12/08/2009

Os girassóis, a ciclovia, o nó rodoviário e a Rua de Campolide

O que têm em comum uma plantação de girassóis, uma ciclovia, um nó rodoviário e a Rua de Campolide?
Todos juntos demonstram que, infelizmente, os poderes autárquicos em Portugal preocupam-se com mais frequência com obras de visibilidade do que com obras que facilitem a vida às pessoas.
Na imagem abaixo (centro e direita), vê-se a zona em que foram plantados os girassóis (não se vê as camadas de entulho cuja remoção custou 50.000 euros, mas isso deve ter sido há muito tempo...), vê-se a ciclovia que serpenteia até à Rua de Campolide, e não se vê o novo nó rodoviário que está ainda em conclusão.

Ora bem, consoante o dia em que se pergunta, a plantação de girassóis serviu para quinta pedagógica (para as crianças da única escola que foram lá. Uma vez...), para jardim (para ver de fora, porque está vedado), ou para produção de óleo alimentar (deve ser para confeccionar as ameijoas e berbigão que se criarão no Tejo, junto ao Terreiro do Paço).

A ciclovia serve para ligar o alto do Parque Eduardo VII ao Monsanto (já agora, espero que a ponte sobre a Av. Calouste Gulbenkian seja também pedonal e não apenas ciclável).

O novo nó rodoviário serve para "limpar" um ponto negro da face automobilística da cidade, e evitar o tempo que perdia quem vinha da Praça de Espanha para Campolide.

Também lá está a Rua de Campolide. Perto destas obras, mas longe do coração e dos projectos camarários. É que na cidade também se anda a pé, e andar a pé na Rua de Campolide não é fácil:

Na zona identificada pelo círculo vermelho, a distância entre o prédio e a "cerca dos girassóis" é de 10 metros. Do lado da cerca não há passeio, mas é utilizada para estacionamento. A estrada é larga, ou seja, cruzam-se ali - com dificuldade, mas cruzam-se - dois autocarros. Do lado dos prédios há um passeio. Esse passeio é tão estreito que, se alguém levar um saco de compras, tem de o pôr um pouco à sua frente. Nesse passeio passam constantemente pessoas.

Ora, não teria sido complicado, de entre o dinheiro que se gastou nos girassóis, na ciclovia e respectivo viaduto, e no novo nó rodoviário, "arranjar" algum que permitisse alargar este passeio na Rua de Campolide, eliminando o estacionamento "baldio" junto à cerca (são só meia dúzia de lugares) e manter a rua comportável para ser cruzada, ao mesmo tempo, por dois autocarros.
Mas desconfio que o facto de, no "ranking" de visibilidade de obras, o alargamento de um passeio para peões (que não prejudica absolutamente ninguém a não ser o tal estacionamento baldio), estar abaixo de um campo de girassóis, de uma ciclovia e de um nó rodoviário, implica se despreze este problema e a sua barata solução.

12 comentários:

  1. Muito bom post.

    De facto, deparamos em Lisboa, constantemente, com situações de simples e barata solução, mas o que os autarcas sistematicamente preferem é impressionar a pacovice, seja a que custo e idiotice fôr.

    ResponderEliminar
  2. Caro Nuno Santos Silva, já havia uns dias que não havia um post (seu) a dizer mal do Sá Fernandes. O vinagre com que rega as críticas torna-as turvas e incomestíveis. É pena, porque espírito crítico é bom, se construtivo e consequente...
    Fez-se uma ciclovia que ligará Monsanto ao Parque Eduardo VII - neste momento já liga Benfica à Av. Gulbenkian. Fez-se a ponte Pedonal e Ciclável sobre a Av. Gulbenkian. Fez-se um campo agrícola onde haviam previstos prédios de 8 andares, terreno ants atolado de entulho em camadas (alguma vez tinha visto o entulho? É que no GOOGLE não se via...) e para o qual foi preciso lançar uma empreeitada de limpeza. Foi lançada a obra de conclusão do corredor verde até ao Parque Eduardo VII, em que foi preciso alterar-se o PP que não previa corredor nenhum, enconstrar dinheiro, fazer projectos. E você, olhou à volta à procura de algo para dizer mal. Em Lisboa, há muita coisa para dizer mal, infelizmente, há muito trabalho para fazer. Que tal valorizar-se o que se faz?

    ResponderEliminar
  3. Caro DAM,
    eu não desvalorizei os girassóis (mas é verdade: ironizei sobre a indefinição quanto à sua função), não desvalorizei a ciclovia (até disse que esperava que o viaduto fosse também pedonal), e não desvalorizei o novo desenho do nó rodoviário da Calouste Gulbenkian/Campolide.
    Critiquei, isso sim, a vontade de obter visibilidade com obras caras num local em que há um problema para as pessoas cuja solução não será decerto demasiado onerosa.

