolitana de Lisboa, que possibilitassem a organização de espectáculos na parada, nas alas nobres.

6 comentários:

  1. O zé interpôs acção popular para isso mesmo, dar uso ao quartel e ao espaço verde.

    parece que conseguiu, mas de outra forma.

    afinal, aliar-se ao0 inimigo dá frutos.

    mantém os amigos perto, mas os inimigos ainda mais perto

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  2. Este tipo de situações são demonstrativas da incompetência de quem faz a gestão desta cidade.
    Decisões a vulso e descoordenadas prejudicam um desenvolvimento harmonioso.
    A recuperação de um conjunto urbano, inserido numa malha urbana historica e consolidadanão, não depende de regras índices ou factores numericos, artigos ou paragrafos mais ou menos elaborados por juristas convencidos de que são urbanistas.
    Este conjunto devido ao seu uso como quartel criou barreiras "urbanas", é necessário uma avaliação ao longo do seu perímetro e a libertar estas barreiras de modo a inerir harmoniosamente na malha.
    As eventuais alterações só devem ser permitidas caso mantenham a harmonia arquitectonica do conjunto.
    Devido as suas caracteristicas, tudo leva a creer de que a parada seria um eventual espaço deambulatorio. Construir neste espaço demonstram alguma incapacidade dos arquitectos pois não sabem recuperar edificios mas sim adicionar outros corpos estranhos "em contraste" com os edificios antigos.

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  3. A Câmara é pobre a pedir contrapartidas. Só pedem a antiga cerca do convento (que está completamente abandonada)?! Quem vai ganhar mais com esta operação será a empresa que ganhar o concurso para a exploração da unidade hoteleira de luxo.

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  4. É por coisas como esta que qualquer lista à CML que inclua o nome do Zé não terá de certeza absoluta o meu voto.

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  5. De saudar a inciativa de dar uma solução ao extraordinário convento da Graça, monumento nacional, e há anos em progressiva degradação graças à sua ocupação pelos militares que nem se transferiam para lá, nem saíam de lá. Partes do edifício sobreviveram ao terramoto de 1755 como a portaria da igreja da Graça e respectivo claustro do arquitecto régio João Antunes.
    Face à incapacidade financeira do poder central MC e MOP) em recuperar a portaria setecentista, contígua á igreja, esta bastante danificada pelo terramoto, a CML procedeu, em 2004, à sua recuperação com o apoio técnico da extinta DGEMN.
    Que se dê uma utilidade urgente a estes espaços mas que se preserve muito do património ainda ali existente.
    Não deixa de ser curioso o facto da Concordata de 1940 entre o Estado e a Santa Sé não ter devolvido à igreja os imóveis classifcados, nem os conventos que estavam a ser utilizados para fins públicos. Agora que os ditos conventos deixaram de ser utilizados para serviço público, não terá o Estado a obrigação de se entender com a Igreja em relação a estes bens que expropriou?
    José Rocha

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  6. Planeta Alfama6:53 da tarde

    É uma excelente iniciativa, por um lado os cidadãos vão beneficiar de um espaço verde no centro da cidade, por outro lado o espaço que está a ser utilizado para fins "militares" e que é um custo para todos nós pode transformar-se em mais um polo de desenvolvimento da Graça, completando uma lacuna evidente que é a falta de alojamento num bairro histórico com vistas maravilhosas mas que nem sequer aparece nos 10 locais mais visitados da cidade de Lisboa, apesar do eléctrico 28 ser visitado por milhares de turistas.

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