02/06/2010

Salgado promete afastar-se do terminal de cruzeiros se o seu ex-atelier vencer concurso

In Público (2/6/2010)
Por Ana Henriques


«Oposição quer explicações do vereador do Urbanismo de Lisboa, que entregou o seu atelier de arquitectura ao filho em 2007 para evitar incompatibilidades


O vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa, Manuel Salgado, promete afastar-se do processo relacionado com a construção de um terminal de cruzeiros de Santa Apolónia, caso o atelier de arquitectura que fundou, o Risco, e que está neste momento nas mãos de um filho, seja escolhido para elaborar o projecto.

A notícia de que o Risco ia concorrer à concepção do terminal foi dada ontem pelo jornal i, que recordava os compromissos assumidos por Manuel Salgado em 2007, antes de ser eleito vereador. Na altura, para evitar eventuais incompatibilidades e afastar suspeitas de tratamentos de favor, o arquitecto desvinculou-se do atelier. Mais: assegurou que enquanto estivesse em funções, o Risco não aceitaria "encomendas de promotores privados de projectos sujeitos a licenciamento ou autorização da Câmara de Lisboa". Acontece, como frisa Salgado, que o projecto do terminal é promovido pela administração portuária, e não por um privado - e que, precisamente por essa razão, não está sujeito a licenciamento camarário. "Quando muito, está sujeito a parecer não vinculativo da autarquia", explica o vereador. Por outro lado, um dos membros do júri que irá seleccionar o projecto é designado pelos serviços camarários de Manuel Salgado.

O caso está a causar algum mal-estar entre os partidos da oposição, que tencionam pedir explicações ao principal responsável pelo Urbanismo de Lisboa

"Isto era escusado. O vereador pôs-se a jeito", comenta o líder da bancada do PSD na assembleia municipal, António Proa. "É dúbio se está ou não a cumprir o compromisso que assumiu antes de se tornar vereador." O presidente da câmara não comentou o caso, alegando que tinha acabado de chegar do estrangeiro. Também não foi possível ouvir a vereadora Helena Roseta, do Cidadãos por Lisboa.

"A obra do terminal de cruzeiros terá de ser apreciada pelo município". observa por seu turno o vereador do CDS António Carlos Monteiro. "Por que razão é que Manuel Salgado alterou o compromisso de transparência que assumiu", questiona.

"Trata-se de um concurso de ideias completamente anónimo", contrapõe Manuel Salgado. Ou seja, não é suposto o júri conhecer a autoria dos trabalhos que irá apreciar. João Bau, do BE, não conhecia o caso. "Mas não fico admirado", observa.»

3 comentários:

  1. É muito ténue a linha que separa essas coisas, pelo que não vale a pena vestir o fato de moralista e condenar à partida. Assim como teria sido escusado fazer semelhante promessa (cujo cumprimento já se sabia não ser possível.
    Existirão certamente formas de salvaguardar uma decisão com isenção.
    Cá estaremos para julgar.
    Luís Alexandre

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  2. De promessas está o inferno cheio e infelizmente Manuel Salgado não oferece a mínima credibilidade.
    E quanto a concursos anónimos o melhor é mesmo estarem calados. Todos sabemos que a equipa de Jean Nouvel que era júri no concurso da expo foi premiada com o 1º prémio.

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  3. "Trata-se de um concurso de ideias completamente anónimo", contrapõe Manuel Salgado. Gosto desta parte final da notícia; parece que somos todos parvos e que acreditamos que as propostas conseguem amter o anonimato até à fase final de apreciação...

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