    ResponderEliminar
  4. Caro Nuno Santos Silva,
    Ok, debaixo de tanta ironia e sarcasmo (até as ameijoas subiram a Campolide), fica uma chamada válida de atenção. Mas olhe, não há indefinição nenhuma na sua função: os girassóis darão lugar a trigo ou centeio, e a culturas agrícolas são uma forma muito barata de requalificar espaço público. O maior custo é mesmo preparar o terreno, daí para a frente o custo é minimo, ao contrário de se fazer um jardinzito típico. Mas este campo terá sempre um carácter experimental.
    Mas olhe, a requalificação da Rua de Campolide deve ser feita englobada na revisão do PP daquela área, que na versão que vi há uns anos simplesmente derretia o corredor verde. A Rua de Campolide, de uma ponta à outra, não tem coerência nenhuma e tem inúmeros problemas. Na subida para Campolide, o problema que refere de falta de espaço pedonal é crónico. Cumprimentos

    ResponderEliminar
  5. As ameijoas subiram a Campolide?

    Mas não foi o cromo do Sá Fernandes que veio em tempo falar desses e doutros moluscos no Tejo, coisa que só a um idiota completo poderia ocorrer?

    ResponderEliminar
  6. Anónimo, falou de ameijoas e de corvinas. Corvinas de 2kg tiram-se já em frente à torre de Belém e cada vez mais, porque as águas do Tejo estão mais limpas de ano para ano. Até golfinhos já vão entrando no rio. Ameijoas é às toneladas, mas estão inquinadas. Com o Tejo limpo, talvez um dia estejam comestíveis, mas será difícil a curto-prazo. Espero ter sido útil, não quero que fique ignorante nem idiota

    ResponderEliminar
  7. Espero que coma essas corvinas e que lhe assentem bem, assim como as ameijoas e o berbigão que por obra do Zé se apanharão frente a Lisboa como na Ria Formosa.

    Só faltou mesmo anunciar que dos cacilheiros se poderão ver baleias.

    Mas adianto já que só idiotas e imbecis arriscarão apanhar uma intoxicação de caixão à cova.

    ResponderEliminar
  8. As ameijoas não, anónimo-amargo, mas as corvinas não tem problema - entram com a maré e só andam em águas limpas. Olhe, essa das baleias é uma boa ideia. Mande-lhe um e-mail a sugerir! Para já só golfinhos, e às vezes, lamento. Mas não percamos a esperança...

    ResponderEliminar
  9. Viva

    Ou estou enganado ou esse troço da Rua de Campolide que vai desde a esquina do parque Zé Pinto até ao viaduto da Calouste Gulbenkian, troço com duas vias, deverá ser alargado para 4 vias após a demolição de alguns prédios em avançado estado de conservação, e aí nessa altura se ainda formos vivos, essa situação será resolvida.

    Mas realmente esse parque de girassóis não parece ter sido uma boa ideia nem sequer barato para os nossos bolsos.

    Cumps

    ResponderEliminar
  10. Adorei o post. É um sitio onde passo com muita frequencia e concordo com as criticas. Já agora acrescento que podiam deitar abaixo os predios abandonados da Rua de Campolide que ficam no quarteirão da Quinta do José Pinto e alinhar os prédios uns com os outros. É que aquela rua parece anarquica. Cada um construiu os prédios onde queria!
    É por isso que apesar de eu morar em Lisboa sou contra quem fala mal dos suburbios simplesmente por serem suburbios, quando em Lisboa não faltam casos identicos aos suburbios.


    Já agora acrescento que da pescaria do Tejo que tenho visto em Santa Apolónia e na Povoa de Santa Iria, a unica coisa que se apanha de jeito são robalos. De resto é só taínhas e charrocos. Um dos charrocos até tinha uma ratazana lá dentro.

    ResponderEliminar
  11. Este artigo do PUBLICO, aqui regado com ácido sulfurico, é extraordinário: Ora vejamos a equação: 1,5ha limpeza de terreno de entulho + 1,5ha de Campo de Girassois + 1,5ha Campo de Trigo, manutenção incluida (1 ano) + possibilidade de continuar a semear a baixissimo custo = 48.000EUR.
    Nem no Lidl, acreditem... quanto custaria 1,5ha de espaços verdes a preços convencionais, só construção? (aceitam-se valores; base = 500.000EUR)

    ResponderEliminar
  12. Aqui está um post que revela o que está mal em Lisboa. Pensa-se sempre no grande e nunca se resolve o problema efectivo local das pessoas. Pequenas obras fazem toda a diferença. Aqui penso que a culpa é da organização da câmara. Por muito que uma pessoa se queixe, apresente soluções, mexa-se nunca nada é feito. Na minha zona é o mesmo, a falta de estacionamento é grande mas bastava pequenos arranjos que se consegui logo mais lugares. Faltam árvores apesar de haver espaço, há excesso de ruído devido à via rápida aka AV. EUA que plantando umas árvores cortavam o baralho. São estas pequenas coisas que fazem a diferença, não as megas praças que dão votos mas não resolvem, os problemas reais. Vão para a rua, vejam, falem com as pessoas. Saíam dos gabinetes!

    ResponderEliminar